Recursos naturais: teorias, práticas científicas e conhecimentos tradicionais
Resumo
Este projeto objetiva fazer uma história social das teoriase práticas científicassobre recursos naturais, relativas, de um lado, ao meio ambiente e, de outro,a culturas sociais e conhecimentos, originalmente de uso das populações indígenas. Dá relevo àspráticas que ciências, tais como a botânica, a química ou a etnologia, aplicam ao meio e às relações que empreendem com a produção de conhecimentos tradicionais. O período da análise abrange o século XX, notadamente o período compreendido entre a 1ª Guerra Mundial até as décadas imediatas à 2ª Guerra Mundial, quando emergiu a ecologia e os conhecimentos tradicionais começavam a ser vistos como racionalidade própria de um grupo social. Significativo desse fato foi o surgimento da preocupação em legislar sobre as populações indígenas, com a finalidade de integrá-las à nacionalidade, porém, inicialmente, na condição de tutelados e aculturados. Desde a criação do Serviço de Proteção aos Índios (SPI), em 1910, até a recente legislação sobre patrimônio genético – Convenção sobre a Diversidade Biológica (CBD), estabelecida na reunião das Nações Unidas realizada no Rio de Janeiro, em 1992, com o objetivo de assegurar a diversidade biológica, utilizar de forma durável seus elementos e dividir de forma equitável as vantagens decorrentes da exploração dos recursos genéticos – quantas mudanças teriam ocorrido na definição e no lugar social ocupado pelos detentores dos conhecimentos tradicionais e pela sua sustentabilidade material?
A pesquisa analisa a prática dos cientistas no contexto material e social da sua ação, bem como as condições de produção de ciências, com ênfase na etnologia, na botânica,na química, com um foco sobre os conhecimentos e uso local dedados produtos naturais. A análise permite interpretar as transformações temporais das relações estabelecidas entre cada um desses campos de saber com as culturas tradicionais.
Sendo a Região Amazônica o nicho mais significativo das relações científicas entre culturas diferentes, no Brasil, é a região privilegiada, mas não exclusiva dessa pesquisa. Em última instância, o projeto trata da história das relações entre diferentes culturas e da construção de conhecimento e suas implicações sociais. Alinha inquietações científicas atuais que, trazidas do passado, hoje constituem a fronteira da busca pela sustentabilidade ambiental.
Essa pesquisa iniciou ainda no doutorado da pesquisadora, quando tratou da história dasrelações entre agricultura e ciências naturais durante o período do Império Brasileiro. É resultado de amplo levantamento de dados documentais em arquivos da Europa, Estado Unidos e do Brasil, sobre ciências naturais e exploração do meio ambiente, sobretudo na Amazônia. Foram realizados trabalhos, em parceria internacional, sobre a história do Instituto Internacional da Hiléia Amazônica, enquanto um projeto da UNESCO no Brasil, apresentados em congressos internacionais e publicados em periódicos do país e do exterior. Foi publicada a coletânea História das substâncias naturais - Saberes Tradicionais e Química / Amazônia e América Latina, numa coedição MAST e IRD (Institut de Recherche pour le Développement) da França, uma parceria com colegas, também, franceses. Mais recentemente foi realizado um estudo sobre a história da borracha no Brasil, mostrando a ampla e invisível participação dos conhecimentos tradicionais, na ciência "oficial".
Como parte dessaspesquisascabe destacar o estudo sobre A história do darwinismo no Brasil,incluído no projeto internacional História do Darwinismo na Europa, Caribe e América Latina, gerido por um grupo de historiadores das Ciências do CSIC, Espanha e da Faculdade de Ciências Biológicas da UNAM, México. Os resultados desse trabalho têm sido apresentadosem congressos internacionais que se realizam periodicamente em diferentes países, dos quais resultampublicações relevantes. Já são, pelo menos, oito trabalhos publicados sobre a repercussão da teoria da seleção natural nas ciências do Brasil.Os livros,sãofeitos em coedição com os países realizadores dos congressos e o grupo gestor.No Brasil, a coletânea resultou do congresso realizado em Manaus, em 2004, organizada por:
Domingues, Heloisa Maria Bertol Domingues, SÁ, Magali Romero, PUIG-SAMPER, Miguel Angel, RUIZ, Rosaura,Darwinismo, Meio Ambiente, Sociedade, Rio de Janeiro, MAST, FIOCRUZ e CSIC, Espanha e UNAM, México, 2009.
DOMINGUES, Heloisa Maria Bertol, SÁ, Magali Romero, GLICK, Thomas, A recepção do darwinismo no Brasil. Rio de Janeiro, Editora Fiocruz, 2001.
Dentre os vários capítulos de livro, sobre esse tema, o último foi o seguinte:
DOMINGUES, Heloisa Maria Bertol e SÁ, Magali Romero, Controvérsias de A Origem das Espécies no Brasil: Fritz Muller e Louis Agassiz, in SALAS, José Alfredo Uribe, PUIG-SAMPER, Miguel Angel, ZAVATA, Maria Teresa Cortês Orgs., Jurhenani darwinista: reflexões sobre el evolucionismo em Morelia. México, Universidade Michoacana de San Nicolas de Hidalgo; Faculdade de História, UNAM, Red Internacional de História de la Biologia y laEvolución, Sillavacia Editorial, -1 – 466 p.; p.213-242. ISBN 978607542209
Equipe
Heloisa Maria Bertol Domingues (coordenadora); Colaboração com a Equipe do Programa Nova Cartografia Social da Amazônia, UFAM, UEMA, Manaus, AM, São Luis, MA.