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Estudo busca caracterizar a vegetação para delinear as áreas úmidas no PAN Bacia do Alto Tocantins
Campo de Murundu com invasão de espécie exótica | Foto: Suelma Ribeiro
Por Verônica Marques
Pesquisadores realizaram uma expedição científica entre os dias 14 e 29 de julho de 2024 com o objetivo de caracterizar hidrologicamente e ecologicamente as áreas úmidas na Bacia do Alto Tocantins. A ação faz parte do Plano de Ação Nacional para a Conservação da Flora Ameaçada de Extinção da Bacia do Alto Tocantins (PAN Bacia do Alto Tocantins), no âmbito do projeto Pró-Espécies: Todos contra a extinção. Essa é a terceira expedição do plano realizada na região, que está integralmente no bioma Cerrado, um dos mais ricos em biodiversidade do Brasil.
O Cerrado é o berço de importantes rios do Brasil. Das doze principais regiões hidrográficas do país, oito têm nascentes na região, por isso esse bioma é vital para a segurança hídrica da população brasileira e da biodiversidade do país. Entretanto, sofre os efeitos dos impactos das mudanças climáticas e a dramática situação das queimadas.
Nesse cenário, destacam-se as áreas úmidas, que abrigam uma vegetação rica, com alta incidência de espécies endêmicas, e macroambientes únicos, como os Campos de Murundus. Os murundus são morrotes que estratificam o terreno, criando condições para que outras plantas fixem suas raízes em solos não totalmente encharcados. Assim, esses ecossistemas favorecem o aumento da diversidade, permitindo o estabelecimento de espécies de diferentes tamanhos e hábitos.
A expedição foi conduzida por Suelma Ribeiro Silva, do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação em Biodiversidade e Restauração Ecológica (CBC/ICMBio), com a participação de Marcelo Brilhante de Medeiros (Embrapa-Cenargen), Aílton Carneiro de Oliveira (CBC/ICMBio) e Henrique Torres Santos (bolsista do Pró-Espécies CBC/ICMBio). A equipe focou suas atividades em uma propriedade particular e no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em Goiás, coletando espécies raras e ameaçadas, além de mapear áreas de Campos de Murundus, identificando riscos crescentes de invasão por espécies exóticas.
Com base nos resultados da expedição, os pesquisadores pretendem estabelecer parcelas permanentes para monitorar os impactos das mudanças hidrológicas na demografia das espécies que vivem em ambientes alagados. Além disso, estão sendo elaborados dois livros de divulgação científica: um sobre a flora das áreas úmidas e outro voltado especificamente para os Campos de Murundus.
A equipe retornou entusiasmada com os resultados, reconhecendo a relevância dos avanços obtidos para a conservação de espécies ameaçadas do Cerrado. Mais do que isso, compreenderam seu papel diante do cenário crítico que o bioma enfrenta. Ao abordar esse contexto, Suelma destacou:
“Os Campos de Murundus na Bacia do Alto Tocantins estão enfrentando sérios impactos, especialmente devido a incêndios provocados por práticas agrícolas e pecuárias insustentáveis. Essas queimadas resultam na destruição de habitats essenciais, levando à perda de biodiversidade e comprometendo a resiliência ambiental da região. Além disso, a população local tem pouco conhecimento sobre a importância e os benefícios desses ecossistemas, o que agrava a situação. A degradação desses campos não apenas reduz a diversidade biológica, mas também aumenta a vulnerabilidade a eventos climáticos extremos. Portanto, é fundamental implementar estratégias de manejo sustentável e políticas de proteção que garantam a conservação desses ecossistemas únicos e sua rica biodiversidade, ao mesmo tempo em que se promove a conscientização da comunidade sobre sua importância”.
PAN Bacia do Alto Tocantins
O PAN Bacia do Alto Tocantins foi oficializado na Portaria JBRJ nº 15, de 6 de junho de 2023, e tem vigência até 2028. O objetivo é ampliar, em 5 anos, as medidas de conservação das espécies-alvo, dos ambientes e a manutenção de serviços ecossistêmicos, com envolvimento de toda a sociedade.
O plano estabelece 24 ações de conservação, divididas em quatro objetivos específicos, que abrangem temas como Pesquisa e Monitoramento, Capacitação e Comunicação, Manejo e Conservação, e Políticas Públicas, com foco em 98 espécies da flora, sendo 14 classificadas na categoria “Criticamente em Perigo” (CR), 58 na categoria “Em Perigo” (EN) e 26 na categoria “Vulnerável” (VU). Também são contempladas 29 espécies classificadas na categoria “Quase Ameaçada” (NT) e 15 na categoria “Dados Insuficientes” (DD). O território do PAN abrange parte do estado de Goiás e do Distrito Federal.
A coordenação do PAN Bacia do Alto Tocantins é realizada pelo Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), por meio da Coordenação de Projeto Núcleo Estratégias para a Conservação da Flora Ameaçada de Extinção (NuEC) do Centro Nacional de Conservação da Flora (CNCFlora). O monitoramento e acompanhamento do plano é feito pelo Grupo de Assessoramento Técnico (GAT) instituído pela Portaria de Pessoal JBRJ nº 66, de 6 de junho de 2023. Já a articulação e a execução das ações de conservação são realizadas por mais de 100 colaboradores que representam instituições de distintos setores da sociedade.
Para mais informações sobre o PAN Bacia do Alto Tocantins, acesse o link.