Mbaé Kaá, o que tem na mata: Barbosa Rodrigues entre plantas e pajés | Exposição temporária
A primeira exposição temporária do Museu do Jardim Botânico é “Mbaé Kaá, o que tem na mata: Barbosa Rodrigues entre plantas e pajés", que conta com a curadoria do SELVAGEM, ciclo de estudos sobre a vida, esfera de aprendizagens e de práticas liderado por Anna Dantes e orientação de Ailton Krenak, que articula memórias e saberes indígenas, tradicionais, científicos, acadêmicos, artísticos e de outras espécies.
A exposição é inspirada no livro “Mbaé Kaá - O que tem na mata: Tapyiyetá Enoyndaua”, de João Barbosa Rodrigues (1842-1909), engenheiro, naturalista, botânico, escritor, etnógrafo e primeiro diretor do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Falante do tupi antigo, do nheengatu e do guarani, Barbosa Rodrigues escreveu em 1905 esta contundente defesa do conhecimento indígena.
"É uma fala muito importante, que de certa forma até hoje não foi ouvida, porque mostra como as ciências indígenas e não-indígenas podem uma aprender com a outra. E esta sala é um espaço de celebração, onde este encontro entre os saberes sobre plantas, sobre a natureza, é possível", conta a curadora Anna Dantes.
Mbaé Kaá - O que tem na mata: Tapyiyetá Enoyndaua
Nas paredes do espaço expositivo estão reunidas algumas das cerca de 394 aquarelas que João Barbosa Rodrigues produziu em suas expedições à Amazônia, entre 1886 e 1887. Palmeiras desenhadas a partir de uma oficina na Escola Viva Guarani, localizada no Rio Silveira, estão em diálogo com as ilustrações de Barbosa Rodrigues de seu outro livro "Sertum Palmarum Brasilienium", lançado em Bruxelas, em 1903.
Arte indígena
Nhe'ery é como os Guarani veem o território que costuma ser chamado de Mata Atlântica. Para os indígenas, este sentido é muito mais amplo e profundo, porque é onde os espíritos se banham, é uma composição de mundo com uma série de relações entre todos os seres visíveis e invisíveis. "Pensando que estamos dentro da Mata Atlântica, trouxemos uma tela sobre o Nhe'ery e uma tela sobre o Rio de Janeiro imerso dentro do Nhe'ery. São desenhos coletivos", explica Dantes.
No centro da sala fica a instalação "Viva viva escola viva", que foi exibida de dezembro de 2023 a janeiro de 2024 em uma exposição homônima, de artes e medicinas, na Casa França-Brasil. O trabalho, também coletivo, é uma grande celebração, como uma assembleia de diferentes seres, incluindo os visitantes, que podem se sentar no entorno do círculo, onde estão esculturas de diferentes animais em madeira, uma arte de narrativas, de contação de histórias, produzidas pelos guaranis. E também compõem a mostra diferentes plantas do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, para trazer o campo da vida para o museu.
Audiovisual Guarani
Completam a exposição uma mostra com filmes em que Carlos Papá, cineasta, coordenador da Escola Viva Mbya Arandu Porã e liderança do Povo Guarani, revela um primeiro caminho ao encontro da língua Guarani e seus profundos significados originários. "São cinco filmes que foram gravados no Nhe'ery, e trazem uma atualização de memória ancestral, que caminha pela oralidade, e que é sobre isso que o Barbosa Rodrigues está falando no Mbaé Kaá, por isso que o nome da exposição diz 'entre plantas e pajés', porque ele está evocando esta escuta entre saberes", completa Anna Dantes.
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