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Das revoltas da vacina à política em Petrópolis, um símbolo da Ciência do país
Médico, cientista e sanitarista, Oswaldo Cruz é seguramente um dos mais importantes cientistas brasileiros. Ele nasceu num Brasil onde a Medicina era restrita às classes mais abastadas, enquanto aos mais pobres restavam a fé e os chás - alternativas às variadas doenças endêmicas, epidêmicas e tropicais. O cientista entra para a história exatamente por ter lutado por toda a vida para mudar este cenário.
Nascido em São Paulo em 05 de agosto de 1872, ele mudou ainda criança para o Rio de Janeiro onde pode estudar em boas escolas até finalmente graduar-se em Medicina 20 anos depois. Logo em seguida casou-se com Emília da Fonseca, filha de um rico industrial, com quem teve seis filhos.
À época, o grau de contaminação da população por patologias controláveis, como as transmitidas por insetos ou água contaminada, foi tema que escolheu para sua tese e que mereceu louvor dos seus pares na Academia.
Sua devoção à microbiologia foi de tal monta que chegou a instalar em sua casa um pequeno laboratório. Lá desenvolvia estudos e pesquisas na área das enfermidades mais comuns à população do final do século XIX - febre amarela, peste bubônica (transmitida por ratos) e varíola.
Mas Oswaldo Cruz entrou para a História também por conta da resistência aos métodos que desenvolveu para o combate às enfermidades. E não foram apenas os leigos que o repudiaram, mesmo em seu meio ele enfrentou opositores. Estes acreditavam e propalavam que a febre amarela era transmitida por roupas sujas, suadas, com secreções e compartilhadas entre os mais pobres. Houve quem fizesse "pilhéria", como se dizia à época, quando ele anunciou que a culpa era do mosquito.
O cientista sugeriu que a população parasse de lavar as roupas com água fervente e passasse a eliminar os focos de mosquito em caixas d'água, vasos de plantas, garrafas no quintal e bacias - algo que ainda hoje nos soa familiar.
Mas é claro que seus opositores tiraram sarro: "como poderia um pequeno mosquito espalhar tanta desgraça?" Mas ele estava certo. E foi contendo a proliferação em residências que se conseguiu domar a doença.
Mas o pior estava por vir na vida deste revolucionário da Saúde Pública. O ano era 1904. Com o recrudescimento do surto de varíola, Oswaldo Cruz anunciou que seria necessário promover a vacinação em massa da população. Os jornais - e seus influencers de então - fizeram forte campanha condenando a iniciativa.
O Congresso protestou e chegaram a organizar Ligas em todo o país contra a vacinação obrigatória. Em 13 de novembro estourou uma rebelião popular e no dia seguinte integrantes da Escola Militar foram às ruas para debelá-la. O governo derrotou o negacionismo, mas por pouco tempo. Em uma semana o Congresso conseguiria suspender a vacinação em massa. Entretanto, as medidas paliativas sugeridas e já absorvidas pelo povo, como o controle dos focos de mosquito, ajudaram a acabar com a onda de febre amarela que foi definitivamente erradicada em 1907. Neste ano ele acumulava os cargos de diretor da Saúde Pública e do Instituto Soroterápico Federal.
Em 1908, consciente de que a vacina era de fato uma medida positiva, a população correu aos postos para se imunizar contra a varíola. O país enfrentava ali a pior onda da doença.
Oswaldo teve uma vida breve, apesar de muito intensa. Eleito para a Academia Brasileira de Letras em 1913, ele, dois anos depois, começaria a dar sinais de fadiga. Abandonou a direção do Instituto Oswaldo Cruz e foi refugiar-se e buscar sossego em Petrópolis. Lá, ao contrário do que prometera à família, engrenou na política e virou prefeito da cidade. Mas quis o destino que dois anos depois, aos 44 anos, morresse de nefrite, a mesma doença que matou seu pai quase 20 anos antes.
Oswaldo Cruz morreu em casa às 21 horas e dez minutos do dia 11 de fevereiro de 1917. Estavam ao seu lado a mulher, filhos e os melhores amigos: Salles Guerra, Ezequiel Dias, Carlos Chagas, João Pedroso e Belisário Penna. No dia seguinte, em meio a intensa comoção popular, foi sepultado no Cemitério São João Batista - e não na praia do Vidigal como chegou a sugerir. A imprensa o retratava, agora, como um herói nacional.