Encontro Na Gira do Tempo movimenta o Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular em grande celebração
Conversas, conexões, arte e criação: ao longo de cinco dias, o Encontro Na Gira do Tempo celebrou da melhor forma os 65 anos do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP/Iphan), ocupando os espaços do jardim do Museu da República e do próprio Centro. Do dia 5 a 9 de setembro, o público pôde conferir uma série de atividades, entre rodas de conversas, exposições, o Mercado Brasil de Artesanato Tradicional, apresentações culturais, shows, lançamento de livros e feira de comidas regionais. O evento teve a parceria da Associação de Amigos do Museu de Folclore (Acamufec) e da Fundação Nacional de Artes (Funarte), e apoio do Museu da República/IBRAM e da ONG Casa Santos Reis.
Estiveram presentes, ao longo do evento: o diretor do Departamento de Patrimônio Imaterial do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Deyvesson Gusmão, representando o Iphan; Desirée Tozzi, da Secretaria dos Comitês de Cultura, representando o Ministério da Cultura (MinC); e representando a Fundação Nacional de Artes (Funarte), a presidenta Maria Mariguella, o diretor-executivo Leonardo Lessa, a diretora de Artes Visuais, Sandra Benites, e o diretor de Artes Cênicas, Rui Moreira.
O diretor do CNFCP/Iphan, Rafael Barros, destacou a movimentação e visibilidade que o evento trouxe para o Centro. “Ficamos felizes com a projeção que a gente conseguiu dar para o trabalho do Centro, para a importância do acervo que esta instituição resguarda, com o volume de pensamentos, práticas e saberes aqui compartilhadas. Esperamos que todo esse conjunto de conhecimento, de informações, de trocas, possam alimentar a continuidade das ações que realizamos e também fomentar outros programas voltados para a preservação do nosso imenso e rico patrimônio cultural”, ressaltou.
Mestre Bule-Bule, aos 76 anos um dos mestres da cultura nordestina mais renomados do país, abriu a programação de shows à noite e fez uma participação no último dia, tendo acompanhado todos os dias do encontro. “É aconchegante vir para o Rio de Janeiro para participar de um evento tão significativo para a cultura nacional. Todos os movimentos, todos os dias, eu participei, porque em tudo aquilo tinha coisa muito interessante e eu fui dar a minha contribuição. Ali você se sente mais brasileiro, esse brasileiro que está construindo no seu dia a dia saberes e fazeres”.
A professora e revisora Carmila de Oliveira participou de algumas atividades do Encontro e ressaltou o senso comunitário estimulado por um evento assim. “Foi um encontro com as melhores pessoas do nosso país, as rodas de conversa foram inspiradoras e também provocativas. O artesanato que foi exposto ali, as artes, os artistas que se apresentaram, as oficinas que foram dadas, foi tudo uma composição de muita inspiração, foi um alívio esse evento, colocou a gente em outro tempo, tirou um pouco a gente desse tempo acelerado, de consumo, e de produção desenfreada e predatória.”
Sobre o encontro
A programação de Na Gira do Tempo começou com a abertura da exposição Prêmio Mário de Andrade de Fotografias Etnográficas – edição 2022, na Galeria do Terceiro Andar do CNFCP. As imagens vencedoras do concurso, nas categorias fotografia individual e série, fazem parte da mostra que permanece sem data para encerramento. Das 32 imagens expostas, três são da categoria fotografia individual, sendo o primeiro lugar “A fé conduz”, de Fernanda Vasconcellos, seguida de “Capoeira sobre as Minas Gerais”, imagem de Emerson de Paula Alves e, no terceiro lugar, “Coreira do tambor de crioula de Santa Rosa dos Pretos dança com São Benedito”, de Juliana Loureiro Silva. E mais 29 imagens na categoria série fotográfica: “Samba Carioca” de Ricardo Beliel, que foi o primeiro lugar; no segundo, “A Fé no São João”, de Márcio Henrique Furtado Vasconcelos; e “Minha Sereia é Rainha do Mar: Festa da Capoeira na Festa de Yemanjá”, de Maria Puppim Buzanovsky, pelo terceiro lugar.
No dia 05/09, à tarde, o Cortejo de Folia de Reis – A Brilhante Estrela do Oriente convidou as pessoas para seguirem à tenda do seminário onde aconteceu o diálogo inspirador “Conversa Dya Nganga”, com Pedrina de Lourdes Santos, capitã da Guarda de Massambike de Nossa Senhora das Mercês de Oliveira/ MG.
Na sexta-feira, dia 06/09, começaram as rodas de conversas temáticas, reunindo mestras, mestres, pesquisadores, representantes de comunidades e grupos envolvidos e/ou interessados nos debates sobre as iniciativas do CNFCP. Foram espaços de provocação para pensar a missão institucional hoje, a partir de temas fundamentais para o campo, como pesquisadores orgânicos, pesquisa com engajamento político e social, desconstrução das estruturas colonizadoras a partir da provocação de outras cosmologias, oralidade como dimensão estruturante, os transbordamentos dos contornos de arte e cultura popular, os debates em torno da constituição e acessibilidade de acervos.
Todas as rodas de conversa tiveram transmissão on-line, que ficaram salvas no canal do CNFCP no Youtube e podem ser conferidas neste link: https://www.youtube.com/playlist?list=PLrrzeUYrc56mN2f7REThHu_D85IgjWOXB
O Mercado Brasil de Artesanato Tradicional, que é realizado pela Acamufec e conta com a parceria do CNFCP, teve lugar Na Gira do Tempo. Além da feira, que expôs e vendeu objetos de 65 comunidades e artistas de diferentes estados brasileiros, mestras artesãs e mestres artesãos, que já participaram do Programa Sala do Artista Popular (SAP), estiveram à frente de oficinas, compartilhando seus conhecimentos e fazeres. Maria Aparecida e Terezinha, do Vale do Jequitinhonha/MG, apresentaram seus saberes na área da cerâmica; Iraci e Nizete, de Barreirinhas/MA, mostraram como fazer os trançados de Buriti; produções de Xilogravura foram exploradas pelo artista Erivaldo Ferreira, do Rio de Janeiro/RJ; Louco Filho, de Cachoeira/BA, falou e mostrou a produção de sua arte: esculturas em madeira; Rosani e Viviane, de Pelotas/RS, produziram acessórios feitos de rede; os bordados de Sávia, Iraides e Natalha, do coletivo Matizes Dumont, encantaram o público; e a última oficina produziu objetos feitos com sucata com a orientação dos artistas Hélio Leites, de Curitiba/PR, e Willi de Carvalho, de Monte Alegre do Sul/SP.
Algumas peças que estavam no Mercado Brasil de artesanato tradicional podem ser vistas e adquiridas no Espaço de Comercialização da SAP.
O público também participou das Visitas Conversadas à exposição “Os Objetos e suas Narrativas” do Museu de Folclore Edison Carneiro, nos dias 06 e 07, e da palestra "Arquivos, etnografia e música: patrimônio cultural imaterial", com Anthony Seeger no dia 09.
O Encontro também foi repleto de atrações culturais e shows durante o dia e à noite, com a participação de Mestre Bule-Bule, Roda de professores da Casa do Choro, Roda de Samba Jequitibá, Silvan Galvão e Grupo, Sérgio Pererê e a Irmandade Os Ciriacos, grupo Mamulengo Flor do Mulungu. O encerramento do Encontro contou com as apresentações de Áurea Martins, com seu show ‘Senhora das Folhas’, da DJ Orkidia e de Cátia de França, com seu espetáculo ‘No Rastro de Catarina’.