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Nova ferramenta oferece esperança na luta contra a extinção de plantas
Pesquisa publicada na revista científica Conservation Biology evidencia que a transformação dos meios de produção de cultivos, pecuária e madeira para tornar estas atividades sustentáveis reduziria os maiores responsáveis pelo risco de extinção de espécies de plantas terrestres em diversos ecossistemas. A pesquisa utilizou dados do Brasil, África do Sul e Noruega em uma métrica inovadora para identificar oportunidades de reduzir o risco de extinção de espécies de plantas. O trabalho foi uma colaboração entre cientistas e conservacionistas internacionais, liderada pela Universidade de Newcastle, com participação integral de membros do Centro Nacional de Conservação da Flora - CNCFlora, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Os autores aplicaram a nova métrica STAR (Species Threat Abatement and Restoration metric) em espécies de plantas vasculares que foram avaliadas quanto ao risco de extinção, de modo a compor a lista vermelha nacional. A constatação comum entre os três países foi o considerável risco que as atividades agrícolas representam para as espécies de plantas.
No Brasil, o risco de extinção das 2.791 espécies de plantas endêmicas incluídas na pesquisa poderia ser reduzido em 29% ao enfrentar o risco proveniente das atividades agrícolas. As 1.894 espécies de plantas endêmicas estudadas na África do Sul também poderiam ter seu risco de extinção reduzido em 36%, enquanto a Noruega poderia ver uma redução de 54% no risco de extinção das 301 espécies de plantas terrestres estudadas.
A situação única de cada país foi revelada ao identificar mais oportunidades para reduzir o risco de extinção de espécies. No Brasil, mitigar o risco proveniente da expansão urbana poderia reduzir o risco de extinção de espécies em 21%, enquanto a mitigação do risco proveniente de incêndios, que são causados frequentemente a partir de atividades antrópicas, e ampliado pelas mudanças climáticas e desmatamento, poderia reduzir o risco de extinção em mais 10%. Na África do Sul, espécies invasoras representam um grande risco para a flora endêmica, e enfrentar essa ameaça poderia reduzir o risco de extinção de plantas em 21%. Na Noruega, país de alta latitude, uma redução de 39% no risco de extinção de espécies poderia ser alcançado ao enfrentar as ameaças provenientes das mudanças climáticas, o que é um desafio particularmente difícil para a conservação, considerando que as mudanças climáticas não podem necessariamente ser combatidas localmente.
A Drª. Louise Mair, da Newcastle University's School of Natural and Environmental Sciences da Universidade de Newcastle, que liderou a pesquisa, afirmou: "Este estudo demonstra a importância de considerarmos as necessidades de conservação de uma grande variedade de espécies. Embora a maior oportunidade de reduzir o risco de extinção de plantas terrestres e vertebrados terrestres, como anfíbios, pássaros e mamíferos, venha de mitigar ameaças da agricultura, a importância relativa de enfrentar outras ameaças foi diferente para plantas em comparação com um estudo anterior sobre vertebrados terrestres".
"Embora poucas espécies endêmicas ocorram na Noruega, este estudo mostra que a Noruega pode, de fato, contribuir para a redução dos riscos de extinção globais através da manutenção de populações de plantas vasculares ártico-alpinas", disse a Dra. Magni Olsen Kyrkjeeide do Norwegian Institute for Nature Research.
O MSc. Eduardo Fernandez, coordenador de Projetos do Núcleo de Avaliação do Estado de Conservação de Espécies da Flora (NuAC), do CNCFlora do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico de Rio de Janeiro (JBRJ), e co-chair da IUCN SSC Brazil Plant Red List Authority, que liderou a participação brasileira no estudo, acrescenta: "Além de demonstrar a importância de enfrentar as diferentes ameaças que afetam a persistência da flora brasileira, este estudo também destaca o considerável esforço de pesquisa realizado pelo Brasil até agora e a importância de investir na expansão de avaliações de risco de extinção para detectar espécies ameaçadas e quase ameaçadas". Além disso, Eduardo Fernandez destaca que “desenvolver pesquisas sobre ações mais eficazes para combater e mitigar a perda de espécies em cenários de mudanças climáticas, como a restauração de paisagens florestais, pode nos ajudar a trazer de volta da beira da extinção milhares de espécies que atualmente enfrentam alto risco e, assim, permitir o alcance de metas nacionais e internacionais de conservação da biodiversidade".
As listas vermelhas nacionais fornecem um recurso essencial para permitir que essas análises capturem uma maior diversidade de espécies; apenas 13% das espécies de plantas têm uma avaliação global do risco de extinção. No entanto, países como a África do Sul realizaram avaliação nacional de todas as 20.401 espécies de plantas em seus territórios, enquanto o Brasil avaliou quase 22% (7.530 de 35.683 espécies) de sua flora altamente diversa. Análises que utilizam dados de listas vermelhas nacionais, como apresentadas nesse estudo, não apenas facilitam a inclusão de uma maior diversidade de espécies, mas também fornecem insights sobre o contexto de conservação único de cada país.
A métrica STAR aplicada nesse estudo fornece uma ferramenta para permitir que os tomadores de decisão locais e nacionais avaliem sua contribuição potencial para a redução global do risco de extinção de espécies, permitindo-lhes participar de processos de políticas de conservação internacionais através da lente do contexto nacional. Essas análises serão cruciais para apoiar a conservação de espécies no pós-2020 Global Biodiversity Framework que foi acordado na Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica, em Montreal, no Canada, no final de 2022.