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PONTO MEMÓRIA. MULHERES CIENTISTAS: DESAFIOS PARA CONCILIAR MATERNIDADE E CARREIRA
A agenda de 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) para o Desenvolvimento Sustentável inclui 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), onde o quinto objetivo trata de “alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas” e no décimo objetivo temos “(...) empoderar e promover a inclusão social, econômica e política de todos, independentemente da idade, gênero, deficiência, raça, etnia, origem, religião, condição econômica ou outra”, ou seja, há o reconhecimento de enormes disparidades de oportunidades. Assim, espera-se que até 2030 seja possível atingir um mundo melhor para todos os povos e nações.
Muito se tem debatido sobre a igualdade de gênero em todos os níveis da sociedade e, ao abordar a questão das mulheres na Ciência, surge também a necessidade de discutir o suposto dilema entre maternidade e carreira de cientista. A maternidade, principalmente nos primeiros anos de vida da criança, exige dedicação, atenção e cuidado em tempo integral; a carreira acadêmica também requer muito empenho e dedicação. Conciliar as duas atividades pode ser difícil, levando muitas mulheres a abandonarem ou sequer cogitarem seguir a carreira de cientista.
As mulheres ocupam no país cada vez mais espaço na Ciência, segundo dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), em 2021, 54% dos estudantes em cursos de pós-graduação stricto sensu são mulheres. Dos 405 mil alunos de mestrado e doutorado no Brasil, 221 mil são mulheres. Também são elas que lideram o número de bolsas no país. Em 2020, as pesquisadoras representavam 58% do total de bolsistas stricto sensu .
O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) retrata um cenário similar ao da Capes: entre 2020 e 2021, 50% dos bolsistas de doutorado são mulheres; e no mestrado, as pesquisadoras correspondem a 52%. Entre 2020 e 2021, 65% das bolsas de produtividade em pesquisa (PQ), o "mais alto nível do CNPq, destinada a pesquisadores de destaque em suas áreas", como aponta o Conselho, foram concedidas a homens e apenas 35% correspondentes a mulheres que receberam o benefício.
De acordo com o censo de 2016, o Brasil possui 199.566 pesquisadores. No total dos pesquisadores cadastrados em 2016, 50% são homens e 50% mulheres. Em relação ao censo de 1995, houve um crescimento do número de mulheres e uma diminuição no número de homens, que era respectivamente de 39% e 61%. Contudo, em termos mundiais, em 2018, apenas 33% dos pesquisadores eram mulheres. As mulheres continuam a ser uma minoria na tecnologia da informação digital, computação, física, matemática e engenharia. Esses são os campos que estão impulsionando a revolução digital e, portanto, muitos dos empregos do futuro. As mulheres precisam fazer parte da economia digital para evitar que a Indústria 4.0 perpetue os preconceitos tradicionais de gênero.
Em 2016, nasceu o Parent In Science (Paternidade/Maternidade na Ciência, em tradução livre), uma iniciativa que discute a maternidade (e a paternidade) no ambiente científico brasileiro e tenta criar políticas de apoio e suporte social às famílias em universidades e institutos de pesquisas. Com o objetivo de criar um ambiente diverso, acolhedor, aberto aos ajustes necessários e justo para o desenvolvimento pleno da Ciência, considerando também o desenvolvimento pleno das gerações futuras.
O projeto alcançou importantes conquistas, já foi exportado para outros países da América Latina e ganhou o Prêmio Mulheres Inspiradoras na Ciência, concedido pela revista Nature . E uma conquista das ações do Parent In Science foi a campanha do "Maternidade no Lattes" .
Mantido pelo CNPq, o Currículo Lattes é o registro da vida pregressa e atual dos estudantes e pesquisadores do país, e desde 2021, as cientistas brasileiras conseguem inserir o período em que ficaram de licença após o nascimento dos filhos. O objetivo é que os editais de financiamento levem esse intervalo em consideração, para que a pausa inevitável não prejudique as mulheres na análise de currículo, tendo em vista que, as mulheres que optam por serem mães lutam para justificar a queda na produtividade durante a licença maternidade e, com isso, podem ser penalizadas nos editais de fomento. E, quando a maternidade vem ainda nos cursos de pós-graduação, o tempo de titulação aumenta.
Atualmente, o Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC/MCTI) possui 42 Pesquisadores e Tecnologistas, sendo que dos 21 Pesquisadores, 18 são homens e 3 são mulheres (apenas uma pesquisadora é mãe) e dos 21 Tecnologistas, 16 são homens e 5 são mulheres, sendo que quatro Tecnologistas são mães.
