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Cientistas revelam a diversidade de plantas da Amazônia
A Amazônia abriga a maior floresta tropical úmida do mundo, com valor inestimável para a manutenção do equilíbrio do planeta. Por ser um dos principais hotspots de biodiversidade, a Amazônia sempre atraiu a atenção de cientistas, conservacionistas e da população mundial. Ainda assim, não se sabia ao certo o número de espécies de plantas conhecidas em suas florestas, com estimativas variando de dezenas a centenas de milhares apenas para as angiospermas (plantas com flores). Estudos que buscam compreender a origem, evolução e ecologia dessa região hiperdiversa têm sido limitados pela falta de informações básicas confiáveis, como a composição de espécies da flora amazônica. Esse conhecimento sobre a biodiversidade é fundamental para uma série de medidas, não só para a conservação de áreas prioritárias, mas também para o avanço de estudos evolutivos e ecológicos que buscam compreender sua própria formação.
O levantamento criterioso e detalhado, com base em dados taxonomicamente verificados a partir de coleções de herbários e museus, realizado por uma equipe de 44 cientistas de países amazônicos, da Europa e dos Estados Unidos, foi publicado nesta última edição da revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS). O estudo revelou que a diversidade conhecida de plantas com sementes (angiospermas e gimnospermas) na bacia amazônica abrange 14.003 espécies. Menos da metade dessas espécies (6.727) são árvores, um número bem menor do que aqueles apresentados em trabalhos publicados até então. Ele mostra, também, que ervas, arbustos e epífitas (plantas que, como algumas orquídeas, vivem sobre outras plantas) são igualmente diversos, embora sejam frequentemente negligenciados em estudos de diversidade tropical.
O trabalho foi liderado pelo Dr. Domingos Cardoso, da Universidade Federal da Bahia, e a Dra. Tiina Särkinen, do Jardim Botânico Real de Edimburgo, Escócia, com a colaboração dos pesquisadores do Jardim Botânico do Rio de Janeiro Dra. Rafaela Campostrini Forzza e Dr. Haroldo Cavalcante de Lima. Um diferencial deste estudo, segundo os autores, foi o uso de informações taxonômicas atualizadas, verificadas por centenas de especialistas do mundo todo durante a produção de catálogos de espécies de plantas nacionais, como o Flora do Brasil 2020. Essa plataforma digital representa o acúmulo de centenas de anos de trabalhos de campo na região, o esforço de centenas de taxonomistas. Catálogos como esse, taxonomicamente validados, fornecem bases sólidas para o entendimento sobre a evolução e a ecologia dessa floresta monumental frente às mudanças climáticas e outras mudanças ambientais", eles complementam.
Um destaque desse trabalho é a grande participação de autores que atuam no Brasil (26 dos 44 autores). Esse catálogo [Flora do Brasil 2020] só foi possível devido ao apoio que o Brasil deu aos trabalhos em biodiversidade, ampliando a formação de taxonomistas e incrementando as coleções biológicas com programas específicos, como o PROTAX, o REFLORA e o SISBIOTA, financiados por agências de fomento como o CNPq, afirma o Dr. Luciano Paganucci de Queiroz, da Universidade Estadual de Feira de Santana, um dos autores do artigo. Domingos Cardoso e Tiina Särkinen acrescentam, que este é, realmente, um momento de celebração para a comunidade botânica.
Os autores enfatizaram que a publicação desta lista não significa que a flora amazônica já esteja completamente conhecida. Muitas espécies novas de plantas são descobertas todos os anos, tanto no campo como em herbários e museus, e grande parte da vasta Amazônia continua pouco conhecida ou mesmo inexplorada. Como ressalta o professor Domingos, as diferenças entre as estimativas anteriores e os números apresentados neste novo estudo não diminuem de forma alguma a Amazônia como reconhecida pela sua magnífica diversidade de plantas; elas apenas ressaltam a enorme lacuna no conhecimento taxonômico que ainda precisamos preencher. Assim, o estudo mostra de maneira emblemática a importância da taxonomia para o conhecimento da nossa biodiversidade e a necessidade de apoio contínuo aos estudos taxonômicos. A taxonomia é responsável por estabelecer unidades biológicas, sendo base e, ao mesmo tempo, síntese de tudo que se conhece sobre biodiversidade, ressalta o Dr. Alessandro Rapini, da Universidade Estadual de Feira de Santana, que também participou do trabalho; as coleções biológicas, em museus e herbários, são testemunhos materiais desse conhecimento, conclui. O trabalho publicado na PNAS mostra o papel fundamental dos catálogos de espécies taxonomicamente verificados por especialistas para os estudos em biodiversidade. Sem essa base científica podemos colocar em risco nossa biodiversidade, patrimônio único e insubstituível, simplesmente por falta de um conhecimento realmente qualificado finaliza Domingos Cardoso.