Prêmio Silvio Romero de Monografias sobre Folclore e Cultura Popular 2023
O Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP/Iphan) divulgou o resultado do Prêmio Sílvio Romero de Monografias de Folclore e Cultura Popular 2023. Ao todo, foram 45 trabalhos analisados. O primeiro colocado foi uma tese sobre o papel da diáspora forçada dos povos da África Centro-Ocidental no Brasil para a formação das várias tradições sineiras brasileiras. O segundo lugar, também uma tese, investigou a Festa do Peão Boiadeiro de Barretos, problematizando a noção de “cultura” que envolve esse universo marcado pelo prestígio das relações entre homens e touros. Os vencedores receberão, respectivamente, R$25 mil e R$20 mil.
Foram ainda conferidas três menções honrosas. Na análise, considerou-se a contribuição ao aprofundamento e à renovação dos estudos de folclore e cultura popular. Também foram utilizados como critério: a originalidade do tema e/ou abordagem; o domínio de bibliografia especializada; a consistência na argumentação e clareza na apresentação dos resultados. Ainda, foram considerados os seguintes pontos: a fundamentação teórica, o quadro de referência conceitual e metodologia empregada e o desenvolvimento do trabalho com base em pesquisa de campo e/ou bibliográfica.
Conheça, abaixo, os trabalhos vencedores e respectivos resumos:
1º prêmio: “Essa gunga veio de lá!” – Sinos e sineiros na África Centro-Ocidental e no Brasil centro-africano, de Rafael Benvindo Figueiredo Galante, título original da tese de doutorado defendida na Universidade de São Paulo (USP) - Programa de Pós-Graduação em História Social do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, orientada pela Profª. Drª. Maria Cristina C. Wissenbach, em 2022.
Resumo: Esta tese corresponde a uma pesquisa de História Social da cultura voltada à compreensão do papel da diáspora forçada dos povos da África Centro-Ocidental no Brasil para a formação das várias tradições sineiras brasileiras. Buscando romper com uma perspectiva colonial euro-referenciada que sempre compreendeu os sinos das igrejas católicas no Brasil unicamente a partir de sua matriz cultural europeia, esse trabalho visa analisar os múltiplos sentidos que os sinos e seus sineiros tiveram ao longo da história do país a partir de um continuum que conecta essas tradições primordialmente à diáspora africana no Brasil. Entendendo a centralidade que os sineiros africanos e seus descendentes afro-brasileiros tiveram nesse processo, este trabalho parte da premissa que suas experiências históricas e respectivas construções de tradições culturais diaspóricas só podem ser efetivamente compreendidas a partir da historicidade dos próprios legados civilizatórios africanos. Nesse sentido o trabalho está centrado especificamente nos significados da experiência social de sineiros africanos e afro-americanos em campanários católicos do Brasil escravista, e finalmente do estudo dessas presenças no imaginário cultural oitocentista por meio da literatura de Machado de Assis e da música do compositor João José Lopes Junior.
2º prêmio: A “arte do rodeio”: peões, touros e tropeiros na sociedade do agronegócio, de Carlos Eduardo Machado, título original da tese de doutorado defendida na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) - Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, orientada pela Profª. Drª. Nashieli Cecília Rangel Loera, em 2022.
Resumo: Esta pesquisa aborda práticas e sentidos do mundo do rodeio no Brasil. Partindo da expressão “arte do rodeio”, cunhada do universo da Festa do Peão de Barretos, busca-se compreender como se afirmam determinados valores na sociedade brasileira configurados em torno do agronegócio. Fruto de pesquisa em arquivos e documentos históricos e de um levantamento etnográfico da Festa do Peão de Barretos (com trabalho de campo realizado com organizadores desta festa, profissionais do rodeio e seus participantes), esta pesquisa problematiza a noção de “cultura” que envolve esse universo marcado pelo prestígio das relações entre homens e touros, pela construção de uma identidade nacional associada ao peão boiadeiro, pela dinâmica do mercado de bens simbólicos e pelas atuais lutas por reconhecimento de direitos culturais.
1ª menção honrosa: Tradição como missão: história da preservação da memória e identidade das Folias de Reis em Ourinhos e Palmital (SP), de Rafaela Sales Goulart, título original da tese de doutorado defendida na Universidade Estadual Paulista (Unesp) - Faculdade de Ciências e Letras, Campus de Assis/SP, orientada pela Profª. Drª. Fabiana Lopes da Cunha, em 2022.
