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O mundo mudou e a divulgação científica precisa mudar também
A aula inaugural 2022 da Escola Nacional de Botânica Tropical do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (ENBT/JBRJ), teve como convidado o professor Ismar de Souza Carvalho, diretor da Casa da Ciência da UFRJ. Ele falou sobre como a percepção de mundo mudou nos últimos 50 anos e como isso afeta a prática da difusão e popularização da ciência, tendo como foco a relação entre a cultura popular e a difusão da informação.
Os novos alunos receberam as boas-vindas do diretor da ENBT, Leandro Freitas, que falou da importância de uma formação acadêmica ampla, que capacite os cientistas para o diálogo com o público em geral. A presidente do JBRJ, Ana Lúcia Santoro, destacou a relevância do tema da Aula Inaugural, especialmente para a ENBT, enraizada numa instituição de pesquisa que também é um local turístico, apontando a necessidade de que o conhecimento científico chegue ao público e transforme de fato a sociedade.
Ismar Carvalho, que é professor do Instituto de Geociências da UFRJ e pesquisador 1-A do CNPq, apontou algumas transformações pelas quais a sociedade passou nas últimas décadas, principalmente na área da informação. Ele observou que a academia, de forma geral, sofre de uma incompreensão do novo – do mundo que vivemos hoje, sendo necessário superar preconceitos para poder dialogar com as novas gerações.
Uma das estratégias é compreender os sistemas virais de informação e como criar, no público, a expectativa de algo novo, de algo único, incluindo sensações no modo de expor a ciência, utilizando diferentes linguagens e suportes. Carnaval, turismo científico, música, cursos, dança, jogos, são algumas possibilidades que podem ser mais exploradas, por exemplo.
“Divulgação científica não é um apêndice da atividade científica”, afirmou o palestrante, defendendo que a valorização do ensino, da pesquisa e da extensão deve se dar de forma igualitária. Ele destacou ainda a necessidade de implementação de infraestrtura adequada para as ações de popularização da ciência e de um bom planejamento, com estabelecimento de cronogramas para início e finalização das atividades.
O professor alertou também que há sempre algum interesse econômico por trás das ações negacionistas – daqueles que procuram atacar conhecimentos científicos bem estabelecidos, visando, principalmente, criar controvérsias que geram monetização para suas redes. E, nesse sentido, a não interação com os agentes negacionistas nas mídias é uma possível estratégia para lidar com o problema.
Carvalho considera que a popularização da ciência deve ter por objetivo principal a sensibilização das pessoas para o conhecimento científico que possa embasar políticas públicas e, para isso, devem ser levadas em conta as diferenças geracionais. Para ele, a visão dos jovens hoje está menos preocupada com a memória e mais centrada na busca de uma felicidade que se constrói na temporalidade instantânea dos flashes e dos posts .
A ENBT recebeu, este ano, 33 novos alunos em seus dois programas de Pós-Graduação - em Botânica (mestrado e doutorado acadêmicos) e em Biodiversidade em Unidades de Conservação (mestrado e doutorado profissionais).
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Fotos: Rafael Lucena