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Campanha alerta sobre uso da radiação em diagnósticos por imagem em crianças
OS exames de tomografia implicam em doses bem mais elevadas nos pacientes. Crianças são particularmente mais sensíveis à radiação - Foto: (Arte: Ascom IRD)
Exposição deve ser feita de forma justificada e otimizada
O IRD tem como principal atribuição promover o uso seguro das radiação ionizante no país e uma das aplicações mais conhecidas pela população está na área de medicina, para diagnósticos. Aproveitando a data comemorativa pelo Dia das Crianças em 12 de outubro foi lançada no Brasil, pela Sociedade Brasileira de Pediatria, a campanha Image Gently, presente nos cinco continentes, cujo objetivo é estimular a conscientização sobre potenciais riscos decorrentes da exposição à radiação ionizante em procedimentos de diagnóstico por imagem em pacientes pediátricos. A iniciativa tem apoio do diretor do IRD Renato Di Prinzio, que destaca vários estudos institucionais que visam contribuir com a otimização desses procedimentos.
No âmbito da linha de pesquisa “Avaliação de risco à saúde em decorrência da exposição à radiação médica”, coordenado pela pesquisadora Lene Veiga, foram determinados o padrão e tendência de uso das diferentes modalidades de exames de diagnóstico por imagem no Brasil. A pesquisadora e chefe da Divisão de Física Médica do IRD Ana Dovales desenvolveu estudo de doutoramento com ênfase nos exames de tomografia computadorizada (TC), que implicam em doses bem mais elevadas nos pacientes. Ela explica que, entre 2001 e 2011, o exame de TC mais frequente entre pacientes ambulatoriais do SUS foi o de cabeça e pescoço, mas os exames de abdomen/pelve foram os que mais cresceram. O estudo também mostrou que 13% dos exames de TC realizados pelo SUS foram de pacientes com até 20 anos de idade.
Apesar de a população de crianças e adolescentes de 0 a 19 anos ter caído 7% entre 2008 e 2017, de acordo com dados do IBGE, a quantidade de tomografias mais que dobrou, passando de 225,4 mil para 466,8 mil. O incremento da realização de exames foi de 466% no Espírito Santo e de 420% no Rio de Janeiro. É preciso considerar a maior disponibilidade do exame, mas merece atenção o uso racional de exames como radiografias e tomografias.
Outro trabalho do IRD envolvendo 4.497 pacientes com menos de 20 anos de idade mostrou grande variação nas doses de radiação recebidas, inclusive para o mesmo tipo de procedimento. Os pacientes da mesma faixa realizaram exames de TC em 25 serviços privados em 8 cidades brasileiras. A maior dose efetiva média estimada foi de 13,5 mSv para TC de abdomen/pelve, em crianças com menos de um ano de idade. As doses absorvidas mais altas foram estimadas para o cérebro, após TC da cabeça e pescoço (23,8 a 29,0 mGy), tipo de tomografia mais comum em crianças e adultos jovens no período estudado. Um ponto de atenção é que um terço dos pacientes realizou mais de uma TC no período de estudo.
Pesquisadores do IRD destacam que, embora os benefícios associados às varreduras por TC sejam inquestionáveis, é preciso considerar riscos potencialmente associados a esses procedimentos. Isto vale principalmente para crianças, particularmente mais sensíveis à radiação. Assim, o intenso crescimento, a magnitude das doses estimadas e a grande proporção de exames de TC pediátricos no Brasil apontam para a necessidade de iniciativas que promovam a adequada justificação e otimização desses exames no Brasil, afirmam os especialistas.
Os exames de TC pediátrica devem ser feitos apenas quando devidamente justificados, isto é, quando seus benefícios superam os potenciais riscos associados, considerando inclusive se outro tipo de exame, que não faça uso da radiação, pode ser feito em substituição e com a mesma eficácia. É fundamental que cada procedimento seja feito de forma que a dose no paciente seja tão baixa quanto razoavelmente exequível.
“O objetivo é obter imagens de alta qualidade diagnóstica com as menores doses. Isso depende de equipamentos e procedimentos adequados, além de profissionais capacitados, especialmente quando se trata de exames em pacientes pediátricos”, finaliza Dovales.
Reportagem: Lilian Bueno/ Ascom IRD