Resumo: Esta monografia procura compreender como as Folias de Reis são preservadas nos municípios paulistas de Ourinhos e Palmital, identificando os elementos – acontecimentos, instrumentos e ações – utilizados pelos sujeitos e grupos (Bandeiras de Santos Reis de Ribeirão Grande; Companhia de Reis Água das Anhumas; Companhia de Reis Família Faceiros e Faceiros Jr.; Companhia de Reis Três Ilhas) na construção da sua memória, história e identidade. Para isso, utilizou-se da metodologia qualitativa da história oral para o levantamento de fontes diversas (entrevistas, faixas musicais transcritas, imagens, livretos, podcasts e vídeos) acerca das memórias da celebração em questão, bem como de revisão de literatura sobre a temática. O estudo aponta para a importância dos estudos locais na reflexão sobre as ações e demandas coletivas no campo da cultura, contribuindo ao planejamento de futuras políticas públicas.
2ª menção honrosa: Espaços Culturais e Intelectuais na Construção da Memória da Música Popular Brasileira, de Letícia Freixo Pereira, título original da tese de doutorado defendida na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) - Faculdade de Formação de Professores (FFP), Programa de Pós-Graduação em História Social, orientada pelo Prof. Dr. Luís Reznik, em 2023.
Resumo: Esta pesquisa tem como intuito analisar os trabalhos do Museu da Imagem e do Som (MIS) do Rio de Janeiro, da Fundação Nacional de Artes (Funarte), da Associação de Pesquisadores da Música Popular Brasileira (APMPB) e dos fascículos da Editora Abril da coleção História da Música Popular Brasileira, com objetivo de mostrar que esses espaços culturais estavam conectados e seus intelectuais circulavam entre eles, realizando trabalhos e projetos em conjunto. Esses intelectuais atuavam como mediadores culturais na construção da memória da música popular brasileira. Essa construção não aconteceu sem debates, mas o Samba dos primeiros anos da República e seus intérpretes tiveram suas memórias privilegiadas e legitimadas pelos intelectuais desses espaços.
3ª menção honrosa: “Cultura” e Burocracia: as relações dos maracatus de baque solto com o Estado, de Leonardo Leal Esteves, título original da tese de doutorado defendida na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) - Programa de Pós-Graduação em Antropologia, orientada pela Profª. Drª. Lady Selma Ferreira Albernaz, em 2016.
Resumo: Este trabalho tem como tema as relações dos maracatus de baque solto com o Estado, mediadas pelas políticas culturais. Nas últimas décadas, se por um lado, houve uma ampliação das políticas públicas voltadas para as culturas populares, por outro, percebe-se uma dificuldade significativa por parte dos representantes deste “segmento” em ter acesso a estas políticas que lhes são destinadas. Buscando se adequar a preceitos republicanos de isonomia, democracia e transparência, órgãos de controle do Estado têm instituído uma série de mecanismos burocráticos como exigência para fomento à cultura. O maracatu, no entanto, como afirmam seus representantes, é uma “brincadeira pesada!”. Ainda que as políticas culturais sejam uma dimensão importante para seus participantes, as relações com o Estado podem ficar perdidas em algumas encruzilhadas.
Clique nos links para acessar as teses que originaram os trabalhos:
A “arte do rodeio”: peões, touros e tropeiros na sociedade do agronegócio
Espaços Culturais e Intelectuais na Construção da Memória da Música Popular Brasileira
“Cultura” e Burocracia: as relações dos maracatus de baque solto com o Estado
Membros da Comissão de Seleção:
Adriana Facina Gurgel do Amaral, mestre em História, doutora em Antropologia Social e professora titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Edil Silva Costa, mestre em Letras e Linguística, doutora em Comunicação e Semiótica e professora titular plena da Universidade do Estado da Bahia (UNEB); Edson Silva de Farias, mestre em Sociologia, doutor em Ciências Sociais e professor adjunto da Universidade de Brasília (UnB); Sônia Maria Moraes Chada, mestre e doutora em Música - Etnomusicologia, professora associada da Universidade Federal do Pará (UFPA); e Ana Lima Kallás, mestre e doutora em História, pesquisadora do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP), como representante institucional.