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Site identifica cientistas perseguidos durante regime militar
Na próxima terça-feira, 31 de março, será lançado o site do Projeto “Ciência na Ditadura”. A iniciativa já reúne informações sobre 471 cientistas perseguidos durante o regime militar, que vigorou no Brasil entre 1964 e 1985. O público poderá participar sugerindo nomes que ainda não foram incluídos ou corrigindo e complementando os dados publicados. Basta acessar o endereço http://site.mast.br/ciencia_na_ditadura/index.html.
O trabalho, iniciado há cerca de um ano, é realizado por pesquisadores do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) e do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST). “Estimamos em aproximadamente mil o número de pesquisadores perseguidos e esperamos conseguir reunir informações sobre o maior número possível de casos”, revela Alfredo Tiomno Tolmasquim, da Coordenação de História da Ciência do MAST.
O dia de lançamento do Portal não foi escolhido ao acaso. Coincide com a data na qual os militares tomaram o poder em 1964. “No dia em que lembramos os 51 anos do golpe, queremos apresentar à sociedade a dimensão e o impacto da repressão política sobre a atividade acadêmica no Brasil”, afirma Alfredo. Para o pesquisador, é necessário resgatar histórias não conhecidas de cientistas que foram presos, torturados, assassinados, exilados, demitidos, aposentados, submetidos a inquéritos militares ou sofreram boicotes relacionados a trabalhos científicos e intelectuais. Todos eram acusados de ser simpatizantes de ideologias de esquerda.
Um caso emblemático é o de Ana Rosa Kucinski Silva, professora do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP). Em abril de 1974, Ana e o marido, Wilson Silva, foram seqüestrados, torturados e assassinados por agentes do governo. Ambos eram integrantes da Ação Libertadora Nacional (ALN), organização de extrema-esquerda que combatia a ditadura. Investigações posteriores, realizadas a partir da década de 1990, provaram o crime. Porém, a versão oficial, divulgada na época do acontecido, citava o casal como “terroristas foragidos” e os declarava desaparecidos. Em 1975, ignorando o “desaparecimento forçado”, a Reitoria da USP instaurou um processo que culminou na demissão da professora por "abandono de função". Em 2012, movimentos de direitos humanos reunidos no Fórum Aberto pela Democratização da USP exigiram da universidade a revogação da decisão. Como resultado, em 2014, a demissão foi anulada por unanimidade pela Congregação do Instituto de Química da USP. Houve também um pedido formal de desculpas da Congregação à família de Ana.
Segundo Alfredo, agrupar todos os casos em uma única base de dados permitirá a revisão de nossa história recente e a melhor compreensão dos desdobramentos da política repressiva no cenário científico brasileiro. Para cada cientista, é elaborado um verbete com informações sobre as violências sofridas e prejuízos à carreira. Há também um acompanhamento sobre os rumos tomados por cada profissional prejudicado. “Queremos saber quais foram para o exterior, a faixa etária média, se depois da anistia foram recontratados, entre várias outras questões ligadas à trajetória do pesquisador após as perseguições”, diz Alfredo.
Rodrigo Monteiro
Assessoria de Imprensa MAST
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