Geral
Discurso de posse de Ana Lúcia de Souza Santoro no JBRJ
Boa tarde a todos!
Que prazer é estar aqui com cada um de vocês, os realizadores e cuidadores do tão querido JBRJ. Aqueles que movem esse lugar lindo e bicentenário, que conta não só a diversidade botânica mas a história do nosso país.
Assim como todas as outras, a instituição Jardim Botânico é formada por pessoas, que ao longo do tempo vão deixando sua marca através de suas contribuições e realizações. É de verdade uma satisfação poder agora conhecer os bastidores do Jardim, com suas joias, potencialidades, problemas e desafios, e poder contribuir um pouquinho para a construção da historia desse lugar.
Não foi já na infância que conheci o JBRJ, eu nasci e cresci na zona oeste do Rio e só aos 15 anos, quando entrei para o ensino médio no Colégio Pedro II Unidade Humaitá, precisei cruzar a Rua Jardim Botânico e então pude ver ao vivo, primeiro da janela do ônibus e depois durante uma visita escolar, as famosas palmeiras imperiais. Foi também no CPII que decidi cursar ciências biológicas, diretamente influenciada por um professor de biologia que me fazia conhecer o desconhecido em cada uma das suas aulas.
Desde o início, a minha motivação e encantamento no estudo da biologia, depois da ecologia e em seguida na pesquisa, estavam principalmente na revelação do desconhecido. Talvez por isso, sempre tive tanto prazer no ensinar quanto no aprender. Porque sei e acredito no potencial transformador e libertador do conhecimento.
Quando tive a oportunidade de atuar no alto escalão da administração pública, me vi diante de um desafio enorme, mas que me possibilitava outro patamar no alcance e no potencial de transformação de pessoas e realidades.
Uma vez ouvi que sustentabilidade sem luta por transformação coletiva não passa de vaidade. O engajamento individual é sem dúvida muito importante, mas as grandes transformações precisam vir através de políticas públicas e exigem visão holística e aderida na realidade. A sustentabilidade fala em integração absoluta entre os pilares ambiental, social e econômico. Somente a harmonia entre esses três componentes pode garantir a conservação da natureza e a integridade da sociedade no decorrer das gerações.
Quando lembramos da missão do Jardim Botânico - Promover, realizar e difundir pesquisas científicas, com ênfase na flora, visando à conservação e à valoração da biodiversidade, bem como realizar atividades que promovam a integração da ciência, educação, cultura e natureza - vemos que a descoberta e a transmissão do conhecimento sintetizam esta missão, que tem como resultado inevitável a conscientização ambiental transformadora. E essa transformação vem sempre através de políticas e ações concretas e efetivas, conectadas com a melhoria da preservação ambiental e também da qualidade de vida das pessoas.
Tal como o tripé da sustentabilidade, o tripé capaz de sustentar as instituições geradoras de conhecimento são a Pesquisa, o Ensino e a Extensão. A constituição brasileira estabelece a indissociabilidade entre esses três eixos, que devem ser trabalhados e explorados de maneira equivalente. Está na extensão a ação da instituição junto à comunidade, que possibilita o compartilhamento com a população do conhecimento adquirido por meio da pesquisa e do ensino desenvolvidos. É a conscientização e o legado que ela proporciona que dão sentido ao investimento público em ensino e pesquisa, tornando-o indispensável ao desenvolvimento de qualquer nação.
O arboreto, grande laboratório a céu aberto, é também grande exemplo de divulgação e democratização do conhecimento produzido no Jardim Botânico, capitaneando todas as demais ações de extensão e educação ambiental. Muito além da flora, os mais de 200 anos de história conferem ao JBRJ riquezas artísticas e arqueológicas que precisam de revitalização, conservação e divulgação. Por outro lado, se o arboreto e as belíssimas edificações e monumentos são o rosto do Jardim, a pesquisa é o seu coração, que precisa ser cuidado e fortalecido.
Sabemos, no entanto, que são muitas as limitações e os desafios para a gestão e a manutenção das atividades aqui desenvolvidas. Para que seja efetivo e alcance seus objetivos, o serviço público, especialmente em tempos de austeridade financeira, precisa de criatividade, racionalização e parcerias. O zelo com a coisa pública passa pelo entendimento de que bens e recursos públicos precisam ser administrados com eficiência. Parcerias entre os setores público e privado podem ser mutualísticas e contribuir para os serviços à sociedade, garantindo o alcance e a eficiência necessários ao retorno esperado pela população, à manutenção de bens e inclusive à preservação dos recursos naturais. O potencial turístico e cultural do JBRJ é latente e certamente contribuirá para o fortalecimento da instituição como um todo.
Meus amigos, já sou puro entusiasmo e envolvimento diante da missão de presidir o JBRJ. Preciso agradecer ao Ministro Ricardo Salles por confiar a mim essa responsabilidade e vislumbrar não só a importância da produção de conhecimento para a preservação da nossa flora mas, também, toda contribuição latente que esta instituição pode oferecer para a melhoria da qualidade de vida da população brasileira e do desenvolvimento sustentável.
Contem comigo para trabalhar por integração e fortalecimento de todos os eixos e objetivos dessa instituição, que inclui a excelência no ensino, pesquisa e extensão e a valorização cultural e turística, fomentando cada vez mais a relação de carinho, respeito e pertencimento da comunidade com a nossa flora e com o nosso querido Jardim.