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Pesquisadores do Jardim Botânico do Rio de Janeiro descrevem nova espécie de planta de Madagascar
Em 2016, durante o doutorado, o pesquisador Leandro Jorge Telles Cardoso encontrou no herbário do Muséum national d'Histoire naturelle, em Paris, uma planta intrigante, que não se parecia com nenhuma das espécies conhecidas para o grupo de plantas que estava estudando.
Uma foto dessa mesma planta, postada em 2018, chamou sua atenção e do seu orientador, João Marcelo Alvarenga Braga. Os dois pesquisadores decidiram investigar esse registro mais a fundo e concluíram tratar-se realmente de uma nova espécie para a ciência.
A foto que intrigou os pesquisadores foi postada na rede INaturalist em 2018, ano em que Leandro concluía o doutorado. Conhecedor da família de plantas parasitas Balanophoraceae, tema de seu mestrado e doutorado na Escola Nacional de Botânica Tropical do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (ENBT/JBRJ), Leandro pôde confirmar a ocorrência de características que ajudavam a circunscrever uma nova espécie, coletada e registrada nas coleções de museus pela primeira vez somente 1986!
A foto havia sido tirada pelo colaborador Neek Helme a oeste da península de Masoala, no nordeste da ilha de Madagascar, na África, a mais de 9 mil km de distância do Rio de Janeiro, em localidade muito próxima às dos registros analisados por Leandro no museu francês. No decorrer do estudo para confirmar a identidade da nova espécie, os pesquisadores analisaram mais de 300 exsicatas (amostras de plantas) em herbários europeus, americanos, africanos e brasileiros, além de muitas imagens e buscas por plantas vivas, abrangendo todas as espécies dos gêneros Thonningia e Langsdorffia.
Batizada como Thonningia alba, a espécie foi descrita em artigo publicado em janeiro de 2024 no periódico Kew Bulletin. T. alba é uma planta que parasita raízes de outras plantas e, até onde se sabe, é endêmica (exclusiva) das florestas pluviais daquela região de Madagascar, um dos locais mais biodiversos e ameaçados do planeta.
Poucas amostras da T. alba foram encontradas até hoje – foram identificados apenas quatro registros, nos herbários P (Museu Nacional de História Natural de Paris) e MO (Jardim Botânico do Missouri – EUA). Isso, somado à possível perda de habitat pela crescente ocupação humana na península de Masoala, levou os pesquisadores a considerarem a espécie, numa primeira avaliação, como Em Perigo (EN) de extinção segundo as categorias da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).
Na África, algumas espécies da família Balanophoraceae são utilizadas na medicina tradicional e servem de alimento a humanos e outros primatas, como bonobos e lêmures. A família tem agora cinco gêneros e sete espécies registradas naquele continente, quatro delas em Madagascar. Mas o Brasil é o país com a maior riqueza de Balanophoraceae no mundo, contando com seis gêneros e 15 espécies. Leandro Cardoso, atualmente pesquisador colaborador do JBRJ, coordena projeto de pesquisa sobre essa família, que ocorre em todo o território brasileiro.