Prêmio Sílvio Romero de Monografias sobre Folclore e Cultura Popular
O Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP/Iphan) divulgou o resultado do Prêmio Sílvio Romero de Monografias sobre Folclore e Cultura Popular deste ano. Foram 37 trabalhos analisados, no campo da cultura popular. O 1º colocado foi uma dissertação sobre a relação entre artesanato e capitalismo no povoado alagoano de Ilha do Ferro; já o 2º lugar foi de uma tese de doutorado que investigou o legado do Pai de Santo e artista Joãozinho da Gomeia. Cada um receberá, respectivamente, R$25 mil e R$20 mil.
Foram ainda conferidas três menções honrosas. Na análise, foram considerados: a contribuição ao aprofundamento e à renovação dos estudos de folclore e cultura popular; a originalidade do tema e/ou abordagem; o domínio de bibliografia especializada; a consistência na argumentação e clareza na apresentação dos resultados; a fundamentação teórica, quadro de referência conceitual e metodologia empregada; o desenvolvimento do trabalho com base em pesquisa de campo e/ou bibliográfica.
Veja, abaixo, os trabalhos vencedores e seus respectivos resumos:
1º prêmio: O Circuito das Artes Populares no Brasil: o caso do povoado Ilha do Ferro (AL), de Artur André Lins, dissertação de mestrado defendida sob o título original "Artesanato e Capitalismo: o caso da Ilha do Ferro (Alagoas)", na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) – Departamento de Sociologia, sob orientação do Profº Michel Nicolau Netto em 10/12/2021.
Resumo: A pesquisa tematiza a requalificação, reclassificação e reposicionamento das artes populares no mundo social contemporâneo. O objetivo é investigar as dinâmicas socioeconômicas e simbólicas de um circuito de bens culturais específico, um circuito de objetos plásticos que são classificados como “Arte Popular” e “artesanato tradicional”. O problema consiste na compreensão do processo de assimilação das artes populares ao sistema de arte-cultura (mundo da arte) e ao sistema de mercado (esfera econômica) contemporâneos. Assim, o pesquisador elegeu a formação de um polo artístico-artesanal no povoado sertanejo Ilha do Ferro (Alagoas) como um estudo de caso para compreender o funcionamento desse circuito das artes populares no Brasil. Nesse sentido, foram observadas a produção dos artistas-artesãos, a função dos intermediários, a legitimação e a circulação dos objetos.
2º prêmio: Entre ausências e presenças, enredamentos com a vida de Joãozinho da Gomeia em Duque de Caxias, de Adriana Batalha dos Santos, tese de doutorado defendida sob o título original “’Pandeiro não quer que eu sambe aqui/ Viola não quer que eu vá embora’: Entre ausências e presenças, enredamentos com a vida de Joãozinho da Gomeia em Duque de Caxias”, no Programa de Pós Graduação em Antropologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), sob orientação da Profª Lygia Baptista Segala Pauletto, em 30/10/2020.
Resumo: A tese procurou seguir fluxos culturais que ligam indivíduos, redes sociais, instituições e poder público a legados religioso, artístico e político do Pai de Santo e artista Joãozinho da Gomeia. A pesquisa procurou limitar a identificação desses fluxos ao município de Duque de Caxias (RJ), para onde o baiano João Alves Torres Filho migrou no final da década de 1940 e comandou, até sua morte em 1971, seu “Terreiro da Gomeia”, criado em Salvador (BA). No entanto, os próprios fluxos transbordaram os limites que a pesquisadora tentou estabelecer. Logo, ela procurou seguir linhas que os pontos identificados de produção desses fluxos desenhavam. Nesse desenho, provisórias alianças e disputas enredam empreendedores da memória de Joãozinho da Gomeia a rastros materiais, simbólicos e encantados da presença de múltiplas “Gomeias” e “Joões”, acionando lutas patrimoniais e processos de reconhecimento social.
1ª menção honrosa: LEZÔ, LEZÁ, VAMÔ VADIÁ, NESTA LEZEIRA! - Ancestralidade e simbolismo na dança da Lezeira do sertão do Piauí, de Eduardo Pontin Ferreira de Araújo, apresentada sob o título original “A importância da Lezeira para a Cultura Popular” no Encontro de Cultura Regional do centro-sul do Piauí, da Academia Florestense de Cultura Popular.
