Geral
Aula Magna da ENBT abordou situação global da biodiversidade
A Aula Magna de 2019, em comemoração dos 18 anos da Escola Nacional de Botânica Tropical, em 12 de junho de 2019, foi ministrada pelo Prof. Bernardo Strassburg, um dos autores do sumário executivo do Diagnóstico Global da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), o estudo mais abrangente sobre a biodiversidade já realizado até hoje. Professor da PUC-Rio, fundador e diretor executivo do Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS) e coordenador do Centro de Ciências da Conservação e Sustentabilidade do Rio (CSRio), Strassburg deve se tornar em breve professor afiliado do JBRJ.
Segundo o pesquisador, a principal conclusão do estudo do IPBES é de que a vida está se deteriorando rapidamente em todo o planeta. Quase todos os indicadores do estado global da natureza estão piorando, justamente em um momento em que o progresso do bem estar humano é alto. Segundo os pesquisadores, no entanto, essa dissociação chegou a um limite. As contribuições vitais da natureza para as pessoas estão declinando globalmente desde a década de 1970.
Mudanças no uso da terra, exploração direta das espécies, mudanças climáticas, poluição e espécies invasoras são os principais fatores de ameaça às espécies de animais e plantas em todo o mundo. Por trás deles, estão vetores indiretos - demográficos, socioculturais, econômicos, tecnológicos e de governança, como conflitos e epidemias.
Strassburg defende que é necessário agora ter foco nos valores sociais. "Os Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS) significam um momento culminante da humanidade" afirmou, acrescentando que mostrar o papel da natureza para alcançar os ODS 1, 2 e 3 é um dos argumentos científicos mais sérios e promissores que temos.
O palestrante alertou que estudos recentes mostram que o mercado financeiro financia e lucra com a destruição ambiental. Outros setores também precisam ser repensados. "Retirar os recursos dirigidos para subsídios aos combustíveis fósseis e à agricultura que destrói e usá-los para a sustentabilidade depende de vontade política e mobilização social", afirma o pesquisador.
O relatório aponta que as soluções para os problemas já existem, nada precisa ser inventado - precisa apenas ser implementado. O desafio é criar sinergia entre as ações, dar escala ao que precisa ser feito e também fazer melhor e mais rápido. No caso do Brasil, um exemplo é a restauração florestal. Se o Código Florestal fosse cumprido, seriam restaurados 12,5 milhões de hectares.
Ma o número não basta, pois é preciso saber onde restaurar. Em colaboração com a pesquisadora Marinez Siqueira, do JBRJ, e outros pesquisadores, foi desenvolvida uma ferramenta de identificação de áreas prioritárias para restauração, publicada no artigo Strategic approaches to restoring ecosystems can triple conservation gains and halve costs, na Nature Ecology. https://www.nature.com/articles/s41559-018-0743-8
O estudo revela que se a restauração for feita nas áreas mais importantes para a biodiversidade, é possível salvar 2/3 das espécies ameaçadas. Definir onde restaurar priorizando a biodiversidade dá o melhor resultado em todos os aspectos, inclusive o econômico.
O pesquisador ressaltou também que o papel dos jardins botânicos é fundamental e que todo esse trabalho só se tornou possível graças aos bancos de dados das pesquisas de base realizadas pelas instituições.