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DIA NACIONAL DO R´ÁDIO
Rádio no Brasil: paixão transmitida em ondas de radiofrequência
Rádios comunitárias exercem um papel importante para democratizar o acesso à informação
"O primeiro programa que eu lembro ter participado foi Vovó Odilon, na Rádio Tupi. Era um programa infantil, a gente cantava, tocava, tinha que fazer um número de arte. Quem era poeta chegava e falava uma poesia. No rádio, eu aprendi a me comunicar com mais ritmos", recorda a musicista. Doroty vivenciou a Era de Ouro do rádio brasileiro, que durou entre os anos de 1930 até o final dos anos de 1950. Esse foi o período em que o meio de comunicação se popularizou no Brasil, chegou aos lares levando entretenimento, com futebol, radionovelas e os famosos programas musicais.
Foi pelas ondas do rádio que Doroty ouviu soar o gongo de Ary Barroso – temido pelos aspirantes à carreira musical. Esse som anunciava, por todo raio de alcance da frequência, a desclassificação do calouro. Era o som que anunciava o fim – ou início – de um sonho. O gongo marcou Doroty . "Uma experiência que mudou minha vida? Foi quando Ary Barroso gongou a minha mãe! Eu tinha 7 anos e falei: juro para você que eu vou ser cantora, vou tocar meu tambor e você não vai me gongar ", revive.
Arte-educação na Rádio Comunitária - Não deu tempo de passar pelo rígido crivo de Ary Barroso (que morreu em 1964). Mas Doroty se apresentou em outros programas, seguiu os rumos da arte, da educação e da música, levou junto experiências e emoções que só o rádio é capaz de proporcionar. Passados tantos anos, essa caixinha que emite sons segue presente na vida dela. Em meados de abril de 2019, devido às medidas de isolamento social, decidiu levar para a Rádio Comunitária São Jorge as oficinas da "Turma que faz", um projeto de arte-educação desenvolvido há 17 anos na vila, por ela e pela Casa de Cultura Cavaleiro de Jorge.
"Perguntaram qual era a forma que eu ia continuar a nossa escola da 'Turma que faz' e eu falei: pelo rádio. A rádio é popular. A rádio está mais perto de mim e eu vou saber unir o tempo e os fatos", conta Doroty . Com apoio, conseguiram comprar aparelhos de rádio e distribuir para as crianças atendidas no distrito de São Jorge, que faz parte do município de Alto Paraíso (GO).
O programa vai ao ar de segunda a sexta-feira, apresentado pelos jovens da própria comunidade que já passaram pelo projeto. A cada dia uma nova temática é debatida, com leveza e criatividade.
Troca de saberes em tempo real - Sintonizadas na mesma frequência, crianças brincam de pintura, aprendem "trava-línguas", fazem alongamentos e tocam instrumentos musicais. Via aplicativos de mensagem, elas interagem mandando áudios e vídeos. Com o uso das tecnologias a troca de saberes acontece em tempo real. Beatriz Preuss , 8 anos, é uma das crianças que participa da "Turma que faz" — e não perde por nada a programação da rádio comunitária: "quando eu acordo, eu coloco a rádio para carregar e vou fazendo as outras tarefas. Às 9 horas eu já ligo, não quero perder a oficina porque eu gosto de participar. É divertido".
Além de levar encantamento às crianças, a rádio do vilarejo de São Jorge une toda a comunidade (que tem cerca de 700 habitantes). Por meio da emissora, moradores obtêm informações importantes, a exemplo dos alertas para a vacinação ou sobre a previsão do tempo na região. "As próprias pessoas da localidade produzem conteúdo; o pessoal da saúde, do mercado, os pousadeiros, cada um vem aqui e conta a sua história. Assim, acontece a magia. É como se fosse uma grande reunião e todo mundo participasse. Todo mundo entrega por amor, por vontade, pela comunidade", compartilha Luís Felipe, 32 anos, morador de São Jorge.
Democratização da comunicação - De acordo com o secretário de Radiodifusão do Ministério das Comunicações ( MCom ), Maximiliano Martinhão , as rádios comunitárias exercem um papel importante para democratizar o acesso à informação. "O Brasil tem mais de 5,5 mil municípios, com diversidade no tamanho dessas populações e características dessas cidades. Então, as rádios comunitárias preenchem uma lacuna que as comerciais e educativas não conseguem preencher", justifica.
Texto: ASCOM | Ministério das Comunicações • Fotos: Pablo Le Roy/MCom