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No Dia dos Povos Indígenas, conheça a pesquisa sobre Corpos Celestes na Serra do Aracuri
Interpretar a passagem do tempo por meio do céu, do sol e das estrelas é comum a muitos povos e determina como lidam com a própria subsistência. No caso da comunidade Água Fria de Cima, que vive próxima à Serra do Aracuri, onde vivem descendentes de indígenas Mundurucús, essa cosmovisão tem algumas particularidades que são relatadas no artigo “Descendo à terra: atmosfera e corpos celestes nos relatos sobre a Serra do Aracuri”, da pesquisadora do MAST Priscila Faulhaber.
De acordo com a antropóloga, rezam os relatos que o local é de difícil acesso, sendo preservado pelos seres invisíveis que lá habitam: apenas os “encantados”, como seres de poderes sobrenaturais, atravessam as barreiras intransponíveis aos mortais.
As mudanças ambientais também são registradas pela comunidade. Desde 1992, por exemplo, as secas são mais intensas e constantes. Como o tempo está ficando mais seco, o laguinho atrás da terra secou e os encantados foram para outros locais, explica Faulhaber no artigo, no qual compara os relatos de hoje e os registrados pelo antropólogo Robert Murphy na sua monografia sobre a religião Mundurucú, publicada em 1971
É por meio do céu que eles dão significado não só aos fenômenos atmosféricos, mas às relações sociais. “Quando Vênus ou outras estrelas errantes se aproximam da Lua, o momento é propício para haver casamento. Se estiver longe, o casório vai demorar muito”, afirma o estudo. Já a chuva é decodificada pela presença de certos animais. “Sabem que vai chover quando aparece muita mariposa e cupim por cima, embaixo da luz. Saúvas saem em profusão do fundo da terra. Aparecem também muriçocas. Quando os cardumes de curimatãs rodam na água, fazem peão e seguem, novamente, é sinal de trovoada e chuva”, ressalta Priscila no estudo.
Por fim, a antropóloga lembra que essas associações são uma forma de dar sentido à realidade em que vivem. “É um instrumento para melhor conhecer o rio, a vegetação e o terreno onde nascem e morrem”, conclui.
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