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PONTO MEMÓRIA: Um Centro de Memória de C&T no LNCC
O desenho de um novo parque computacional para atender às demandas de pesquisa ensejaram novos objetivos e projetos, além de uma gama de desafios, como a mudança da instituição para o município de Petrópolis, RJ, no ano de 1998.
Passados 25 anos, o Centro de Memória em desenvolvimento no Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC) surge com vistas à preservação, difusão e fortalecimento das relações da construção do conhecimento e do patrimônio científico em C&T.
Para o campo da preservação e conservação de acervos em C&T, o bem desativado do parque computacional em uma instituição de computação científica como o Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), poderá ser visto como um equipamento de TI ou objeto repleto de informações do seu tempo.
Mas, o que fazer com esse objeto? Não raro, por diversos fatores, a opção do descarte (por sucateamento útil ou doação) é sempre considerada e às vezes planejada, dada a necessidade de renovação do parque computacional e a ausência de espaço físico suficiente para armazenamento de itens não mais utilizáveis.
Porém, torná-lo parte de uma coleção de exemplares de equipamentos computacionais em um centro de memória, parece razoável.
A leitura desses artefatos também poderá ajudar a remontar o cenário das pesquisas científicas com o uso das tecnologias e da computação científica em determinado espaço e tempo, no mundo ou no Brasil, com um recorte nas décadas de 1980 e 1990, por exemplo. Sendo possível inclusive, mapear ocorrências políticas, econômicas e sociais que auxiliaram ou atrasaram o desenvolvimento científico naquele período e nos seguintes.
Selecionamos a título de ilustração, como item tecnológico defasado, a Unidade Processadora IBM 4381, que teve início de sua operação em 1986, com capacidade armazenamento de “8 Mbytes” de memória central, atualizado em 1989 para “32Mbytes” de memória central e “15 Gbytes” de discos magnéticos”.
Com o apoio desse equipamento, as pesquisas científicas eram realizadas por mais de mil pesquisadores e aproximadamente 50 instituições (universidade pública, de pesquisa e outras), que ligadas em rede computacional a nível regional e depois nacional, já utilizavam os serviços tecnológicos do Laboratório, com uso de computação em rede (esta chama-se BitNet naquela época) em meio acadêmico e científico.
Figura 1 – IBM 4381
Fonte: IBM Archive
Para exemplificar a evolução da tecnologia, quase 40 anos depois, nos dias de hoje, um simples pendrive possui a capacidade de armazenamento de dados que pode variar de 8Gbytes a 2 TB (terabytes) ou mais, de acordo com a empresa Kingston Technology.
Os objetos nos ajudam a falar da história, e no nosso caso, da história da ciência. O Laboratório Nacional de Computação Científica transformou-se em uma instituição “nacional” no ano de 1985, em 16 de maio, vindo da evolução das atividades do Laboratório de Cálculo (1980) do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF). Nesse mesmo ano, surgem o Ministério da Ciência e Tecnologia, dentre outras instituições de C&T, como o Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST).
O parque computacional da instituição contava com a Unidade Processadora IBM 4381, cuja configuração era “8 Mbytes” de memória central” e que mais tarde foi atualizada para a capacidade armazenamento de “32 Mbytes” de memória central e “15 Gbytes” de discos magnéticos” (1989).
Em 15 de maio de 1990, às vésperas de completar dez anos de existência, o Laboratório Nacional de Computação Científica recebeu considerável aporte tecnológico, por intermédio de um “convênio com o CNPq” (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), para o desenvolvimento das pesquisas científicas no país com a previsão de recepção de “uma unidade central de processamento IBM 3090 modelo 400, estimada em vinte milhões de dólares”.(LNCC, 1990).
Figura 2 – IBM 3090 Modelo 400
Fonte: IBM Archive
No período compreendido de 1980 a 1990, as pesquisas realizadas com o apoio do equipamento a ser substituído, o IBM 4381, foram de grande relevância e abrangia “um total de 600 projetos” com diversas instituições nacionais e internacionais, nas áreas de física, matemática, astronomia, química, economia, educação, linguística e medicina, tais como: “Projeto Rede Nacional para o Rio de Janeiro (LNCC/FAPERJ); Projeto Lagos e Rios Amazônicos (LNCC/ELETRONORTE); Projeto Simulador Matemático para Reservatórios Fraturados (LNCC/CENPES/PETROBRÁS/PUC-RJ/FINEP); Projeto Mecânica Computacional (LNCC/Centro Atômico Bariloche, Argentina); Projeto Análise de Tensões e Segurança em Tubulações e Vasos de Pressão (LNCC/Universidade de Stratclyde, Grã-Bretanha)”, dentre outros. (LNCC, 1990)
Fonte: Acervo Estadão
Como descrito no Relatório da Comissão Especial designada pelo CNPq para formulação de uma Política Nacional de Memória de Ciência e da Tecnologia, de 30 de setembro de 2003, “A memória da ciência e da tecnologia integra o patrimônio histórico nacional. Mesmo sendo distinta do que é hoje conceituado como patrimônio cultural, mantêm com o mesmo uma vinculação forte e indissolúvel: as atividades científicas e os procedimentos técnicos fazem parte da cultura.”(CNPq, 2003)
Nessa mesma linha, somando-se ao desafio de contribuir para a construção da memória da ciência no Brasil, o LNCC pautado nas recomendações do Relatório acima mencionado, em especial quanto a preservação dos acervos relacionados à produção do conhecimento científico, decidiu implantar o seu centro de memória também, conservando na medida do possível, os documentos e artefatos físicos ainda existentes, simultaneamente em arquivos analógico e digital. Para tanto, serão utilizados o arquivo institucional, alguns espaços físicos disponíveis, repositório institucional e banco de dados.
Bem, é necessário constatar que, a Unidade Processadora IBM 4381 de fato, já não existe mais fisicamente no LNCC. Dado o decurso de tempo, avanço das tecnologias e a falta de espaço para seu eventual armazenamento, em função da chegada de novos equipamentos foi descartada. Mas, suas informações integram parte dos registros da memória do Laboratório.
Entendemos que as práticas contemporâneas auxiliarão no planejamento e na implantação de diretrizes e ações de conscientização para um efetivo programa de preservação dos acervos do patrimônio de C&T no LNCC.
Percebemos que um Centro de Memória tem como finalidade aproximar os indivíduos, os atores que participaram da instituição, a sociedade, demonstrando a trajetória do conhecimento científico e seus resultados; inclusive a trajetória institucional, os impactos causados, a preservação do conhecimento produzido e sua difusão como forma de preservação, divulgação, acesso e a consequente valorização e fortalecimento do patrimônio de C&T.
Assim, adiantamos que muitos outros relatos históricos estarão no livro Modelando Histórias – mais de quatro décadas do LNCC , que conta a trajetória da instituição em seus 43 anos de existência. O livro será lançado em maio deste ano, com a presença de dezenas de atores que fizeram parte desta história.
Nas próximas edições do Ponto Memória, traremos mais curiosidades e memórias vinculadas à ciência e tecnologia. Acompanhe!
Créditos
Anmily Paula Martins (CM-LNCC), Genilda Machado Roli (CM-LNCC) e Simone Santana Elias (CM-LNCC)
Colaboração
Graziele Soares (SECIN-LNCC) e Tathiana Tapajós (SECIN-LNCC)
O Ponto Memória é uma divulgação do Centro de Memória do LNCC
Faça parte da memória da instituição! Tem algum material e gostaria de compartilhar? Entre em contato conosco: memoria@lncc.br