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Projeto contemplado pela Faperj abrirá linha de pesquisa inovadora no Jardim Botânico do Rio de Janeiro
O projeto da pesquisadora Carine Emer junto ao JBRJ utilizará teoria de redes para integrar ecologia, sociologia e economia em estudos que envolvem segurança alimentar, serviços ecossistêmicos e conservação da biodiversidade.
Crescer e se desenvolver sem destruir o planeta é um dos principais desafios do mundo de hoje, gerando a busca por possíveis alternativas para conciliar o bem-estar humano com a conservação da natureza. Estudar e desenvolver métodos para avaliar iniciativas nesse sentido é a proposta do projeto "Ecologia de redes aplicada a sistemas socioecológicos: segurança alimentar, serviços ecossistêmicos e conservação da biodiversidade", coordenado pela pesquisadora Carine Emer, e que será desenvolvido junto ao Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
O projeto foi um dos 50 selecionados no Edital FAPERJ Nº 40/2021 - Programa de Apoio ao Jovem Pesquisador Fluminense sem Vínculo em ICTs do Estado do Rio de Janeiro, cujo resultado foi divulgado em 13 de janeiro. Além da bolsa para a pesquisadora proponente e dos recursos para equipamentos, passagens e outros itens de custeio, o programa garante ainda uma bolsa de iniciação científica e outra de pós-doutorado.
Carine Emer é bióloga graduada pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos, com mestrado pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e doutorado pela Universidade de Bristol, Inglaterra. Dedica-se a pesquisas sobre redes de interações ecológicas entre plantas e animais – como a polinização e a dispersão de sementes, por exemplo – e o impacto das ações humanas sobre elas. Também tem interesse em estratégias para sustentabilidade por meio da conservação de serviços ecossistêmicos fornecidos por essas interações.
"Usamos apenas 12 espécies de plantas e 5 de animais para abastecer 75% da cadeia alimentar humana no planeta. Estes números são extremamente desproporcionais à enorme (agro) biodiversidade que possuímos, e torna o sistema frágil e pouco robusto a perturbações, como alterações nos regimes hídricos, propagação de pragas e mudanças no uso da terra. Se queremos garantir um futuro saudável para todos, precisamos de soluções sustentáveis e socialmente justas, baseadas em evidências científicas, e que se adaptam ao manejo local de recursos naturais para alcançar melhor nutrição, aliviar a pobreza e garantir o funcionamento dos ecossistemas", explica a pesquisadora.
Três sistemas serão objeto da pesquisa coordenada por Emer. O primeiro é aquático, em lagos formados ao longo do Médio Rio Juruá, na Amazônia brasileira, onde um programa bem-sucedido de conservação de base comunitária realiza o manejo tradicional do pirarucu (Arapaima gigas) – o maior peixe ósseo de água doce do planeta. O objetivo é otimizar o zoneamento espacial para conservação da biodiversidade associada à exploração de recursos naturais, utilizando banco de dados e redes socioecológicas multicamadas. Em um segundo momento, o projeto irá replicar o estudo em um sistema terrestre, utilizando o açaí (Euterpe oleraceae e E. precatoria) como espécie chave em processos ecológicos de metacomunidade, e como recurso alimentar e financeiro para a população local. Uma questão que a pesquisa deve abordar, entre outras, é até que ponto o açaí pode ser extraído comercialmente sem que isso prejudique as interações entre plantas e animais, fundamentais para a manutenção da floresta. O desenvolvimento teórico, as ferramentas e os métodos desenvolvidos para trabalhar com sistemas socioecológicos na Amazônia serão finalmente aplicados no estudo de bioeconomia no uso da pimenta-rosa (Schinus therebenthifolius), no município de São Pedro da Aldeia, Rio de Janeiro.
Um dos pontos principais do projeto, segundo a pesquisadora, é que ele busca integrar áreas de conhecimento que “não conversam muito” – ecologia, sociologia e economia. Também é inovador ao se propor a desenvolver a teoria de redes no âmbito das redes socioecológicas. Originária da matemática e da física, essa teoria tem sido utilizada em diferentes áreas, como a neurociência, a psicologia e o estudo das redes de comunicação.
Outro benefício esperado é que tanto os pesquisadores do JBRJ quanto os alunos dos cursos de pós-graduação da Escola Nacional de Botânica Tropical terão acesso a uma nova ferramenta teórico-prática para suas pesquisas.
"O edital previa, dentre outros objetivos, apoiar projetos de pesquisa cientificamente sólidos, de qualidade excelente e com metodologias inovadoras, visando a nucleação de novos grupos de pesquisadores através da criação de novas linhas de pesquisa; estes também são aspectos relevantes para a pesquisa no JBRJ. O projeto coordenado pela Carine Emer preenche todos estes requisitos, uma vez que busca justamente estabelecer uma nova linha de pesquisa no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, relacionada a Redes Ecológicas aplicadas a Sistemas Socioecológicos, como a otimização de um zoneamento espacial pesqueiro, a quantificação de causa-e-efeito de interações planta-frugívoro e a modelagem da colheita da pimenta-rosa e seus componentes ecológicos, sociais e econômicos. Além de constituir abordagem única e inovadora, possibilitará o estabelecimento também de redes de interações com pesquisas em curso no JBRJ, como aquelas sobre plantas medicinais, relação inseto-planta e ecologia vegetal em geral", afirma o diretor de Pesquisas Científicas do Jardim Botânico, Renato Crespo Pereira.
Mais informações sobre o Programa de Apoio ao Jovem Pesquisador Fluminense sem Vínculo em ICTs do Estado do Rio de Janeiro no site da Faperj.