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Grupo de Pesquisa "Território, Ciência e Nação" - Um mergulho na História da Ciência e do Brasil
Desde sua fundação oficial em 2007, o Grupo de Pesquisa "Território, Ciência e Nação" (TCN), da Coordenação de História da Ciência e Tecnologia do MAST, tem sido um espaço pioneiro de reflexão sobre a interseção entre ciência e território no Brasil. Liderado pela pesquisadora Moema Vergara, o grupo foi inicialmente inspirado pela relação entre raça, ciência e a compreensão do Brasil, estudada pela Fiocruz. No entanto, Vergara foi além e identificou que o território também desempenhava um papel central na formação da identidade brasileira, e que a astronomia estava profundamente ligada a essa questão.
"O interesse pelo território surge na minha pesquisa quando percebo que a extensão territorial é um símbolo forte da identidade nacional, e a astronomia tem um papel fundamental nisso, especialmente no mapeamento e na organização espacial", explica Vergara. A partir desse ponto, surgiu a ideia de se dedicar a uma linha de pesquisa no Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST), voltada para a história da ciência e da astronomia, com foco na aplicação da astronomia para a compreensão do território nacional.
A pesquisa se debruça sobre o uso da astronomia para definir coordenadas geográficas, mapear territórios, determinar fuso-horários e organizar o espaço físico do país. "A busca pela longitude no interior do Brasil, no final do século XIX e início do XX, por exemplo, é uma história fascinante", comenta Moema, citando o trabalho de Luís Cruls, ex-diretor do Observatório Nacional. Ele viajava com tropas de soldados para derrubar a mata e obter uma linha de visão clara para o horizonte, essencial para os cálculos astronômicos necessários à demarcação do território.
Divulgação Científica: Um Compromisso com a Educação e a Acessibilidade
Em paralelo à pesquisa, o Grupo TCN tem uma missão de divulgação científica que se destaca no cenário acadêmico. Segundo Gabriela Bernardino, membro do grupo, essa preocupação com a popularização do conhecimento científico é uma marca fundamental do TCN. "Diferentemente de outros grupos de pesquisa, mais focados na produção de artigos científicos, nós estamos sempre preocupados em como transmitir esse conhecimento para o público não especializado", afirma Bernardino.
Essa missão começou em 2007, quando Moema Vergara propôs um curso para professores à Associação Brasileira Nacional de Profissionais de História, que foi inicialmente rejeitado. "Foi um momento difícil, mas decidi seguir em frente e implementar o curso no MAST", relembra. Com apoio de colegas, incluindo o professor Ronaldo de Almeida, o grupo criou materiais didáticos como um teodolito de papel e uma bússola, e promoveu oficinas interativas sobre o telégrafo, um artefato de ciência crucial para a determinação da hora e a organização territorial.
O curso, agora em sua 12ª edição, se consolidou como uma referência em educação científica, atraindo parcerias importantes, como a recém-formada colaboração com a Universidade Federal do Oeste do Pará. "Essa iniciativa se tornou uma tecnologia de ensino capaz de gerar outros benefícios, como o contato com as populações indígenas", destaca Vergara.
Portal e Inovação: Um Espaço de Colaboração e Criatividade
Outra conquista significativa do grupo foi o desenvolvimento de um portal online, que começou a ser construído com recursos limitados, mas com muita criatividade e colaboração. Moema Vergara conta que a parceria informal com a Universidade Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) permitiu que bolsistas de iniciação científica ajudassem a criar o site. "Foi algo bem brasileiro, de ajuda mútua para que o projeto existisse", ressalta.
Além do portal, o grupo desenvolveu um jogo educacional sobre cartografia, o que trouxe desafios técnicos na época. Mas, hoje, o portal serve como um espaço não apenas para divulgação científica, mas também para publicações de jovens pesquisadores e para experimentações com novas linguagens de comunicação.
Gabriela Bernardino, que voltou ao grupo após concluir seu doutorado, agora está à frente da dinamização do site. O objetivo é expandir as atividades, criar mais jogos e atrair um público maior, sempre com foco na divulgação acessível e na preservação da memória do grupo, que completará em breve duas décadas de existência.
A Importância da Preservação da Memória
Um dos pontos de autocrítica do grupo é a dificuldade em preservar sua própria memória institucional. "Estamos numa instituição de memória, mas somos muito ruins em registrar a nossa história", admite Moema. Para ela, é essencial documentar o legado do grupo, especialmente à medida que ele se aproxima dos 20 anos de atividades. "Nem tudo está no portal, e isso é algo que precisamos melhorar", conclui.
O Grupo de Pesquisa "Território, Ciência e Nação" segue firme em seu compromisso de aliar pesquisa científica de qualidade com a divulgação acessível e a preservação da memória, promovendo o conhecimento sobre a interseção entre ciência, território e identidade nacional de forma inovadora e inclusiva.