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Projeto do MAST incentiva maior participação feminina na Ciência
Quando Patrícia Figueiró Spinelli estava na graduação de Física, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ela já sentia um enorme desconforto, mas não questionava o porquê de, em uma turma de 65 alunos, apenas ela e mais uma serem mulheres. Hoje, a pós-doutora pelo Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP) é quem ajuda a mudar essa realidade, incentivando alunas do ensino fundamental e médio a cursarem carreiras tecnológicas.
Pesquisadora adjunta do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST) desde 2013, Patrícia Spinelli é uma das responsáveis por engajar meninas na ciência. Junto com as pesquisadoras Claudia Sá Rego Matos, Taysa Bassallo da Silva e a recém-chegada Alejandra Eismann, em colaboração com as astrônomas do Observatório Nacional Josina Oliveira do Nascimento e Simone Daflon Santos. Desde 2015 elas buscam aproximar o universo da ciência das meninas que ainda estão na escola. Além de atividades pontuais realizadas dentro do MAST, para estimular o contato com a temática, elas também desenvolvem um trabalho maior, o projeto “Meninas no MAST”.
O projeto “Meninas no MAST” já teve duas edições realizadas, onde trabalhos de um ano são desenvolvidos junto com escolas das redondezas de São Cristóvão, bairro onde o MAST está localizado. Das 14 meninas que já passaram por essa formação, cinco estão cursando carreiras tecnológicas, como matemática, astronomia, física e ciências da computação. Outras três ainda estão no Ensino Médio e três foram para Humanas. Mas o incentivo para que elas prossigam os estudos nestas áreas é fundamental. Como explica Patrícia, mais do que apresentar o conteúdo, é fundamental entender o contexto dessas meninas para incentivá-las.
“O projeto vai muito além de simplesmente falar dos conteúdos da ciência. É realmente um acompanhamento das meninas para que elas tenham todas as ferramentas e condições de seguir uma carreira. Que elas não sejam impedidas por outros fatores sociais. Muitas delas são filhas de mães solteiras e têm que ajudar a cuidar dos irmãos em casa. São tão jovens e têm tantos obstáculos. Então é mais do que despertar vocações para as carreiras científicas por meio da astronomia. Não podemos perder essas meninas pelo desestímulo. Ressaltar que elas podem fazer de tudo e que têm um enorme talento”, defende a astrofísica.
As conquistas das bolsistas que passaram pelo programa mostram que elas podem escolher o caminho que quiserem. O grupo de 2019, intitulado “Astromeninas”, conquistou o prêmio “Meninas na Ciência”, na Feira de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado do Rio de Janeiro (FECTI). Elas ainda criaram um Clube de Astronomia no colégio, assumindo um protagonismo nas atividades e ajudando a difundir ainda mais o conhecimento científico. “O efeito multiplicador a gente não consegue nem mensurar, mas elas despertam um impacto muito positivo no ambiente escolar”, reforça Patrícia.
O projeto “Meninas no MAST” começará em março a sua terceira edição, esse ano será com estudantes do Ensino Fundamental das escolas municipais Nilo Peçanha e Uruguai do bairro de São Cristovão. O projeto acaba de abrir uma chamada para duas vagas de iniciação científica que vai até o próximo dia 21 e está disponível no site do MAST. Para se dedicarem, as bolsistas receberão uma bolsa da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), já que o projeto foi contemplado com o edital “Programa Meninas e Mulheres nas Ciências Exatas e da Terra, Engenharias e Computação”. A ideia é que as bolsistas acompanhem as estudantes das escolas durante um ano com atividades de pesquisa de pré-iniciação científica.