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Grupo de plantas fundamentais para a humanidade ainda desafia pesquisadores
Composta por 16 famílias que englobam cerca de 20 mil espécies de plantas, a ordem Poales é de fundamental importância, seja na forma de produtos de consumo massivo, como o trigo, o arroz, a cana e insumos para ração animal, seja no nível do desenvolvimento sustentável local. Apesar de Poales estar presente direta e indiretamente na vida de todos do Planeta Terra, ainda há muito a descobrir sobre essa ordem. O artigo "Overview of the systematics and diversity of Poales in the Neotropics with emphasis on the Brazilian flora", publicado na Rodriguésia Revista do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (vol. 66 no.2, 2015) dá um panorama desse grupo na região tropical do continente americano.
Os autores Marccus Alves (UFPE), Marcelo Trovó (UFRJ), Rafaela Campostrini Forzza (JBRJ) e Pedro Viana (MPEG) apresentam a atual situação do conhecimento sobre cada família, com foco na flora brasileira. Do ponto de vista da diversidade biológica de Poales no Brasil, o artigo mostra que há várias espécies endêmicas e ameaçadas de extinção, mas falta conhecimento no que diz respeito, principalmente, aos locais pouco pesquisados no país, como a Amazônia e algumas áreas de Cerrado, Mata Atlântica e Caatinga.
Entre as controvérsias que ainda precisam ser resolvidas no conhecimento de Poales, Marccus Alves aponta as que se dão em torno da posição evolutiva das famílias Thurniaceae e Typhaceae, ambas com um pequeno número de espécies. A primeira é uma família de plantas aquáticas que ocorrem na Amazônia. O pesquisador conta que Thurniaceae era considerada endêmica do Escudo das Guianas, porém, recentemente foi indicado que um gênero endêmico da África do Sul possivelmente faz parte da família. O problema é que se conhece tão pouco das espécies originalmente posicionadas em Thurniaceae que qualquer assertiva nesse sentido é controversa, explica.
Typhaceae, por sua vez, tem espécies com ampla distribuição de Norte a Sul do país e em outros continentes e intensa reprodução assexuada, o que torna a delimitação dos grupos complexa. Existem autores que aceitam mais de 20 espécies no gênero Typha, e outros apenas quatro!", revela Alves. Uma das espécies mais comuns dessa família talvez seja a Typha domingensis, popularmente conhecida como taboa, à qual são atribuídas propriedades medicinais.
Existem também diversas outras lacunas no conhecimento de Poales no que se refere a conservação, uso e manejo das espécies nativas e o controle das espécies invasoras, esclarece o pesquisador.
Segundo Alves, devido à diversidade de famílias e espécies, não é possível indicar um ou dois caracteres morfológicos, fáceis de visualizar, para reconhecer as plantas que fazem parte da ordem Poales. Como exemplo, ele aponta dois extremos: Um bambu e uma bromélia são morfologicamente muito diferentes. No entanto, do ponto de vista micromorfológico e molecular, têm características em comum que os olhos humanos não conseguem perceber, a não ser com o auxílio de equipamentos modernos.
O pesquisador Marcelo Trovó reitera que, como Poales representa um grupo muito diverso e heterogêneo de plantas, a maioria das informações sobre as famílias que compõe a ordem está dispersa em uma extensa literatura. Artigos de revisão são sempre relevantes por sumarizar parte desse conhecimento, possibilitando uma ampla reflexão sobre o assunto, além de apontar para as lacunas que ainda precisam ser estudadas, comenta.
Acesse o artigo "Overview of the systematics and diversity of Poales in the Neotropics with emphasis on the Brazilian flora".
Leia mais sobre Poales na edição especial da revista Rodriguésia (vol.66 nº 2) sobre o tema.