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Ilustração botânica: a arte a serviço da ciência
Por Alessandra Holanda
Um pesquisador, um artista, um observador da natureza. Traçando formas e misturando cores, buscando alcançar a representação mais precisa da planta observada. Criando um registro duradouro daquela espécie. Unindo a sensibilidade artística ao rigor científico, o ilustrador botânico é capaz de criar novas representações do mundo vegetal. Seja em aquarela, grafite ou nanquim, quando arte e ciência se encontram, a natureza ganha uma nova perspectiva.
De grande importância para a disseminação do conhecimento científico e para conservação da natureza, a ilustração botânica é uma ramificação da ilustração científica. Jogos de luzes e sombras, desenhos realistas e com riqueza de detalhes tornaram-se fonte de conhecimento sobre as mais diversas espécies botânicas.
Mestre em botânica pela Escola Nacional de Botânica Tropical (ENBT), do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, a ilustradora Maria Alice de Rezende encontrou na ilustração botânica uma paixão. Formada em Artes Plásticas pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ela descobriu ainda na faculdade uma aptidão para desenhar plantas.
Orientada por um professor do seu curso, a artista buscou conhecer mais sobre a área e transformou aquela centelha de curiosidade em sua profissão. Em 2024, Maria Alice ganhou o prêmio Jill Smythies de ilustração botânica, concedido pela Linnean Society of London. Ela é a primeira ilustradora da América do Sul, na área da Botânica, a receber esse prêmio. Há mais de 20 anos, Maria Alice trabalha junto a pesquisadores do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
“Não tem como ilustrador exercer o seu papel sozinho, é um trabalho em conjunto entre o pesquisador e o ilustrador. Essa troca com o pesquisador também é importante porque ele sabe o que ele quer daquela espécie, então é um trabalho em conjunto entre a ciência e a arte.” relata a ilustradora.
Unindo o mundo das artes aos conhecimentos científicos, o ilustrador botânico consegue captar detalhes de uma determinada espécie e aproximar o observador de plantas que muitas vezes são conhecidas, mas não foram observadas em toda a sua complexidade. Cada ilustração deve conter a exata quantidade de pétalas, sépalas, filetes e as demais estruturas que compõem a anatomia vegetal. Devido às suas especificidades, as ilustrações auxiliam no processo de classificação e identificação da planta.
Os professores dos cursos de extensão em ilustração botânica da ENBT, Malena Barretto e Paulo Ormindo, destacam o caráter educador dessa atividade. Observar, interpretar e ilustrar o mundo vegetal permitem um maior entendimento da relação homem-natureza, ao mesmo tempo em que contribuem no processo de preservação.
Os trabalhos feitos em aquarela, grafite ou nanquim encantam os olhos e permitem reflexões sobre a natureza, transmitindo informações diversas a partir da sensibilidade pessoal de cada artista e um olhar mais humano. O também ilustrador botânico Luiz Berri destaca como as ilustrações botânicas trazem características particulares de alguém que possivelmente passou horas analisando uma planta antes de desenhar e teve o cuidado de investigar todas as partes daquele indivíduo.
“A ilustração botânica tem o caráter artístico sim, mas tem o papel científico. Ela faz parte de um processo de ilustração artística e informação científica. Traz um caráter mais amplo que a foto, porque ela tem uma característica humana bem clara, como um pintor tem suas características particulares, o ilustrador também tem”, afirma Berri.
O ilustrador botânico pode atuar em diferentes áreas. Os cursos de ilustração botânica oferecidos pela ENBT recebem pesquisadores, biólogos, arquitetos, designers e paisagistas, que buscam aprimorar suas percepções do mundo vegetal e, no processo, desenvolvem uma visão mais embasada do ambiente que os cerca.
Ainda que as principais demandas de trabalho estejam nos centros de pesquisa, os ilustradores botânicos podem encontrar oportunidades na área de artesanato, com a confecção de peças como calendários, porta-objetos e outros itens de decoração. Além de Jardins Botânicos, existe um mercado de trabalho no qual o ilustrador botânico pode se aventurar, como museus, editoras científicas– na criação de ilustrações para livros, artigos e demais materiais educativos – e agências ambientais e de conservação.
Quem quiser apreciar e conhecer mais sobre essa arte pode visitar a Exposição de Ilustração Botânica que a Escola Nacional de Botânica Tropical promove de 16 a 28 de setembro de 2024, das 9h às 17h. As obras foram produzidas por alunos e ex-alunos que atuam como artistas botânicos em diversas áreas e também dos professores Paulo Ormindo e Malena Barretto. A mostra comemora os 23 anos do programa de extensão da ENBT, reunindo 35 obras nas técnicas de aquarela, grafite e nanquim. A ENBT está localizada na Rua Pacheco Leão, 2040, Horto.
Conheça os cursos de extensão em ilustração botânica oferecidos pela ENBT.
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