Notícias
Pesquisadores esclarecem enigma de quase um século sobre flor amazônica
Em uma era onde cada vez mais as pessoas desejam soluções e respostas rápidas, quase instantâneas, é preciso compreender que a produção de conhecimento cientificamente rigoroso sobre um assunto é um trabalho que pode levar muitas décadas e o esforço de diferentes especialistas. Algo que pode parecer simples para o público – a correta determinação do grupo a que pertence uma planta - às vezes necessita de muito estudo. Esse é o caso da Dialypetalanthus fuscescens Kuhlm., descrita pela primeira vez pelo botânico João Geraldo Kuhlmann em 1925, e que desafiou os pesquisadores por quase um século. Um artigo publicado 97 anos depois na revista Plant Ecology and Evolution, com a participação do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, finalmente resolveu a questão.
A D. fuscescens foi coletada na Amazônia por Adolpho Ducke (1876-1959) e plantada no Arboreto do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, onde é cultivada até hoje, tendo florescido pela primeira vez em 1942. Esse indivíduo é o único exemplar cultivado em um Jardim Botânico no mundo, destacando uma de suas missões, a conservação ex situ das plantas. Kuhlmann havia classificado Dialypetalanthus como um gênero de uma só espécie (a D. fuscescens) pertencente à família Rubiaceae (a família do café). Porém, sua flor tinha algumas características tão diferentes, que os pesquisadores Rizzini e Occhioni postularam, em 1949, que se tratava de uma nova família de plantas, que chamaram de Dialypetalanthaceae.
Essa dúvida permaneceu até 2000, quando estudos filogenéticos moleculares mostraram que Kuhlmann tinha razão, mas as características morfológicas da flor continuaram a intrigar os cientistas. Mesmo assim, a disparidade das características de suas flores em relação às outras da mesma família ainda era um enigma.
A pesquisadora Karen L. G. De Toni (JBRJ) explica que uma nova discussão sobre a morfologia carpelar de Dialypetalanthus foi iniciada no mestrado de Rogério Figueiredo, orientado por ela no Museu Nacional, o qual foi publicado na Acta Botanica Brasilica em 2017. Agora, em outubro de 2022, foi finalmente esclarecida a relação da morfologia das flores da D. fuscescens com a de outras espécies de Rubiaceae, através da publicação do artigo “Floral ontogeny links Dialypetalanthus (Condamineeae) with the floral developmental morphology of other Rubiaceae”, do qual Karen é coautora, na revista Plant Ecology and Evolution.