Geral
Aula Inaugural ENBT 2017
Aula Inaugural 2017 abordou políticas públicas de restauração ecológica no Brasil
Em sua palestra, o professor Ricardo Ribeiro Rodrigues (ESALQ/USP) enfatizou a necessidade de envolvimento da academia na formulação de políticas públicas de conservação e restauração florestal.
"A ciência pode ser traduzida em ações práticas e sustentar políticas públicas: um exemplo em restauração ecológica no Brasil" foi o titulo da palestra de Ricardo Ribeiro Rodrigues na Aula Inaugural 2017 da Escola Nacional de Botânica Tropical ENBT, na manhã de sexta-feira, 10 de março. Mestre e doutor em Biologia Vegetal pela Unicamp, Rodrigues é professor titular do Departamento de Ciências Biológicas da ESALQ/USP, onde coordena o Laboratório de Ecologia e Restauração Florestal (LERF).
Aula inaugural ENBT com o professor Ricardo Ribeiro Rodrigues (ESALQ/USP)
Antes da palestra, a mesa de abertura contou com a presença do presidente do JBRJ, Sergio Besserman Vianna, do diretor da ENBT, Vinicius Castro Souza, e dos coordenadores do Programa de Pós-Graduação em Botânica, Claudia Franca Barros, do Mestrado Profissional, Massimo Bovini, e de Extensão, David Ricardo Moreira Ramos.
Mesa de abertura- Sergio Besserman Vianna, presidente do JBRJ
Para um auditório lotado, o convidado professor Ricardo Rodrigues enfatizou a necessidade de envolvimento da academia na formulação de políticas públicas de conservação e restauração florestal, fazendo com que o conhecimento científico de boa qualidade chegue àqueles que precisam utilizá-lo. Rodrigues falou da importância da conservação e restauração da flora dentro das propriedades rurais e apontou que a falta de planejamento agrícola e ambiental leva ao desmatamento, inclusive, de áreas sem condições de produtividade para a agricultura e a pecuária.
Segundo o pesquisador, o planejamento da ocupação das terras e um bom manejo de espécies nativas de interesse econômico podem evitar a perda de remanescentes de florestas primárias. Ele considera fundamental restaurar áreas degradadas, mas lembra que as interações que existem nos remanescentes não voltam ao mesmo nível nas áreas reflorestadas e nem todos os serviços ecossistêmicos conseguem ser recuperados.
Ricardo Ribeiro Rodrigues (ESALQ/USP) destaca a importância dos polinizadores
na área agrícula
Rodrigues fez um breve histórico da degradação ambiental no Brasil, que se deu sempre principalmente no sentido da expansão da área agrícola e com o uso do fogo. Embora o país tivesse um Código Florestal avançado desde 1965, a lei nunca se traduziu em políticas públicas efetivas e a grande maioria das propriedades rurais nasceram e nascem com irregularidades ambientais.
Como é mais difícil mudar o rumo dessa trajetória do que mudar a lei, mudaram a lei, com a criação do Novo Código Florestal, criticou o pesquisador, mostrando como o documento reduziu tanto as reservas legais quanto as áreas de preservação permanente (APP). Porém, Rodrigues ressaltou que é preciso testar cientificamente os preceitos do Código Florestal a fim de obter dados que embasem os argumentos em favor da conservação e as políticas públicas nesse sentido.
Realizar pesquisas para conhecer os fragmentos florestais que estão em propriedades privadas rurais torna-se crucial, segundo o pesquisador, porque a realidade desses fragmentos demanda uma política pública diferente daquela aplicada nas unidades de conservação. Entre os desafios atuais estão os de restaurar a capacidade desses fragmentos de conservar a biodiversidade, enriquecê-los, testar a restauração em diferentes larguras de mata ciliar e seus serviços ecossistêmicos e baixar o custo da restauração.
Rodrigues apresentou algumas metodologias que estão sendo testadas para enfrentar esses desafios, entre elas o manejo e a produção de madeira de espécies nativas. No Brasil, nunca se plantaram árvores nativas para aproveitamento econômico, nunca se pensou em produzir madeira de espécies nativas, embora isso seja muito mais rentável do que o uso dessas áreas para a pecuária e com a vantagem de manter os serviços ambientais, ressaltou. O papel econômico dos polinizadores e a geração de trabalho e renda para profissionais como coletores e viveiristas também foram abordados.
Acesse aqui a apresentação de Ricardo Rodrigues.