Em março de 2023, a mãe e tecnologista do LNCC, Carla Osthoff, participou da campanha sobre as mulheres na área de exatas, promovido pelo instituto GËANT, a maior e mais avançada rede do mundo que conecta mais de 50 milhões de usuários em 10.000 instituições na Europa, apoiando a inovação, a colaboração e o compartilhamento de conhecimento entre membros, parceiros e a comunidade de pesquisa e educação. A campanha está disponível no link : <https://twitter.com/GEANTnews/status/1630859190108397568>, no Twitter via #womensinsteam e também no Youtube: <https://youtu.be/ZGA3c_jnMag> .
Em 2017, foi fundada nos laboratórios escola da Universidade de Chicago (EUA), a Women in STEM com o objetivo de capacitar e inspirar meninas, oferecendo uma variedade de oportunidades no ensino médio. STEM é um acrónimo em língua inglesa para "Science, Technology, Engineering and Mathematics" (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática). A disparidade de gênero nas áreas STEM tem sido amplamente reconhecida, mas poucas iniciativas foram estabelecidas em uma idade mais jovem, quando as meninas decidem qual carreira querem seguir. A Women in STEM busca, não só que haja uma maior consciência do potencial das mulheres, mas também que as meninas sejam capazes de reconhecer o seu próprio potencial.
No Brasil, uma importante iniciativa é o programa Futuras Cientistas com o objetivo de ampliar o acesso de meninas e mulheres às áreas de Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática, incentivando-as a buscarem carreiras nessas áreas. Voltado para alunas de escolas públicas do ensino médio, obteve bons resultados: 205 alunas e professoras das redes públicas de ensino da Paraíba, de Pernambuco e de Sergipe que passaram pelo programa e cerca de 70% das participantes foram aprovadas em vestibular. Destas, 80% escolheram cursos nas áreas de Ciência e Tecnologia.
Nessa mesma linha, a Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) possui o Programa Mulheres e Meninas na Ciência com o objetivo de incentivar jovens mulheres a conhecerem as carreiras de pesquisa em ciência e tecnologia em saúde, promovendo “ações educativas e de divulgação científica que possam valorizar a participação de mulheres em áreas estratégicas para o desenvolvimento do país, buscando fortalecer, notadamente, o papel das cientistas para a redução de desigualdades sociais”.
Mas, quando se analisa a carreira e se faz um diagnóstico da participação no mestrado e no doutorado, a fixação das meninas é mais complicada e pode estar relacionada com questões da desigualdade de gênero na vida privada. Muitas interrompem a carreira para ter filhos e são prejudicadas, por exemplo, em avaliações na carreira.
Atualmente, temos mais mulheres participando em cargos de decisão nas universidades, nas cadeiras do bacharelado, recebendo titulações de mestras e doutoras. Contudo, apesar da luta histórica, dos avanços já alcançados e dos relevantes feitos e descobertas para a humanidade, para aquelas que escolheram a carreira científica ainda são muitos os obstáculos a serem enfrentados.
Para garantir a igualdade de oportunidades e reduzir as desigualdades, é preciso elaborar estratégias para supri-las, estimular políticas e ações direcionadas às mulheres, adotar atitudes benéficas e proativas, o que inclui acolher, respeitar e fornecer boas condições para que todas as mães (e pais) possam conciliar maternidade (paternidade) e carreira. Este é também um momento de grandes oportunidades, pois acompanhar o desenvolvimento de uma criança pode ser potencializador de talentos, de criatividade e de descobertas.
A convivência efetiva dos filhos com os pais é direito fundamental e necessária para que a criança se desenvolva de forma saudável. A proteção ao direito à convivência familiar está prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente e com especial proteção na Constituição Federal. Desta forma, a legislação prevê que é dever da família, da sociedade em geral e do poder público assegurar a efetivação dos direitos fundamentais das crianças, entre outros, o direito à convivência familiar. É fundamental reconhecer que as funções desempenhadas pelas famílias, quando estas as desempenham adequadamente, apresentam grande interesse público.
Em 1932, o Brasil oficializou o Dia das Mães, em todos os segundos domingos do mês de maio. A data, que já era celebrada oficialmente nos Estados Unidos, desde o início do século XX, teve origem na homenagem de uma filha (Anna Jarvis) à sua mãe (Ann Jarvis) com o objetivo de fazer com que a sociedade reconhecesse o esforço das mulheres que são mães e sua importância para a sociedade.
Nesse próximo Dia das Mães, a ser comemorado no dia 14 de maio de 2023, o LNCC deseja a todas as mães, que enfrentam os desafios de conciliar carreira, qualificação e maternidade, que o nosso meio se torne mais acolhedor, que haja mais discussão sobre temas e referências de mulheres reais que inspiram, especialmente na ciência e na tecnologia.
Créditos
Anmily Paula Martins (CM-LNCC), Genilda Machado Roli (CM-LNCC) e Simone Santana Elias (CM-LNCC)
Colaboração
Graziele Soares (SECIN-LNCC) e Tathiana Tapajós (SECIN-LNCC)
O Ponto Memória, pontuando ciência , é uma divulgação do Centro de Memória do LNCC
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