Pesquisador do MAST lança livro sobre físico Jayme Tiomno
Engenheiro químico, doutor em Comunicação e pesquisador titular do MAST, Alfredo Tolmasquim lançou mais um livro em outubro, na sede do Centro Brasileiro de Pesquisa Física (CBPF). "Entre partículas e buracos negros: Jayme Tiomno e a implantação da física" é um livro assinado por Alfredo e pelo professor de física da Universidade de Berlim, William Dean Brewer. A Comunicação do MAST conversou com o autor:
Pergunta - Fale sobre o livro, o personagem e o período da perseguição política que Jayme Tiomno sofreu durante a Ditadura.
Resposta - Jayme Tiomno foi um dos principais físicos brasileiros do século XX, atuando na área da física teórica. No início da carreira, no final dos anos 1940 e início dos 50, deu importantes contribuições para entender o mecanismo que mantinha o núcleo do átomo unido. Ele previu a existência de novas subpartículas e ajudou a compreender as forças que agem sobre estas subpartículas, que, hoje, são denominadas de Modelo Padrão das Partículas Elementares. No final da década de 1960 e início da década de 1970, ele voltou seu interesse para a física dos buracos negros, ajudando a explicar a dinâmica dos buracos negros. Ele conviveu com os grandes físicos de sua época, muitos deles merecedores do prêmio Nobel de Física. Ele, inclusive, foi indicado para o prêmio Nobel de 1987.
Em termos institucionais, Tiomno participou ativamente da consolidação do campo da física no Brasil. Ajudou a fundar o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, foi professor da Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil (atual UFRJ), criou o grupo de física-matemática da USP, foi o primeiro diretor do Instituto de Física da UnB, trabalhou por 7 anos na PUC-RJ e ajudou na criação de grupos de física na UFRGS e na UFBA, entre outros. Fora isso, foi diretor do Setor de Física do CBPF e um dos criadores da Sociedade Brasileira de Física.
P - Jayme Tiomno foi o terceiro brasileiro da história a fazer doutorado em Física. Fale sobre isso!
R - William Brewer, físico alemão aposentado da Freie Universität, foi quem teve a ideia de fazer uma biografia de Tiomno. Ele morou algum tempo no Brasil e conhecia seu trabalho e achava que era pouco conhecido e reconhecido em função da importância que teve para a física mundial e, em especial, a brasileira. A ideia é que o livro fosse publicado pela Springer, uma das mais respeitadas editoras científicas do mundo, na coleção Scientific Biographies. Ele, então, me convidou para escrever o livro junto com ele.
Sim, o primeiro físico a receber Ph.D. foi José Leite Lopes, em 1946. A segunda foi uma mulher, Sonja Ashauer, em 1948, e, finalmente, Tiomno completou o seu em 1950. Ele e sua esposa, a também física Elisa Frota-Pessôa, são considerados pioneiros da física no Brasil. Os arquivos pessoais de ambos foram doados ao MAST e se encontram disponíveis para consulta.
P - São quantos livros publicados por você e pelo William Dean Brewer?
R - A versão em inglês foi publicada em 2020 sob o título "Jayme Tiomno: a life for science, a life for Brazil". Resolvemos, então, fazer uma edição em português para atingir o público brasileiro. Aproveitamos para incluir resultados de pesquisas e documentos encontrados após a publicação da versão em inglês. Assim, podemos dizer que a versão brasileira, publicada em 2024 pela Editora Livraria da Física, é uma versão revista e ampliada.
P - Fale sobre o período em que Tiomno foi compulsoriamente aposentado pela ditadura e os males que uma medida tão violenta pode provocaram em sua vida.
R - Apesar de Tiomno não ter uma atividade político partidária, ele via a ciência e a educação como formas de promover o desenvolvimento tanto econômico como social do Brasil. Em 1964, após o golpe civil-militar, ele foi incluído num Inquérito Policial Militar, que objetivava investigar a presença de uma célula comunista dentro da Faculdade Nacional de Filosofia. Foi comprovado que tal célula não existia e todos foram inocentados, com exceção do ex-diretor da FNFi, Eremildo Viana, que havia sido o autor da denúncia. Contra ele, foram encontrados elementos que mostravam um mal uso de dinheiro público. No ano seguinte, no período em que era diretor do Instituto de Física da UnB, se demitiu junto com outros 110 professores contra a demissão injustificada de professores e a intervenção militar na Universidade. Em 1969, foi aposentado compulsoriamente da USP, onde estava trabalhando e, pouco depois, demitido do CBPF, instituto que tinha ajudado a criar. Ele entrou num processo de depressão profunda e conseguiu se recuperar após um período na Universidade de Princeton, onde voltou a desenvolver suas pesquisas. Em 1980, com a anistia, ele foi reincorporado ao CBPF, onde trabalhou até o final de sua carreira. Tiomno faleceu em 2011.