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SEGUNDO EPISÓDIO
Controle de vacinas, óculos de realidade aumentada, crachás com chip: IoT’s marcam uma nova Era na indústria e na medicina do Brasil
No primeiro episódio da Série IoT (“Internet das Coisas”), mostramos que tudo está interligado: computador, celular, relógio ou SmartTV aplicados em eletrônicos como a geladeira, o micro-ondas, o fogão e o carro. Aprendemos ainda que os objetos são programados para tomar decisões sozinhos, gerar alertas e ligar ou desligar outros equipamentos por meio de inteligência artificial ou ainda por comando de voz.
Agora, imagine quantas possibilidades podemos ter na indústria, revolucionando a cadeia produtiva das empresas; e, na medicina, no acompanhamento de pacientes que fazem tratamentos, terapias e cirurgias delicadas; na organização da logística de entrega de medicamentos em unidades de saúde e nos hospitais; no monitoramento e na administração de insumos hospitalares e, até mesmo, aplicado em campanhas de vacinação. Isso tudo é possível e já existem aplicações nesse sentido.
O exemplo mais próximo é o da startup brasileira Sensorweb, que decidiu apostar em uma solução tecnológica para evitar perdas no transporte e no armazenamento de medicamentos, insumos, materiais biológicos e vacinas, como o imunizante contra o coronavírus. Embora a preocupação com a eficácia das vacinas e o cuidado no transporte de imunizantes tenham entrado em evidência durante a pandemia da Covid-19, a saúde brasileira já olha para essa questão com sensibilidade há muito mais tempo.
No mercado desde 2009, uma solução criada por uma startup brasileira já conta com mais de 6 mil sensores instalados em laboratórios de pesquisas, pontos de distribuição, e em câmaras de resfriamento de hospitais, clínicas e unidades de saúde, além de caminhões de transporte. A ideia da tecnologia é controlar a temperatura do ambiente para o pleno acondicionamento dos insumos e evitar as perdas comuns no estoque e transporte dos insumos hospitalares.
“O sensor é configurado com uma série de níveis de alertas. No momento em que a temperatura ou a umidade foge dos padrões exigidos, o sensor envia um sinal visual ou sonoro pelo app, via SMS, ligação ou mensagem no celular para o responsável que faz o controle. Com as informações em mãos, a equipe responsável consegue analisar, identificar e corrigir o problema a tempo de evitar qualquer perda ou danos aos insumos, proporcionando uma melhoria na manutenção e nas rotinas operacionais da “cadeia do frio” como um todo”, explicou o CEO da Sensorweb, Douglas Pesavento.
O equipamento ajuda, há mais de três anos, o Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP), que realiza mais de 1,7 milhão de testes moleculares todos os anos para o controle de sangue do Sistema Único de Saúde, o SUS. Parceiro da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em alguns projetos no estado do Paraná, o IBMP atua no desenvolvimento tecnológico, na inovação e na produção industrial de soluções para a saúde. A solução reduziu a zero as perdas de medicamentos, insumos e testes de Covid-19.
“As perdas dos nossos insumos hospitalares giravam em torno de 20%. A equipe fazia o acompanhamento de forma manual, todos os dias, com rondas na câmara fria a cada quatro horas. Hoje, a gente faz esse monitoramento 24 horas por dia, sete dias por semana. E, quando ocorre algum problema no departamento onde estão armazenadas as vacinas, é possível tomar algum tipo de ação de forma preventiva para dar uma resposta rápida evitando perdas e garantindo a integridade do produto em si”, destacou Wesley Rodrigo Costa, coordenador de engenharia e manutenção do IBMP.
As perdas dos nossos insumos hospitalares giravam em torno de 20%. (...) Hoje, a gente faz esse monitoramento 24 horas por dia, sete dias por semana. Reduzimos as perdas a zero" – Wesley Rodrigo Costa, coordenador de engenharia e manutenção do IBMP.
A pandemia da Covid-19 no mundo trouxe à tona a necessidade de uma saúde cada vez mais digital. Isso porque os dispositivos alimentados com sensores e combinados às tecnologias com Internet das Coisas, bem como sistemas compostos por Inteligência Artificial, permitem que profissionais de saúde tenham informações e, o mais importante, previsibilidade que aumentam a eficiência e reduzem erros.
Tecnologias como essas aplicadas à rotina em UTI’s respiratórias ajudam equipes de saúde na recuperação de pacientes com Covid-19, por exemplo, há mais de um ano. Um software inovador criado pela startup brasileira veio para mudar a forma como hospitais e clínicas realizam terapia intensiva.
A plataforma automatiza atividades das UTIs e otimiza o trabalho dos profissionais de saúde com a criação, alimentação e análise de dados de prontuários em tempo real. Além disso, o sistema faz uma análise e dispara alarmes que levam em conta os riscos do paciente e plano de cuidados. A solução minimiza ainda o contato com os internados, evitando o contágio, já que uma das premissas da solução é o monitoramento remoto de pacientes.
