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Parque Nacional do Itatiaia surpreende pesquisadores
Publicado em
27/04/2020 16h45
Atualizado em
31/10/2022 13h46
Projeto redescobre planta que não era encontrada há mais de 70 anos e coleta espécies que nunca haviam sido registradas no parque.
Vriesea morrenii fotografada por Caio Baez no PNI | Banco de Imagens do Parque Nacional do Itatiaia
Caio coletando no PNI | Foto: Alessandro Sá
O Parque Nacional do Itatiaia (PNI), na divisa dos estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais, foi criado em 1937, sendo a mais antiga Unidade de Conservação (UC) do Brasil. Apesar de sua flora e fauna estarem entre as mais estudadas do país, ele continua a surpreender os cientistas por sua riqueza biológica.
Em duas expedições ao PNI, entre outubro e dezembro de 2019, o pesquisador Caio Baez conseguiu encontrar cinco espécies de plantas de que não se tinha registro há mais de 50 anos no Parque, sendo consideradas prioritárias para conservação. Caio é bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) no projeto "Redescobrindo espécies ameaçadas em UCs da Floresta Atlântica: bases para gestão, conservação e acesso à informação", coordenado pela pesquisadora Tatiana Carrijo (Universidade Federal do Espírito Santo) e que une esforços de oito instituições brasileiras, entre as quais o Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Além do CNPq, o projeto conta com o financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (FAPES).
Quatro das espécies prioritárias encontradas por Caio estão na Lista Nacional Oficial de Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas de Extinção: a bromélia
Vriesea morrenii
, a orquídea
Grandiphyllum divaricatum
e também as espécies
Cryptangium polyphyllum
(Cyperaceae) e
Viola gracillima
(Violaceae). A quinta espécie,
Phyllanthus itatiaiensis
(Euphorbiaceae), está na lista de espécies ameaçadas do Estado do Rio de Janeiro e não era encontrada na natureza há mais de 70 anos.
Vriesea morrenii fotografada por Caio Baez no PNI | Banco de Imagens do Parque Nacional do Itatiaia
O trabalho também revelou que no PARNA Itatiaia ocorrem sete espécies de plantas que nunca haviam sido encontradas ali pelos cientistas: as orquídeas
Scuticaria hadwenii
e
Neomarica gracilis
e a bromélia
Vriesea tijucana
, além da
Sinningia aggregata
(Gesneriaceae),
Joannesia princeps
(Euphorbiaceae),
Dalbergia glaziovii
(Fabaceae) e
Goeppertia prolifera
(Marantaceae).
Para o pesquisador, "a importância de novos registros e de redescobertas é sabermos que aquelas espécies ainda existem no local e, portanto, podem ser protegidas por ações visando a sua conservação. Algumas dessas plantas são raras e provavelmente só continuam a existir porque estão numa Unidade de Conservação. Ameaças às UCs, como o fogo ou uso indevido do solo, atingem diretamente a sobrevivência dessas espécies".
Ao todo, Caio Baez coletou 175 amostras botânicas, distribuídas em 103 gêneros. Dessas, 140 já tiveram suas espécies identificadas. Entre elas há 13 espécies endêmicas do Estado do Rio de Janeiro, sendo dez ameaçadas (segundo a lista estadual), cinco das quais estão na maior categoria de ameaça - CR, isto é criticamente em perigo. As amostras foram depositadas no herbário RB, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, e estão disponíveis para consulta no sistema
Jabot
. Outras expedições estão programadas para quando o PNI reabrir, após o período de isolamento social.
Segundo a pesquisadora Rafaela Campostrini Forzza (JBRJ), curadora do herbário e integrante do projeto Redescobrindo espécies ameaçadas em UCs da Floresta Atlântica, os resultados obtidos até agora atestam "a necessidade de continuarmos com o trabalho de catalogação em um país megadiverso como o nosso. Se o PARNA Itatiaia ainda nos surpreende, imaginem o quanto ainda desconhecemos nas UCs da Amazônia, por exemplo".
Em 2019, o projeto publicou a primeira lista online da Flora do PNI, no lançamento do
Catálogo de Plantas das Unidades de Conservação do Brasil
. Juntamente à Lista da Flora das Unidades de Conservação Estaduais do Rio de Janeiro, publicada em 2018 pelo
Centro Nacional de Conservação da Flora - CNCFlora
, o Catálogo serve de referência aos pesquisadores e gestores no que se refere às espécies a serem priorizadas na busca e na conservação.
Caio coletando no PNI | Foto: Alessandro Sá
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