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Ponto Memória: Adeus a Ennio Candotti
No encerramento de 2023, fomos surpreendidos com a partida do querido Professor Ennio Candotti, aos 81 anos, e o Ponto Memória do LNCC presta nesta edição, uma homenagem carinhosa a essa brilhante personalidade da ciência brasileira. Nascido na Itália, Professor Ennio chegou ainda criança ao Brasil em 1952, país onde construiu sua trajetória como físico, pensador de políticas públicas, divulgador da ciência e defensor da natureza.
Exerceu quatro mandatos como presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (1989-1993 e 2003-2007) onde atuou como editor da Revista Ciência Hoje e Ciência Hoje das Crianças, periódico que marcou gerações no despertar do interesse científico. Sua liderança da SBPC foi importante estímulo à participação dos professores do ensino médio nas reuniões anuais e o fortalecimento das Secretarias Regionais, com maior penetração da Sociedade em todo o país.
Apaixonado pela Amazônia e defensor incansável da natureza, criou o Museu da Amazônia - MUSA, uma casa de cultura e ciência instalada na Reserva Florestal Duke de Manaus, onde investiu seus últimos anos de dedicação na busca de “musealizar a natureza e preservá-la”, como ele próprio definia o museu vivo que fundou.
Convicto da urgência em formar uma sociedade menos desigual, dedicou a maior parte de sua vida, às ações de divulgação científica tornando-se uma referência mundial na luta pela democratização do conhecimento científico, que o fez receber em 1998, o Prêmio Kalinga de Divulgação de Popularização da Ciência, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura.
Professor Ennio acreditava que a popularização do conhecimento deveria ser um compromisso natural de quem produz ciência, para ele, seria fundamental que os pesquisadores compartilhassem seus esforços e resultados à sociedade com mais facilidade: “O desafio não é simples; em cinquenta anos avançamos pouco. Talvez mais do que nos anos 50, saibamos hoje, com maior clareza, qual a importância de contar a todos o que fazemos e pensamos, para a democracia e para o próprio reconhecimento social do valor da pesquisa científica. Nas sociedades democráticas, educar e prestar contas do que se estuda e investiga constituem imperativo categórico fundamental” (Candotti, Ciência na Educação Popular).
Nos últimos dois anos, dentre inúmeras atividades, Professor Ennio atuou no Núcleo de Acompanhamento de Políticas Públicas da Fundação Perseu Abramo, espaço de resistência e reflexão de ações governamentais em temas relacionados à Ciência, Tecnologia e Inovação, com olhar atento sobre a Amazônia, buscando mecanismos para desenvolvimento sustentável na região. Participou da construção do Programa de Governo do Presidente Lula sobre a Amazônia, sendo convidado a integrar o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável CDESS, órgão de assessoramento direto ao Presidente da República na formulação de políticas e diretrizes.
Após sua partida inesperada, um importante Manifesto foi assinado por pesquisadores, parlamentares e sociedades científicas, sendo entregue ao Presidente Lula, com algumas recomendações: “Solicitamos que a Secretaria de Relações Institucionais, a Casa Civil da Presidência e a Secretaria Geral da Presidência analisem com a devida atenção a proposta do GT Amazônia, do Conselhão, da qual Ennio Candotti foi um dos coordenadores e onde ele defendeu uma proposta de educação superior e tecnológica integrada com as demandas amazônicas de conhecimento e engajamento dos seus profissionais recém formados num Programa similar ao Mais Médicos, com “Mais Engenheiros”, “Mais Farmacêuticos”, “Mais Sanitaristas”, etc., gerando dinamismos socioeconômicos e socioambientais com quem conhece e vive os problemas da Amazônia. Solicitamos também que, todas as cartas e documentos, que o professor Ennio Candotti enviou ao Governo, sejam entregues ao Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.”
Certamente, seria bom termos muitos Ennios lutando pelo país, pela democracia, pela sustentabilidade e pelo direito à vida. Esperamos que suas sementes floresçam com o mesmo vigor de suas convicções e encerramos o ano com a esperança de futuro, que somente a ciência é capaz de nos conceder.
Foto: Divulgação MUSA
Créditos
Simone Santana R. Elias (CM-LNCC), Anmily Paula Martins (CM-LNCC), Genilda Machado Roli (CM-LNCC), Graziele Soares (SECIN-LNCC), Tathiana Tapajóz (SECIN-LNCC)
O Ponto Memória é uma divulgação do Centro de Memória do LNCC
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