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A ciência desenhada pela mão humana
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Patrícia da Rosa, Raquel Negrão, Marta Moraes, Nina Pougy, Eline Martins, Gustavo Martinelli (CNCFlora/JBRJ) e Claudia Rabelo Lopes (Ascom/JBRJ)
Fotos: Raul Ribeiro (Museu do Meio Ambiente/JBRJ)
Em uma visita à exposição Mata Atlântica Ciência e Arte, no Museu do Meio Ambiente até 24 de abril de 2016 , o público pode ver diversas obras raras criadas com inspiração na flora e fauna da Mata Atlântica, abrangendo um período que vai desde o século XVII ao século XXI.
Muitas dessas obras são a base mais elementar do conhecimento científico sobre as espécies, ambientes e paisagens conhecidas pelos naturalistas e botânicos em uma época em que a natureza estava ainda praticamente intocada.
Assim, muitas obras expostas são material de referência para novos estudos sobre ecologia, distribuição das espécies e o seu atual estado de conservação na natureza. Essas questões são cuidadosamente estudadas quando são feitas as avaliações de risco de extinção de espécies, seguindo uma metodologia internacionalmente reconhecida, com base nas Categorias e Critérios da União Internacional para Conservação da Natureza (UICN).
Vriesea zildae, espécie Criticamente em perigo, retratada por Isabel Lima e Silva em 2010
Dentre as ilustrações que compõem a exposição, estão as de 54 espécies de plantas da Mata Atlântica que já tiveram seu risco de extinção avaliado pelo Centro Nacional de Conservação da Flora CNCFlora e seis espécies de animais avaliados pela UICN.
Das espécies da flora, o público pode ver dez que são reconhecidas como ameaçadas de extinção*, constando no Livro Vermelho da Flora do Brasil (Martinelli e Moraes, 2013), na Portaria do Ministério do Meio Ambiente nº 433, de 17 de dezembro de 2014 e no atual trabalho do CNCFlora, que é a avaliação de risco de extinção das espécies endêmicas do Rio de Janeiro.
Entre as espécies ameaçadas, uma está na categoria Criticamente em perigo (CR). Há também sete avaliadas na categoria Em Perigo (EN) e duas espécies na categoria Vulnerável (VU). Além disso, duas espécies foram consideradas com Dados Insuficientes (DD) para uma avaliação de risco, indicando que são necessários investimentos em novos estudos e na busca destas espécies na natureza. Para as espécies DD, recomenda-se a busca nos locais onde foram encontradas anteriormente, à luz de pistas indicadas nas cadernetas de botânicos. Algumas dessas cadernetas também podem ser vistas na exposição, e mostram detalhes e anotações de espécimes coletados em campanhas de campo empreendidas por importantes pesquisadores e pesquisadoras do Jardim Botânico, também retratados em fotos da época.
Uma espécie emblemática representada na exposição é o pau-brasil ( Caesalpinia echinata Lam.), categorizada como Em perigo (EN), que foi intensamente explorada no período do Brasil Colônia devido ao seu corante natural e, hoje, é explorada como planta madeireira. A espécie encontra-se protegida legalmente e incluída na lista da Convenção sobre Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Selvagens - CITES, porém, necessita de maiores investimentos em sua conservação na natureza (Pereira et al . 2007), uma vez que suas subpopulações encontram-se fragmentadas, pondo em risco sua diversidade genética (Messina, 2012a).
Caesalpinia echinata, o pau-brasil, pelas mãos de Niroe Sasaki
Na exposição, percebe-se a intenção do curador Paulo Ormindo em demonstrar a importância econômica, ornamental e de identidade do pau-brasil, ao trazer para o público diferentes representações da espécie. A obra rara de Piso & Margrave, Historia Naturalis Brasiliae (1648) teve a função de divulgar aos europeus a importância econômica do pau-brasil, popularmente chamado de ibirapitanga, na época. A espécie também foi ilustrada com o uso de critérios científicos na Flora Brasiliensis por Benthan (1870) e mais recentemente teve sua importância demonstrada em duas belas ilustrações de Malena Barreto e Hiroe Sasaki, como uma planta de valor ornamental e de grande valor para a identidade dos brasileiros.
