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Matemático morreu há 31 anos
Professor titular do Instituto de Matemática da UFRJ, Leopoldo Nachbin é considerado um dos mais importantes matemáticos da história do país. Morto em 1993, aos 71 anos, ele teve destacadas contribuições nas áreas de Análise Funcional, Análise Harmônica, Topologia, Álgebras Topológicas, Teoria da Aproximação e Holomorfia em Dimensão Infinita.
Foi o primeiro brasileiro a palestrar no Congresso Internacional de Matemáticos (ICM), na Suécia, em 62. Também o primeiro a receber o prêmio Moinho Santista, oferecido aos mais renomados na área de produção intelectual. Publicou dezenas de livros didáticos e foi um dos fundadores do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), lugar visitado neste mês de abril pelo presidente Lula que inaugurou ali o primeiro curso de graduação, o Impa Tech.
Nachbin publicou mais de uma centena de artigos em periódicos especializados nacionais e estrangeiros e teve diversas comunicações registradas em atas de congressos e conferências internacionais. Foi autor de dez de livros, a maioria publicada no exterior, e editor da prestigiosa série “Mathematical Studies”, da editora North Holland.
Dentre os prêmios e distinções recebidos podemos citar o “Moinho Santista” (1962), oferecido pela fundação de mesmo nome, e o “Bernard Houssay” (1982), concedido pela Organização dos Estados Americanos (OEA).
Nachbim foi professor visitante e conferencista em renomadas instituições espalhadas pelo mundo, com destaque para o Institut des Hautes Études Scientifiques (IHES), as Universidades de Paris VI, Chicago e Oxford, e a Escola Normal Superior de Pisa.
No Brasil, participou da fundação do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e foi um dos idealizadores do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA).
O professor e matemático Jorge Alberto Barroso disse sobre Nachbin na introdução de seu inventário do matemático preservado pelo MAST:
"Como professor, ministrava as aulas mais claras e brilhantes que eu já assisti".
Meu pai era um gênio da Matemática
Um dos três filhos do matemático, o jornalista, documentarista e professor Luís Nachbin, a pedido da Comunicação do MAST, escreveu este texto em memória do pai:
"Meu Pai tomava um leve café da manhã, lia o Jornal do Brasil, caminhava até o escritório dele, na nossa casa, ligava o rádio em uma estação que só tocava música clássica, pedia para ninguém chamá-lo, fechava a porta... e então adentrava as profundezas inexplicáveis, incompreensíveis, para mim, da Matemática abstrata.
Ainda adolescente, considerava “excesso de rigor” não poder dar uma palavrinha com o meu Pai, ao longo de horas seguidas. Muitas vezes, meu Pai só sairia do escritório para almoçar. Enquanto comíamos, era comum perceber que o olhar dele estava distante.
Por volta de 18h, invariavelmente, meu Pai se afastava por completo dos livros e da máquina de escrever. Nem dúvidas básicas da minha Matemática de quinta série eu podia levar a ele, após seis da tarde. O gênio de temperamento nada genioso precisava de algumas horas para que todo o seu arsenal intelectual atingisse o desejado estado de repouso... e assim ele pudesse ter um sono tranquilo.
Somente na vida adulta é que me dei conta que convivia com um gênio. Um gênio da Matemática cujo cérebro fazia uso de todos os seus “HDs internos e processadores” para acessar camadas de conteúdo que o consagraram internacionalmente.
Meu Pai partiu em 03 de abril de 1993, aos 71 anos. Eu, na época com 29, já admirava a relação de amor puro que ele tinha pela chamada “Matemática pura”.
Hoje em dia, sempre que coloco música clássica durante o trabalho, me sinto inspirado por ele".