Notícias
A Observação do Céu na História das Grandes Navegações
Hoje se comemora os 521 anos da chegada de Pedro Álvares Cabral nas terras da América do Sul, dando início a colonização brasileira. O Dr. Vladimir Jearim Peña Suárez , astrofísico, colaborador do MAST e Prof. do Instituto de Física da UFRJ, aproveita esta data para relembrar a relevância das constelações na história das grandes navegações portuguesas, sem esquecer de que, nos territórios conquistados, seus habitantes já observavam as estrelas há séculos.
Fotografia: Daniel Mello, astrônomo do Observatorio do Valongo - UFRJ
A Descoberta do Cruzeiro do Sul Pelas Expedições Portuguesas
O dia 22 de abril de 1.500 é a “data oficial” da chegada dos portugueses ao atual Brasil. Também é o dia em que se inicia um violento período para os moradores ancestrais e o momento estelar da fantasia colonialista portuguesa. O navegador Vasco da Gama tinha contornado a África pela primeira vez para chegar até a Índia (entre 1497 e 1498).
Já o escritor
Luís Vaz de Camões
publicou em sua obra 'Os Lusíadas’ (1572), trecho onde descreve epicamente esta façanha. Na
estrofe 14
do
Canto V
, o autor refere-se à “
Nova Estrela
” já descoberta:
" Já descoberto tínhamos diante,
Lá no novo Hemisfério, nova estrela,
Não vista de outra gente, que ignorante
Alguns tempos esteve incerta dela.
Vimos a parte menos rutilante,
E, por falta de estrelas, menos bela,
Do Pólo fixo, onde inda se não sabe
Que outra terra comece, ou mar acabe
.”
(Os Lusíadas - Luís Vaz de Camões)
Tal estrela era Acrux , localizada no extremo inferior da constelação do Cruzeiro do Sul, cuja descoberta para o “Mundo Europeu” se atribui aos navegantes portugueses. A constelação sempre aponta para o Pólo Sul, o que fez dela uma referência fundamental para as expedições lideradas por navegantes como Bartolomeu Dias e Pedro Álvares Cabral .
O Pólo Sul se encontra a uma distância de, mais ou menos, 4,5 vezes o comprimento da constelação. Diz-se até que ela poderia ser considerada um “bom relógio”, pois completa uma volta ao redor do Pólo em aproximadamente 24 horas. Quando observamos essa região com telescópios, encontramos objetos como o aglomerado estelar aberto NGC 4755, chamado de “Caixinha de Jóias”, localizado a 6.440 anos-luz do Sol e composto por umas 100 estrelas jovens massivas, entre elas uma supergigante vermelha. Outro objeto é a Nebulosa do Saco de Carvão, uma nuvem de poeira que bloqueia a visibilidade de estrelas brilhantes da Via Lactea.
Entretanto, os objetos no Céu do Sul sempre foram conhecidos pelos habitantes ancestrais do hemisfério. Os povos da Austrália identificavam o Cruzeiro com a figura da Raia Marinha. No Império Inca era conhecida como a “ Chakana ”, um objeto mítico.
Hoje, queremos lembrar a relevância desta constelação na história das grandes navegações portuguesas, sem esquecer de que nos territórios em questão seus habitantes já observavam e nomeavam essas estrelas havia séculos.
Vladimir Jearim Peña Suárez