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Conservadores-Restauradores do MAST à espera da regulamentação da profissão
O trabalho diário contra fenômenos naturais e pragas que agem contra a preservação de objetos raros, especialmente o papel, nos arredores do MAST, não é a única batalha que Conservadores-Restauradores enfrentam no dia-a-dia. Há anos eles tentam também a regulamentação de uma atividade que é fundamental para o desenvolvimento da pesquisa e a conservação e restauração de bens históricos do país. O Projeto de Lei o 1183/2019, que trata do tema, está em trâmite no Congresso nacional e há grande expectativa da categoria pela sua aprovação e sanção do presidente Lula.
No MAST, a atividade está a cargo de dois profissionais: Alessandro Wagner Alves Silva e Ozana Hannesch. Enquanto ele trabalha também no controle de pragas que agem contra a integridade de documentos, Ozana atua especialmente no restauro e conservação. Assim, a perfeita adequação do ambiente para que evite a proliferação destas pragas é fundamental para o êxito do trabalho: controle da luz, poluição, umidade, temperatura, acondicionamento do material e combate aos insetos.
No MAST, desde sua fundação, em 1985, há um rico acervo destinado à pesquisa em forma de centenas de milhares de papéis. E são documentos raros, alguns datados do início do século XIX.
Alessandro diz que um dos instrumentos que auxilia nesta luta contra as pragas são os Sentricom. São 370 unidades do equipamentos enterradas em torno dos prédios. Em forma de cápsula, eles contém duas madeiras de pinus que atraem cupins.
Instalados a uma distância de 3 metros um do outro, eles denunciam a presença destas pragas quando devoram as madeiras de pinus. A partir daí são colocadas uma substância "comestível" à base de hormônio que será consumida pelo inseto invasor. O efeito é fundamental para controlar a ação das pragas.
Regulamentação da Profissão
Se a guerra contra as pragas tem sido rotineiramente vencida, uma outra batalha parece finalmente acenar para o fim: a regulamentação da profissão conservação e restauração. Trabalhando no museu praticamente desde a sua fundação, Ozana Hannesch, que entrou como estagiária em 1986 (um ano após a instituição do MAST), lembra que está nas mãos do Congresso Nacional o reconhecimento legal da atividade que é a base de estudo para professores, historiadores, pesquisadores, museólogos e outros profissionais dos ramos da Educação e Cultura:
- Ainda vêem nossa atividade como complementar. Entretanto, documentos em papel, objetos de artes e bens integrados, que ajudam a contar histórias, exigem qualificação para a conservação e restauração. Sem eles, o conhecimento, instrumento fundamental para o futuro, passa a correr perigo - revela.
No texto do PL há uma advertência definitiva: "(...) uma restauração feita sem a técnica adequada pode causar danos irreparáveis ao patrimônio cultural e artístico. Basta lembrar da tentativa de restauração amadora do afresco "Ecce Homo" do artista espanhol Elias Garcia Martinez. O resultado foi desastroso e a obra arruinada se tornou notícia em todo o mundo(...)".
O projeto de Lei 1183/2019 foi apresentado pela deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL/RS).
O curso de formação está disponível nas universidades federais de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pelotas e Pará. Há também um curso técnico em Ouro Preto - um dos principais pólos da atividade no país pela riqueza de obras barrocas. O PL atualmente está na Comissão de Constituição e Justiça.
Dia do Restaurador
Mas não é apenas por conta do acúmulo de vitórias sobre pragas urbanas ou por questões profissionais que a gente fala sobre os restauradores do MAST. Neste sábado, dia 27, os dois profissionais estarão lembrados no calendário: 27 de janeiro é o Dia Nacional dos Restauradores e Conservadores do país.
Alessandro, há 14 anos no MAST, revela com orgulho que a paixão pela atividade começou ainda na sua cidade natal, Salvador, quando estudava para se tornar um Beneditino. Foi lá, num dos mais tradicionais mosteiros do país, que um abade o sensibilizou para a importância de trabalhar na recuperação de objetos históricos: "orai e trabalhai", versava o mantra dos seus iguais. E, mesmo distante do celibato, ele executa diariamente nos arredores do museu esta missão.
Acompanhe aqui o Projeto de Lei que tenta regulamentar a profissão de Restaurador/Conservador no país.