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Tudo o que você precisa saber sobre o risco de um tsunami no Brasil
Circulam nas redes sociais vídeos onde os temíveis tsunamis invadem cidades litorâneas do país, especialmente o Rio de Janeiro, provocando tragédias de grandes proporções. Embaladas em imagens forjadas pela tecnologia da Inteligência Artificial (IA), as visões apavoram incautos que temem ocorrer no Brasil, desastres como os verificados na Indonésia, em 2004 (129 mil mortos e 37 mil desaparecidos), ou mesmo o que atingiu Lisboa, em 1755, que provocou 30 mil mortes. Para debelar as fake news e dirimir qualquer dúvida sobre o risco real de haver tsunami no Brasil, a equipe de Comunicação do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST) falou com o professor Ph.D em engenharia Costeira da UFRJ, Paulo Rosman. E ele garante: a possibilidade de haver tsunami no Brasil é próxima de zero.
Comunicação - Paulo Rosman, qual o risco de haver um tsunami no Brasil, em especial no litoral do Rio de Janeiro?
PR- Um tsunami é causado por deslocamento vertical de uma grande massa de água no oceano. As causas mais comuns são terremotos. Entretanto, quedas de meteoros grandes no mar e eventual avalanche de grade porte, de encosta de uma montanha na costa, sobre as águas do mar também podem causar tsunamis. Todos estes eventos são muito raros no Atlântico Sul. Tsunami em japonês significa “onda no porto”, o que é algo inesperado, pois um porto é um local presumidamente de águas calmas. Portanto, a palavra tem a conotação de “evento inesperado”.
Comunicação - Você disse que somente a queda de um meteoro de grandes proporções poderia mover uma quantidade volumosa de água do oceano e então surgir as ondas gigantes. Mas há risco disto acontecer? Em que proporção numa escala de 0 a 10?
PR - Nunca foi registrado queda de meteoro grande no Atlântico Sul, não há dados estatísticos para dar uma escala de 0 a 10. Porém, o mais provável é perto de zero. A suspeita mais provável de tsunami na costa do Brasil seria um evento de súbita inundação vinda do mar, na povoação de São Vicente (Santos) no litoral de São Paulo, por volta de 1526.
Comunicação - Alguns especialistas dizem que se caso o vulcão Cumbre Vieja, nas Ilhas Canárias, noroeste da África, entrasse em erupção, ondas gigantes poderiam surgir e atingiriam a região Norte do Brasil, especialmente o Amapá, e o nordeste brasileiro. Você diria que este risco é maior do que a queda de um meteoro?
PR - Provavelmente sim, mas o tsunami dependeria muito da grandeza da avalanche causada pela queda da encosta do vulcão no mar.
Comunicação - É possível quantificarmos qual o volume de elevação oceânica poria em risco o litoral do Rio de Janeiro?
PR- Depende da magnitude do evento e proximidade do litoral., Em geral, tsunamis não têm grandes alturas. Há muitos vídeos no YouTube mostrando os maiores tsunamis das últimas décadas, que ocorreram no Japão, em Fukushima, em março de 2011 e na Indonésia, em dezembro de 2004.
Comunicação - Há uma razão geológica para o Atlântico Sul, especialmente a costa brasileira, estar praticamente livre do risco de tsunami? Você diria que a região mais ao extremo do continente, como Argentina, Uruguai e Malvinas, também estariam livres do perigo?
PR - As placas tectônicas no Atlântico Sul, rarissimamente, produzem terremotos de grande porte, e não há ilhas com grandes vulcões na região.
Previsor de Marés
Dentre os objetos em exposição no MAST, consta também um “Previsor de Marés”. O instrumento, criado por William Thomson, conhecido como Lord Kelvin, foi usado no passado para auxiliar a previsão numérica dos níveis das marés oceânicas em diferentes portos brasileiros. Ele foi bastante utilizado a partir de 1927, quando chegou ao Brasil, e foi "aposentado" quando o serviço de meteorologia passou a ficar a cargo da Marinha. Quem quiser conhecer o equipamento histórico, que integra nosso acervo, poderá vir ao MAST de terça à sexta-feira, das 9h às 17h30, e aos sábados das 14h às 17h30.
O MAST fica na Rua General Bruce, 586, em São Cristóvão.
Você pode seguir o MAST nas redes sociais : linktr.ee/museudeastronomia