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Polinização é fundamental para a produção de alimentos no Brasil
País é o primeiro a concluir relatório que avalia o valor econômico da polinização para sua agricultura. Documento, que teve a participação do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, diagnostica também as principais ameaças e aponta a necessidade de uma política de proteção aos polinizadores.
O Relatório Temático sobre Polinização, Polinizadores e Produção de Alimentos no Brasil e seu Sumário para Tomadores de Decisão foram lançados em 6 de fevereiro de 2019 pela Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES) e a Rede Brasileira de Interações Planta-Polinizador (Rebipp). Uma das principais conclusões do Relatório é de que o valor econômico da polinização para a produção de alimentos no Brasil chega a R$ 43 bilhões (U$ 12 bi), e a maior parte dessa quantia cerca de 80% está associada às culturas de soja, café, laranja e maçã. Este é o valor estimado que os produtores teriam que investir para manter a produtividade de suas culturas caso os animais polinizadores viessem a faltar na natureza.
A polinização é a transferência de pólen entre os órgãos masculinos e femininos das flores. Na natureza, ela gera variabilidade genética nas espécies, o que é fundamental para que elas sobrevivam. Nas culturas agrícolas, a polinização está relacionada ao aumento de produtividade, à qualidade nutricional e à aparência dos frutos. Em 76% dos casos estudados, na falta do polinizador, a qualidade e a quantidade dos frutos ou das sementes são reduzidas. Um exemplo é a berinjela, que ganha em média 180g por unidade quando seu polinizador específico está presente na cultura. Além disso, os polinizadores fornecem produtos como mel e derivados. Por tudo isso, a polinização é considerada um serviço ecossistêmico.
A redução da quantidade e da diversidade dos polinizadores, como abelhas e outros insetos, além de pássaros e morcegos, é causa de preocupação no mundo. Daí o surgimento de iniciativas globais e regionais para estudar o tema e subsidiar os tomadores de decisão na implementação de políticas que garantam segurança alimentar às populações, sustentabilidade às culturas agrícolas e conservação ambiental.
O diagnóstico brasileiro foi realizado por uma equipe de 12 pesquisadores que, durante um ano e meio, levantaram mais de 400 publicações científicas sobre o tema. O resultado foi submetido a 11 revisores externos. A publicação segue o modelo do relatório Pollinators, Pollination and Food Production, um documento de escala mundial lançado em 2016 pela Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), coordenada em parceria por quatro agências da ONU: PNUMA, UNESCO, FAO e PNUD.
Segundo o pesquisador Leandro Freitas, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro e um dos autores do documento brasileiro, o trabalho do IPBES já previa a elaboração de documentos regionais, colocando na escala dos países o diagnóstico feito pelo painel global. O Brasil saiu na frente e é o primeiro país a concluir seu relatório sobre polinização.
A estimativa de valor foi feita a partir do que sabemos até agora, pelo que foi levantado da literatura científica a respeito. Mas ainda falta conhecimento e há muito a ser estudado. H á culturas agrícolas que dispõem de pouco ou nenhum dado sobre polinização, além de que as respostas de cada cultura podem ser diferentes entre as regiões. Isso significa que o valor deve ser maior do que o estimado atualmente, explica o pesquisador.
O Brasil conta com grande variedade de polinizadores. O relatório identificou pelo menos 250 espécies de animais com potencial de polinização de culturas agrícolas, mas esse número deve crescer à medida que novas pesquisas forem sendo feitas, uma vez que a lista dos visitantes florais ultrapassa 600 espécies. Apesar disso, pesa sobre eles uma série de ameaças. A maior delas é o uso de agrotóxicos.
Os agrotóxicos podem matar ou repelir, bem como desorientar e prejudicar a reprodução desses animais, entre outros prejuízos. A perda de habitat, as mudanças climáticas, as espécies invasoras e as doenças e patógenos também estão no rol de ameaças levantadas pelo estudo. O uso mais racional ou mesmo a substituição dos agrotóxicos por produtos menos nocivos, a conservação de áreas de floresta no entorno das áreas cultivadas e o manejo dos polinizadores associado a conhecimentos tradicionais e indígenas são algumas das soluções apontadas pelos cientistas.
Segundo Leandro Freitas, o relatório lançado em 2019 é apenas o primeiro passo de um trabalho muito mais amplo: Ele se restringe ao papel dos polinizadores nas culturas agrícolas, por esta ter sido uma meta possível de ser alcançada para este ano e também por ser mais facilmente identificável para o público e os tomadores de decisão como um serviço ecossistêmico. O próximo passo será fazer um diagnóstico completo do conhecimento sobre as interações planta-polinizador, abrangendo o conjunto das espécies de plantas no país, o que já se iniciou no âmbito da Rebipp.
Foto: Alexandre Machado
Acesse a íntegra do Relatório Temático sobre Polinização, Polinizadores e Produção de Alimentos no Brasil.