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Respeito e reparação marcam inauguração do Memorial das Mãos Negras que edificaram o Jardim Botânico do Rio de Janeiro
A ministra Marina Silva e o presidente do JBRJ Sergio Besserman Vianna reunidos no evento com os integrantes do Grupo de Trabalho e da Comissão Consultiva do Memorial, os representantes religiosos e convidados | Foto: Matheus dos Santos/CRS JBRJ
Foi inaugurado, na manhã desta sexta-feira, 29/11, o Memorial das Mãos Negras que edificaram o Jardim Botânico do Rio de Janeiro. O novo espaço tem como objetivo trazer ao conhecimento do público uma parte da história até então silenciada: a contribuição fundamental de homens e mulheres negros na edificação da instituição.
Em seu discurso na cerimônia de inauguração, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, destacou que se trata de um ato de reparação às pessoas que, na condição de escravizadas, não tiveram sua autoria e sua realização reconhecidas na construção de algo que veio a ser de grande benefício para todos, o Jardim Botânico do Rio de Janeiro. “Todas as pessoas carecem de autoria, de realização e de reconhecimento. Sem reconhecimento, a gente não consegue se constituir culturalmente, socialmente e moralmente”, afirmou a ministra.
O presidente do Jardim Botânico, Sergio Besserman Vianna, lembrou que o presidente Lula havia pedido desculpas às pessoas escravizadas em nome do Estado brasileiro e, em nome do JBRJ, fazia o mesmo naquele momento. Ele também agradeceu à ministra Marina Silva pela imediata compreensão e suporte para a iniciativa do Memorial e para as ações subsequentes, que incluirão a pesquisa científica sobre os achados arqueológicos, a pesquisa histórica e a internalização de uma cultura antirracista na instituição. Besserman também agradeceu aos integrantes do Grupo de Trabalho (GT) que propôs e elaborou o projeto, à Comissão Consultiva, aos diretores e à toda a equipe que trabalhou na construção do novo espaço.
O coordenador de Engenharia, Restauração e Manutenção do JBRJ, Marcelo Ferreira, falou em nome do GT e da equipe de trabalhadores que ergueu o memorial. “Entregamos mais do que uma obra, entregamos a realização de um sonho em comum”, disse, lembrando que os primeiros jardineiros do JBRJ foram trabalhadores negros escravizados.
O professor babalawô Ivanir dos Santos falou em nome da Comissão Consultiva do projeto, ressaltando que a inauguração do Memorial se tratava realmente de um momento histórico. “Esse momento mostra que vale a pena estarmos juntos, dialogarmos e construirmos uma sociedade plural, com respeito à diversidade”.
Ivanir dos Santos também conduziu o ato interreligioso que se realizou no interior do Memorial, momento em que falaram também o rabino Nilton Bonder, o padre Damasceno do Santuário do Cristo Redentor e o pastor Kléber Lucas. O evento contou ainda com a presença dos deputados federais Jandira Feghali e Eduardo Bandeira de Mello e representantes da Prefeitura do Rio de Janeiro.
O Memorial - A proposta do Memorial das Mãos Negras que edificaram o Jardim Botânico do Rio de Janeiro é reconhecer e visibilizar esses trabalhadores cujos nomes e histórias foram apagados das narrativas oficiais. Assim, são tornados públicos os nomes e a participação de homens, mulheres e crianças escravizados na construção do Jardim Botânico na primeira metade do século XIX. A obra visa promover a valorização histórica e cultural dos trabalhadores negros, criando um espaço de memória e reflexão. Localizado entre o Museu do Jardim Botânico e a Biblioteca Barbosa Rodrigues, o Memorial das Mãos Negras ocupa uma região simbólica, onde foram colocadas ossadas encontradas em terreno da Embrapa Solos, vizinho ao Jardim Botânico, entre os anos de 1979 e 1981.
O Memorial conta com placas informativas sobre a história dos trabalhadores negros e o contexto da construção do Jardim Botânico. O local também terá um espaço expositivo para artistas negros. Ainda compõe o espaço um banco para contemplação, com jardineiras integradas, compostas por plantas ritualísticas e africanas, escolhidas para valorizar a ancestralidade e as tradições culturais afro-brasileiras.
O Grupo de Trabalho que propôs e elaborou o Memorial é composto pelo engenheiro Marcelo Ferreira, a coordenadora do Centro de Responsabilidade Socioambiental do JBRJ, Deborah Tavares Marinho e a diretora de Conhecimento, Ambiente e Tecnologia, Marcia Aparecida Lobianco Faraco. O projeto arquitetônico é da arquiteta Monica Rocio Neves, também servidora do JBRJ.
O Conselho Consultivo é coordenado pelo prof. dr. babalaô Ivanir do Santos e teve como integrantes também os professores Alda Heizer, Helena Theodoro, Júlio César Medeiros da Silva Pereira, Mariana Gino e a diretora Marcia Faraco.