A aplicação captura e transfere os dados aos prontuários dos pacientes como atividade respiratória, batimentos cardíacos e saturação de oxigênio, eliminando todo o processo de cadastro manual de dados e mitigando erros. Isso economiza muito o tempo dos enfermeiros que vão conseguir fazer um trabalho muito mais assistencial ao paciente.
Há ainda outras inúmeras soluções em IoT na área da saúde como, registros digitais de exames, marca-passos cardíacos digitais e conectados, monitoramento contínuo inteligente de glicose (CGM), sensores ingeríveis, lentes de contato médicas inteligentes, tecnologia digital em pacientes com depressão e monitoramento da evolução dos sintomas de Parkinson. Ao final desta reportagem, você terá acesso a um infográfico sobre o impactado positivo dessas tecnologias na rotina hospitalar.
Da saúde para as indústrias. Você certamente deve ter estudado no colegial sobre a 3ª Revolução Industrial, aquela Era marcada pelo surgimento das tecnologias com posição de destaque para a robótica, a genética, a informática, as telecomunicações e a eletrônica. Hoje, a realidade da indústria é outra. Com a chegada da internet, processos que já existiam passaram a ser automatizados e ficaram ainda mais rápidos.
"Existem diversas formas de aplicações de IoT's na indústria e elas vão desde sistemas de verificação de embalagens de enlatados até sistemas de inteligência artificial que monitoram cada produto que sai da linha de fábrica. Na prática, são sistemas adicionais, mas com custo muito baixo e que minimizam muito o impacto de erros na produção. Então, as IoT’s são essenciais por esse ponto de vista”, disse Aleksandro Montanha, diretor executivo da Allk, All Knowledges Company.
Um dos propulsores para que o surgimento de novos dispositivos ocorra é a chamada lei de incentivo à Internet das Coisas, sancionada pelo Governo Federal em dezembro do ano passado. A medida reduz a zero alguns tributos incidentes sobre dispositivos com essa tecnologia. A expectativa é que isso estimule startups brasileiras a criarem novas soluções de IoT para o país nos próximos anos, impulsionadas pela chegada do 5G.
“A gente vai se igualar ao restante do mundo com relação à Internet das Coisas. Quando um investidor quiser fazer negócios aqui, ele vai levar em consideração que o país não cobra um tributo que nenhum outro país cobra. Isso faz toda a diferença”, avaliou o secretário-Executivo do Ministério das Comunicações, Vitor Menezes.
Na indústria, a busca por ampliar a capacidade de automação com o menor investimento possível tem gerado uma corrida por soluções de IoT. Mais acessíveis devido ao baixo custo comparando com soluções de prateleira, sistemas auxiliares têm resolvido problemas que, até então, eram apenas possíveis de serem resolvidos por equipamentos extremamente complexos e geralmente com valores de compra, implantação e operação muito altos.
Aplicações de realidade aumentada, usando óculos e outros dispositivos conectados ao ambiente das fábricas, têm permitido grande avanço em diversos segmentos, tornando as empresas mais ágeis, seguras e otimizadas. Podemos citar como exemplo, a aplicação da realidade aumentada para auxiliar funcionários a tomarem decisões em operações críticas.
Outras aplicações para verificação de segurança são possíveis graças à conectividade e interoperabilidade de sistemas propiciados pela essência do IoT. “Imagine um funcionário em frente a um painel de comando com várias combinações de ações que devem ser tomadas imediatamente e ele está com dúvida. Com um comando de voz, ele (o funcionário) aciona um especialista que o orienta por áudio e executa ações que são projetadas óculos de realidade aumentada em tempo real, explicou Aleksandro Montanha.
Com um comando de voz, ele (o funcionário) aciona um especialista que o orienta por áudio e executa ações que são projetadas nos óculos de realidade aumentada em tempo real – Aleksandro Montanha, diretor executivo da Allk, All Knowledges Company.
Na indústria do transporte e da logística, as aplicações estão bem mais avançadas e o país tem uma frota significativa com tecnologia nas estradas. Segundo Braulio de Carvalho, CEO da Denox Tecnologia, há aplicações em IoT desde o embarque da carga (com “iscas” que acionam a central quando há suspeita de furto ou roubo) até sensores que identificam as condições físicas e de saúde do condutor do veículo, que indicam níveis de fadiga, preveem problemas de saúde e uso de celular.
Sem falar do monitoramento de trabalhadores que atuam em minas de ferro e em grandes obras, como as de prédios. Uma tecnologia desenvolvida pela companhia monitora em tempo real onde os trabalhadores estão, inclusive quando a operação ocorre abaixo do solo, em minas subterrâneas. Os crachás utilizados pelos trabalhadores possuem botão de pânico e alerta de emergência.
“É possível acompanhar por geolocalização o local exatamente onde estão, em qual andar e em qual posição se encontram. É possível saber ainda se estão em área autorizada ou entraram em um perímetro não permitido. Conseguimos ver também nível de aglomeração e até rastrear contato em caso de algum positivo de Covid-19. São inúmeras as aplicações”, contou Braulio de Carvalho, CEO da Denox Tecnologia.