Mesa de abertura
Na mesa de abertura da Aula Inaugural 2017, o diretor da ENBT, Vinicius Castro Souza, deu as boas-vindas aos alunos e fez um balanço de um ano de gestão. Entre as metas apontadas para a Pós-Graduação em Botânica estão a de formar botânicos de todo o Brasil e da América Latina, aumentar a visibilidade do programa e melhorar os itens avaliados pela CAPES. Nesse sentido foi produzido material de divulgação da Escola e ampliado o número de estados e países com pontos focais (onde os candidatos podem fazer o exame de seleção). Também foi renovado o convênio com a Capes garantindo bolsas para todos os alunos e ampliado o número de vagas na residência estudantil.
Vinicius Castro Souza, diretor da ENBT
No âmbito do Mestrado Profissional Biodiversidade em Unidades de Conservação, Vinicius ressaltou a renovação da parceria com o ICMBio e a negociação de uma nova parceria com o INEA. Já o Centro de Responsabilidade Socioambiental foi mais integrado à estrutura da ENBT, passando a oferecer novos cursos para os jovens aprendizes, e teve também ações para o aumento de sua visibilidade.
O diretor informou que foi aprovada uma emenda parlamentar no valor de R$ 300 mil para a reforma do Solar da Imperatriz, sede da ENBT, e agradeceu ao pesquisador Gilberto Amado Filho pelo apoio com recursos para a reforma da residência estudantil. O galpão anexo ao Solar também passou por uma limpeza e, após reforma, deverá ser usado para atividades não acadêmicas.
Vinicius agradeceu à gestão anterior da ENBT pela herança positiva deixada, aos coordenadores, à toda a equipe da ENBT, à presidência e aos diretores do JBRJ. Ele também anunciou que, por motivos pessoais, terá, este ano, que se desligar da diretoria, que deve ser assumida interinamente pela pesquisadora Claudia Franca Barros, atual coordenadora do PPG em Botânica. Porém Vinicius permanecerá como pesquisador associado do JBRJ.
O coordenador de Extensão da ENBT, David Ricardo Moreira Ramos, destacou o aumento do número de cursos oferecidos no último ano e convidou os novos alunos a conhecerem e também a oferecerem cursos de extensão na Escola.
David Ricardo Moreira Ramos, coordenador de Extensão da ENBT
O coordenador do Mestrado Profissional, Massimo Bovini, comemorou o número recorde de inscrições para a seleção em 2017, chegando a 44 inscritos para 25 vagas. O MP tem hoje 65 alunos matriculados, 23 docentes entre permanentes e colaboradores, e já conta com 49 defesas realizadas em seus 5 anos de existência. A nova parceria que será fechada com o INEA terá como contrapartida o apoio técnico daquela instituição aos pesquisadores e alunos dentro das unidades de conservação do estado do RJ.
Massimo Bovini,
coordenador do Mestrado Profissional da ENBT
Claudia Franca Barros conclamou os alunos a aproveitarem a oportunidade de estar no Jardim Botânico do Rio de Janeiro e participar de ações de Estado sob a responsabilidade da instituição. É uma oportunidade de fazer pesquisa de ponta e trabalhar para o Brasil em grandes projetos, disse a coordenadora do PPG em Botânica. Ela destacou a produção dos alunos em 2016, chegando a 56 artigos publicados em periódicos do extrato A da Capes. Esse resultado, segundo Claudia Barros, só foi possível graças ao empenho conjunto do colegiado.
Claudia Franca Barros, coordenadora de Pós Graduação da ENBT
O presidente do JBRJ, Sergio Besserman Vianna, encerrou a mesa falando sobre a responsabilidade dos jardins botânicos de todo o mundo no enfrentamento da crise global da biodiversidade, inclusive com as alterações que deverão ocorrer causadas pelas mudanças climáticas. Ele enfatizou a dimensão cada vez maior que a conservação deve assumir no ensino da pós-graduação e o papel dos alunos na tomada de iniciativas nesse sentido.
Sergio Besserman Vianna, presidente do JBRJ
O Brasil tem a maior restauração florestal do mundo a ser efetivada. Ela será feita com respeito à biodiversidade? Com o conhecimento que já existe e o que precisa ser produzido?, questionou, concluindo: Essa é uma missão da maior grandeza para a civilização humana, para o Brasil e para o JBRJ em rede com outras instituições.
fotos: Adélia Duarte