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Físico e ex-diretor do MAST ganha homenagem internacional
O físico brasileiro Henrique Lins de Barros mereceu uma distinção e tanto. Após debruçar-se por 40 anos sobre o estudo de uma bactéria presente na Lagoa de Araruama, o diretor do MAST no período de 1992 a 2000 recebeu uma homenagem que enche de orgulho todo o mundo científico: seu nome batiza um novo organismo multicelular: a Bactéria Multicelular Magnetoglobus (MMB). A homenagem foi feita pelo professor Rolhand Hatzenbichle. Assim, a Bactéria Multicelular Magnetoglobus passa a se denominada "debarossi", em referência ao 'de Barros'. Modesto, ele brincou: "pois é! Virei nome de bactéria!" E ele dividiu a honraria com outros colegas de atividade. Mas esta não é a única distinção da vida do físico. Henrique Lins de Barros é também especialista na história do Pai da Aviação, o brasileiro Santos Dumont.
O MAST conversou com o homenageado:
MAST - Como o senhor se sente após merecer rara deferência do mundo científico?
Resposta - Surpreso. Nenhum de nós que constituiu um grupo para estudar microrganismos magntetotáticos esperávamos a homenagem. Ou seja: microrganismos que produzem nanocristais magnéticos e se orientam ao campo magnético terrestre. São bússolas microscópicas que usam o campo terrestre para se orientarem no meio aquoso. Richard Frankel, na época no MIT, esteve no Brasil a convite de Jaques Danon e nos mostrou um filme dos organismo feito com Richar Blakemore.
M - Para um cientista e pesquisador, ter o reconhecimento 40 anos depois de iniciado um trabalho é também um legado que servirá de inspiração para outros cientistas. Como foi o início da pesquisa?
R - Nós começamos a observar em microscopia ótica. Inicialmente usamos os microscópios Leitz que eram usados pelo grupo de Cesar Lattes para a emulsão de chapas. Coletamos águas de diversos locais: Lagoa Rodrigo de Freitas, Jardim Botânico, Araruama e outras lagoas do Rio de Janeiro. E começamos a observar microrganismos diferentes. E aos poucos o grupo aumentou: com Darci Mota do CBPF, Marcos Farina, da UFRJ. E entramos com a microscopia eletrônica. Vieram então Ulisses Lins, Carolina Kem e Fernanda Abreu da UFRJ entre outros. No início foi essencial trabalhar em conjunto com biólogos e microbiologistas...
M - A bactéria "Debarossi" é própria da Laguna de Araruama. Por qual razão o senhor se dediciou a este estudo? Tem uma relação pessoal com os municípios do entorno da Lagoa? Outras regiões salinas do mundo, como os mares Morto e Aral, têm alto grau de salinidade. Há chance de que bactérias semelhantes sejam ali encontradas?
R - Coletávamos amostras em todos os locais que íamos. E Araruama passou a ser um local de fácil acesso. Dava pra ir de carro e vislumbrar a magnífica paisagem. Após publicarmos alguns trabalhos, outros grupos começaram a trabalhar no mesmo assunto. E a rede de colaboradores aumentou. Coletas em outros países não era possível, pois necessitávamos de recursos e tempos que nem sempre temos. Mas, sim. Há outros organismos e em vários locais.
M - Qual a mensagem que o senhor deixa para novos e futuros cientistas brasileiros?
R - Ler muito sobre vários assuntos. Ouvir e falar sobre as ideias que estão em você. Saber ouvir e avaliar. E ter muita paciência.