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Você sabe onde fica Sobral?
Vamos voltar no passado?
O ano é 1919: a primeira Guerra Mundial havia sido suspensa por armistício no ano anterior, São Paulo via diminuir o número de mortes pela Gripe Espanhola, as mulheres iam à praia de meia e sapatilhas, o Tratado de Versalhes foi assinado, nasciam o biólogo e geneticista brasileiro Crodowaldo Pavan, o cantor Nélson Gonçalves e o cantor e compositor Jackson do Pandeiro, entre outros tantos fatos notáveis no Brasil e no mundo.
Neste ano, estava previsto um eclipse solar total para o dia 29 de maio que, como sempre, poderia ser visto apenas de alguns lugares da Terra. Entre eles estavam a região de Sobral e a Ilha do Príncipe, na costa oeste da África. Quatro astrônomos ingleses partiram de Liverpool no dia 8 de março carregados com lunetas fotográficas, celostatos, fotoheliógrafos e espectrógrafos; na Ilha da Madeira, onde se dividiram em duas duplas, cada uma rumando para um desses dois locais privilegiados 1.
As viagens e o transporte dos delicados equipamentos foram difíceis. A equipe local no Brasil, liderada por Henrique Morize do Observatório Nacional, tinha infraestrutura e logística previamente bem preparadas graças ao apoio das autoridades locais e do próprio povo de Sobral, entre outros.
Mas, por que esse eclipse era tão importante?
Porque depois de anos de guerra, de revoluções, epidemia... finalmente a ciência, em particular a Astronomia, podia voltar a ser desenvolvida livremente, principalmente o acompanhamento dos raros eclipses solares totais ao redor do mundo.
Quatro anos antes, em 1915, o físico Albert Einstein havia proposto a Teoria da Relatividade Geral (TRG). Uma primeira confirmação da TRG veio quando ele próprio recalculou a órbita de Mercúrio1. A segunda confirmação deveria vir da observação de certas estrelas durante eclipses solares totais; estando estas estrelas muito próximas à borda (limbo) do Sol, sua luz deveria ser minimamente desviada da trajetória inicial pela grande massa do Sol. O valor previsto pela TRG era cerca de duas vezes aquele previsto pela física de Isaac Newton. O eclipse de 1919 era a ocasião ideal para esse teste!
Em que consistia esse teste?
Quando a Lua encobrisse a superfície visível do Sol, a atmosfera da Terra deixaria de ser clara e as estrelas mais brilhantes poderiam ser vistas, como se fosse de noitinha. As posições dessas estrelas seriam anotadas e depois comparadas com as posições já conhecidas, medidas em outra época do ano, de noite. Se as posições fossem as mesmas, não haveria comprovação das previsões dadas pela TRG de Einstein. Se houvesse diferença, restaria ver se ela seria a mesma prevista teoricamente.
O resultado saiu na hora?
Não. Naquela época não havia câmeras digitais e nem aqueles rolos de filmes (“negativos”) do final do século passado: as imagens eram registradas em grandes placas fotográficas de vidro! Elas foram levadas para o Rio de Janeiro a fim de serem tratadas e depois analisadas com micrômetros especiais porque as medidas de distâncias sobre as placas exigiam alta precisão.
O eclipse durou apenas 5 minutos e 12 segundos, mas foi suficientpara a obtenção dos dados necessários. O desvio medido foi de quase 1,79 2 segundos de arco, praticamente igual aos 1,74 previstos! A física newtoniana previa cerca de 0,84 1 segundos de arco. A TRG havia sido comprovada mais uma vez!
O anúncio público foi feito em 6 de novembro de 1919, em Londres, gerando comoção geral no mundo!
“A questão que minha mente formulou foi respondida pelo radiante céu do Brasil - Albert Einstein”.
Isto foi há 100 anos!
Agora em 2019, a Prefeitura de Sobral planejou a reinauguração do Museu do Eclipse e várias outras atividades comemorativas em transmissão simultânea com a Ilha do Príncipe3. Vários eventos foram planejados por instituições de ensino superior e pesquisa no Brasil e sociedades científicas, tais como a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC, e a Sociedade Astronômica Brasileira - SAB 4