Resumo: A Lezeira é um tipo de dança de roda de adultos que possivelmente seja o maior repositório de quadras populares ancestrais conservadas no Brasil atual. Música e dança existentes desde ao menos 1870, é ainda hoje cultivada por lavradores e lavradoras nos mais recônditos rincões do sertão do Piauí. Por essa razão, permanece desconhecida até mesmo dos próprios piauienses que residem fora da região centro-sul, onde é mais fortemente praticada. O trabalho visa descrever o valor simbólico e ancestral que a Lezeira exerce perante os seus participantes, como também documentar o seu ritual, quadro social, dança, cancioneiro e cantadores. A intenção não é retirar a Lezeira de seu lugar de origem, mas jogar luz a esta manifestação cultural para que o maior número de pessoas possa conhecer a sua riqueza escondida no coração do sertão do Piauí.
2ª menção honrosa: “Cantar os Reis”: Sistemas de Cantoria e Localidade, de Priscila Maria Ribeiro Buzzi, defendida sob o título original “Cantar os Reis”: Sistemas de Cantoria e Localidade, na Universidade de São Paulo - Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP), sob orientação da Profa. Dra. Flávia Camargo Toni, em 01/06/2022.
Resumo: Na tese, a pesquisadora investiga como a cantoria de Reis da centenária Folia dos Prudêncios, grupo da cidade de Cajuru (SP) e os chamados sistemas de cantoria mostram como espaço, local e localidade são elementos importantes de compreensão para se pensar como tal música é produzida e entendida por todos que dela participam ao considerar as relações estabelecidas. A técnica é um dos elementos importantes dessa construção, embora não possa se furtar a reflexões ontológicas da Geografia. O processo de investigação parte da perspectiva da pesquisadora foliã, que ocupa esses dois papéis, sendo que atua nessa Folia desde a infância. Considerando a autoetnografia como um dos métodos do trabalho, procura, através da análise do repertório transcrito, que totaliza 50 toadas diferentes (melodias cantadas pela Folia), compreender como o repertório da Folia atua como mecanismo de identidade do grupo.
3ª menção honrosa: Luta, de Amalle Catarina Ribeiro Pereira, tese de doutorado defendida sob o título original “VIDA DE GADO: vaqueiros entre a lida e a palavra em Serrita (PE)”, na Universidade de Brasília – (UnB), sob orientação de João Miguel M Sautchuk, em 22/11/2021.
Resumo: A etnografia pretende compreender o processo relacional e prático de elaboração da pessoa do vaqueiro em sua luta. Luta é como vaqueiros chamam fazeres em que estão engajados com outros humanos e com animais, a caatinga, instrumentos de couro, lugares, tempos e palavras. Em torno da luta gravitam preceitos de virilidade que valoram vaqueiros, a partir do que são capazes de fazer. Portanto, a análise da luta compreende o estudo de práticas e valores. O exercício etnográfico de aproximação e contraste se deu por meio da linguagem fotográfica; por meio do engajamento da pesquisadora em seus fazeres, como aprendiz; e de uma apreciação das músicas e do aboio – manifestação poética de aboiadores que cantam a vaqueirice. A escrita dos capítulos é contextualizada pelas relações que vaqueiros estabelecem no âmbito de suas vivências, na luta, na pega de boi e na Missa do vaqueiro, em especial na cidade de Serrita (PE).
Membros da Comissão de Seleção:
ANDREA CIACCHI, Doutor em Estudos Ibéricos na Universidade de Bolonha, é Professor Titular no Programa Pós-graduação Interdisciplinar em Estudos Latino Americanos e do Programa de Literatura Comparada da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA); JÚLIO CÉSAR SUZUKI, Doutor em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo (USP), é Livre Docente em Fundamentos Políticos, Sociais e Econômicos da Geografia e Professor Associado do Programa de Pós-Graduação (Mestrado e Doutorado) em Integração da América Latina (PROLAM) da Universidade de São Paulo; MICHELLE PATRÍCIA PAULISTA DA ROCHA, Doutora em Estudos da Linguagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, é Pesquisadora do NCCEN -Núcleo Câmara Cascudo de estudos norte-rio-grandenses; IAPERI SOARES DE ARAÚJO, médico, desenhista, gravador, escritor, poeta, e crítico de arte, é fundador da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço, presidiu a Associação Brasileira de Medicina Popular, é membro da Academia Norte-rio-grandense de Letras e dos Institutos Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e de Goiás, além de presidir a Comissão Norte-rio-grandense do Folclore; DALIANA CASCUDO ROBERTI LEITE, psicóloga, foi diretora do Memorial Câmara Cascudo - Natal/ RN, é presidente e sócia fundadora da Ludovicus - Instituto Câmara Cascudo - Natal/RN; LUIZ CÉSAR DOS SANTOS BAÍA, Doutor em Museologia e Patrimônio pelo Programa de Pós-graduação em Museologia e Patrimônio (PPG-PMUS), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e Museu de Astronomia - UNIRIO/MAST, é Pesquisador do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular - CNFCP do Departamento de Patrimônio Imaterial do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).