Outra espécie ameaçada de extinção representada na exposição é Prepusa hookeriana Gardner, que é endêmica do estado do Rio de Janeiro, ocorrendo exclusivamente em Campos de Altitude, os quais sofrem efeitos de atividades humanas e do fogo, sendo avaliada recentemente como Em perigo (EN) (Messina, 2012b).
Entre as espécies retratadas na exposição que foram avaliadas como não ameaçadas, cinco estão na categoria de Quase Ameaçada (NT) e 33 espécies como Pouco Preocupantes (LC). A maioria delas foi registrada recentemente, por ilustradores contemporâneos, refletindo a procura e interesse por plantas ornamentais ou notáveis em parques urbanos. A categoria Pouco Preocupante é indicada para espécies que apresentam maior número de registros de coleta, distribuição mais ampla e, possivelmente com populações que estão em áreas protegidas ou em parques.
Schlumbergera kautsky , na categoria Em Perigo, revela sua beleza na arte de Maria Alice Rezende
Às vezes, a ilustração botânica é o único registro que comprova a existência e a identidade de uma espécie chamado de material tipo pelos botânicos. Este é o caso de várias ilustrações feitas por Barbosa Rodrigues no livro Iconographie orchidées du Brésil . Especula-se que seu herbário, com as amostras coletadas na natureza (exsicatas) de orquídeas e palmeiras, teria sido perdido após sua morte, talvez em um incêndio. Mas com sorte mantiveram-se as ilustrações, que muitas vezes foram realizadas in situ, ou seja, no local da coleta (Sprunger, 1996). Na exposição, é possível ver as ilustrações originais da Iconographie e do grandioso Sertum Palmarum Brasiliensium, também de Barbosa Rodrigues.
Todas as ilustrações antigas representam registros de coletas de material realizadas pelos naturalistas que passaram pelo Brasil. Estes registros, acompanhados da descrição das localidades de coleta, são muito importantes para conhecer a flora do Brasil e da Mata Atlântica, suas raridades e endemismos. Eles contribuem diretamente com dados para as avaliações do estado de conservação das espécies, trabalho realizado pelo CNCFlora. Além disso, as ilustrações botânicas são necessárias para a descrição de espécies em diversas pesquisas desenvolvidas no Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
* Espécies avaliadas pelo CNCFlora cujas ilustrações podem ser vistas na exposição:
Criticamente em perigo (CR)
Vriesea zildae R. Moura & A. F. Costa
Em perigo (EN)
Alstroemeria caryophyllaea Jacq .
Neogardneria murrayana (Gardner ex Hook.) Schltr. ex Garay
Schlumbergera kautskyi (Horobin & McMillan) N.P.Taylor
Vulnerável (VU)
Anthurium xanthophylloides G.M.Barroso
Deficientes de Dados (DD)
Sinningia conspicua (Seem.) G.Nicholson
Referências bibliográficas :
Bentham, G., 1870. Leguminosae II e III. Swartizieae, Caesalpinieae, Mimosae, in: Martius, C.F.P. von. (Ed)., Flora Brasiliensis. Monachii. Lipsiae: v. 15, pt. 2, fasc. 50. col. 65- 66.
Martinelli, G., Moraes, M.A., (Org.), 2013. Livro Vermelho da Flora do Brasil. Andrea Jacobson, Rio de Janeiro.
Messina, T., 2012 a. Caesalpinia echinata Lam. Lista Vermelha CNCFlora. Disponível em: < http://cncflora.jbrj.gov.br >, Data de acesso: 02/01/2016.
Messina, T., 2012 b. Prepusa hookeriana Gardner. Lista Vermelha CNCFlora. Disponível em: < http://cncflora.jbrj.gov.br >, Data de acesso: 02/01/2016.
Pereira, T. S., Lima, H.C., Sá, C.F.C., Cardoso, M.A., Fonseca-Kruel, V. S., 2007. Conservação do pau-brasil Caesalpinia echinata Lam. (Caesalpinoideae) no estado do Rio de Janeiro, in: Anais da XVI Reunião de Jardins Botânicos: Conservação ex situ em jardins botânicos / organização: Rede Brasileira de Jardins Botânicos, Rio de Janeiro, pp: 46 50.
Piso, W., Margrave, G., 1648 . Historia Naturalis Brasiliae. Elsevier, Amsterdam.
Sprunger, S. (ed.) João Barbosa Rodrigues - Iconographie des orchidées du Brésil. v. 1: The illustrations. Friedrich Reinhardt, Basle.