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Relatório coordenado por Kew tem colaboração do Jardim Botânico do Rio de Janeiro
JBRJ, 30/09/2020 - 12:38
A flora mundial é subutilizada e sua riqueza está sendo exaurida antes mesmo de ser conhecida, revela o 4º Relatório Estado Mundial das Plantas e Fungos (State of the World’s Plants and Fungi - SOTWPF), lançado nesta quarta-feira, 30 de setembro de 2020, pelo Real Jardim Botânico de Kew (Reino Unido). O documento traz dados que mostram como a humanidade está utilizando as plantas e fungos, o que não está sendo aproveitado e o que corremos o risco de perder.
O Relatório se baseia nos dados de 12 artigos científicos que estão sendo publicados com ele, e é resultado da colaboração de 210 cientistas de 42 países. As pesquisadoras Rafaela Campostrini Forzza e Marli Pires Morim, do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, participaram do artigo sobre "Colaboração internacional entre institutos baseados em coleções para deter a perda de biodiversidade e descobrir as propriedades úteis de plantas e fungos". Rafaela também colaborou nos artigos "Coleções de Plantas e fungos: situação atual, perspectivas futuras" e "Novas descobertas científicas: plantas e fungos".
Há aproximadamente 350 mil espécies de plantas e 148 mil espécies de fungos identificados pela ciência até o momento em todo o mundo. Esses números mudam a cada dia, pois mais espécies são conhecidas à medida que as pesquisas avançam. Apenas em 2019, os taxonomistas descreveram 1.942 novas plantas e 1.886 novos fungos. Rafaela Forzza destaca que "o Brasil foi o país que mais publicou espécies novas de plantas – 216 no total em 2019. Por outro lado, a China foi o país que mais publicou espécies de fungos, sendo 377 novas descrições para a ciência”. O Brasil está no topo da lista das novas descobertas de plantas desde 2008.
Apesar de tanta diversidade, os cientistas constataram que a humanidade aproveita pouco e mal dessa riqueza natural. Para se ter uma ideia, os seres humanos ingerem 90% de sua energia alimentar a partir de apenas 15 espécies de plantas, e 4 bilhões de pessoas dependem fundamentalmente de 3 tipos de cultivo: arroz, milho e trigo.
Assim, mudanças climáticas, pragas e outros problemas podem ameaçar a sobrevivência de imensas populações. Por outro lado, as pesquisas levantaram 7.039 espécies de plantas comestíveis que podem se tornar os alimentos do futuro. Esse potencial também pode estar em novas espécies, recém conhecidas. No Brasil foram descritos, em 2019, dois parentes silvestres da mandioca (Manihot esculenta) e também parentes silvestres do cará (Dioscorea) e da batata-doce (Ipomoea).
Do mesmo modo, os cientistas identificaram 2.500 plantas que poderiam ser utilizadas como combustível ou bioenergia, mas 80% da produção de biocombustível industrial global atualmente depende de apenas 6 cultivares - milho, cana-de-açúcar, soja, dendê, colza e trigo.
O mais grave é que grande parte dessa riqueza está sendo extinta pela ação humana, inclusive espécies que ainda nem puderam ser conhecidas e estudadas. Com o progresso nos métodos de avaliação e novas abordagens analíticas, os pesquisadores puderam estimar que 2 em cada 5 espécies de plantas no mundo estão ameaçadas de extinção.
Entre elas, estão 723 espécies medicinais, como a Warburgia salutaris (pimenta-do-reino), cuja casca é utilizada em tratamento de problemas respiratórios, e a sul-americana Brugmansia sanguinea, tradicionalmente utilizada para tratar problemas circulatórios e fonte de atropina (substância que atua como antídoto em alguns tipos de envenenamento e intoxicações). O extrativismo predatório é uma das maiores ameaças à sobrevivência dessas espécies.
No esforço pelo conhecimento, conservação e boa utilização das plantas e fungos, os pesquisadores têm recorrido a análises de DNA para traçar linhagens evolutivas capazes, por exemplo, de indicar espécies com potenciais de uso semelhantes e os locais onde há maior probabilidade de que elas ocorram.
Já a IA (inteligência artificial) é capaz de detectar áreas com muitas espécies ainda não avaliadas e que podem estar ameaçadas, contribuindo para acelerar as avaliações de risco de extinção e identificar áreas prioritárias para conservação.
Acesse a íntegra do State of the World’s Plants and Fungi – SOTWPF.
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