Notícias
Pesquisadores revelam nova espécie de Tarumã das montanhas do Espírito Santo que homenageia o povo pomerano
Os Tarumãs, do gênero botânico Vitex, são representados por cerca de 250 espécies distribuídas em diversas regiões com clima tropical no planeta. No Brasil, eram conhecidas até então 34 espécies, mas agora, em um artigo publicado na revista científica Kew Bulletin, do Jardim Botânico Real Kew, na Inglaterra, pesquisadores brasileiros acabam de adicionar mais uma espécie a essa lista, o Vitex pomerana.
A nova espécie de Tarumã foi batizada como Vitex pomerana, em referência ao povo pomerano, que habita a região de onde a planta foi encontrada. "Nós quisemos fazer uma homenagem ao povo pomerano, originário de uma região entre a Polônia e a Alemanha, que imigrou para o Brasil e atualmente se concentra em alguns municípios do interior do Espírito Santo. Como a planta, por enquanto, é conhecida apenas dos municípios de São Roque do Canaã e Santa Leopoldina, que têm forte influência desse povo, achamos que, com esse nome, também faríamos referência à área de ocorrência da espécie”, revela o botânico Elton John de Lírio, descendente também do povo pomerano.
"As espécies de Tarumãs geralmente ocorrem em florestas, sendo árvores ou arvoretas de até 15 metros de altura, com folhas compostas, que lembram a palma de uma mão, onde cada dedo é um folíolo", conta o pesquisador e especialista na família dos Tarumãs, Lamiaceae, Guilherme de Medeiros Antar, da Universidade Federal do Espírito Santo. "A nova espécie que descobrimos é um arbusto, que cresce em áreas abertas sobre rochas, com folhas de apenas um folíolo. Esse tipo de hábito não é comum para os Tarumãs da Mata Atlântica, como é o caso dessa nova espécie, mas sim para Tarumãs do Cerrado. Ainda, esse padrão de folha só ocorre em outras duas espécies brasileiras de Vitex, uma das áreas de pedra da Caatinga e uma outra da Floresta Amazônica, o que facilita o reconhecimento dessa nova espécie", complementa.
O Tarumã-pomerano cresce sobre afloramentos rochosos em montanhas da Região Serrana do Espírito Santo. "Esses afloramentos rochosos são importantes componentes da paisagem do Espírito Santo, sendo cobertos por uma vegetação específica e ainda relativamente pouco conhecida. Nos últimos anos, revelamos várias espécies novas desses ambientes, que têm se mostrado um importante refúgio de biodiversidade", destaca Joelcio Freitas, pesquisador do Instituto Nacional da Mata Atlântica, em Santa Teresa. "Esse Tarumã foi descoberto durante os estudos que o Instituto Nacional da Mata Atlântica, a Universidade Federal do Espírito Santo e o Jardim Botânico do Rio de Janeiro estão fazendo na região desde 2005, mas só agora pôde ser formalmente estudado e descrito”, conta.
A nova espécie mal foi descoberta e os pesquisadores alertam para seu risco de extinção. "No trabalho, mostramos que a espécie se distribui em apenas dois afloramentos rochosos, estando sujeita a ameaças como incêndios, pressão de espécies invasoras, e, principalmente, da extração não sustentável em seu habitat. Também mostramos que a área de distribuição não abrange nenhuma unidade de conservação. Por conta disso, sugerimos que ela deve entrar na "Lista de Espécies Ameaçadas do Brasil", destaca Claudio Nicoletti de Fraga, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. "A descoberta de novas espécies e seu mapeamento adequado é fundamental para ações de conservação, pois, sabendo quais espécies existem e onde elas estão, é possível direcionar essas ações para áreas prioritárias", finaliza.
Com a descoberta dessa espécie, o Brasil contabiliza 650 espécies de plantas com flores que só ocorrem na Mata Atlântica do Espírito Santo. Mas, de acordo com os pesquisadores autores do trabalho: "Esse número tende a aumentar à medida que os estudos como esse vão avançando, porém nossa grande preocupação é com as ameaças que muitas delas estão sujeitas”.