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Luiz Pinguelli Rosa: físico faria 82 anos
Físico carioca, Luiz Pinguelli Rosa estaria fazendo 82 anos. Mas dois anos após sua morte, ele terá parte da sua história guardada a partir do acervo cedido no ano passado pela família à Coordenação de Documentação e Arquivo do MAST.
Pinguelli Rosa carregou até o último momento de vida a defesa de princípios que nortearam sua trajetória como físico: a crença de que as ciências deveriam estar comprometidas com causas sociais e a necessidade do Brasil desenvolver seu campo energético de forma sustentável e sem agressão ao meio ambiente.
Aluno do Pedro II e mais tarde oficial militar, com passagens nas renomadas AMAN e IME, ele abandonou a farda, logo após o golpe de 1964, para seguir carreira no mundo científico.
A ruptura com o Exército se deu após responder a um Inquérito Policial Militar por ter criticado publicamente a deposição do presidente democraticamente eleito, João Goulart. Ele chamou de "golpe" o que, no meio militar, denominavam "revolução".
A migração para o ambiente civil permitiu que fizesse pós-graduação em Ciência e Tecnologia Nucleares da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em 1969 virou professor assistente em Engenharia Nuclear e, em meados da década seguinte, em pleno governo Geisel, opôs-se ao acordo nuclear Brasil-Alemanha, apontando seus perigos ambientais e os riscos de corrupção. Sua posição coerente lhe rendeu processos e desgaste político.
Pinguelli foi eleito cinco vezes diretor da Coppe, onde teve atuação proativa, participando da construção de propostas em áreas sensíveis ao interesse nacional, em particular no campo energético.
Para além de seu brilhantismo como acadêmico e gestor, Pinguelli sempre teve intensa participação política, sempre em defesa da democracia e da soberania brasileira. Nesse prisma, inscrevem-se suas participações na luta pelo impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello e no apoio entusiasmado à campanha de combate à fome comandada por Herbert de Souza, o Betinho.
Publicou oito livros, que tratavam de temas diversos, desde filosofia das ciências a meio ambiente. Num deles, "Tormentas Cariocas", propôs, ao lado de outros 40 especialistas, soluções que reduzissem os efeitos das chuvas e alagamentos no Rio de Janeiro, trabalho infelizmente não devidamente valorado pelos governantes da cidade.
No âmbito federal, foi das primeiras vozes a apontar a crise energética na virada do milênio, alertando para os riscos de uma matriz energética dependente das hidrelétricas em cenário de estiagem. Fruto de seu vasto conhecimento na área assumiu, no primeiro governo Lula a presidência da Eletrobras quando desenvolveu o programa "Luz Para Todos" - retomado na atual gestão.
Mas sua firmeza de convicções sempre lhe trouxe embates no campo político, que lhe devolviam às salas de aula. Mas, independente de sua esfera de atuação, Pinguelli sempre atuou planejando ações para um país melhor, tendo sido uma mente inquieta e produtiva até o fim da vida.
Na vida familiar, Pinguelli Rosa foi casado com a professora Mariza Lomba, mãe de seus filhos Luiz Fernando e Luiz Eduardo, e depois com a engenheira Suzana Khan Ribeiro, com quem teve Leonardo.
O MAST e o arquivo pessoal de Luiz Pinguelli Rosa
Após sua morte, em 03 de março de 2022, a família doou parte do seu acervo ao MAST. São documentos de pesquisa, relatórios técnicos, fotografias, placas e homenagens. A doação ao MAST foi sugerida à família pela Ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos.
Dentre os documentos do acervo, destaca-se o diploma concedido aos participantes do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), da ONU, pelo Instituto Nobel, em virtude do prêmio Nobel da Paz do ano de 2007 concedido ao Painel. Pinguelli Rosa foi ainda membro do Conselho do Pugwash, entidade fundada por Albert Einstein e Bertrand Russel, uma organização internacional que congrega professores e personalidades públicas com o objetivo de reduzir a ameaça de conflitos armadas e procurar soluções para a segurança global.
O coordenador de Documentação e Arquivo do MAST, José Benito Yarritu Abellas, revela que desde o primeiro momento o contato com a família foi extremamente produtivo, o que possibilitou a transferência física de boa parte do acervo em novembro do ano passado. A partir de sua doação, e após uma avaliação do estado físico da documentação por parte do Laboratório de Conservação e Restauração de Documentos em Papel/LAPEL, o Arquivo de História da Ciência/AHC iniciará o processo de identificação da documentação, passo inicial para sua organização e futura disponibilização, via digitalização, ao público interessado.
- Trata-se de um dos mais renomados cientistas brasileiros por conta da multiplicidade de interesses aos quais se dedicou ao longo da sua carreira, desde a área energética até a política ambiental. A doação do Arquivo Pinguelli Rosa reforça o papel do MAST como espaço privilegiado da guarda da memória da Ciência e Tecnologia brasileiras.