A arte da cerâmica Xakriabá é a nova exposição SAP
Foto: Oscar Liberal, máscara de barro por Zelina Xakriabá
O Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular(CNFCP) apresenta a exposição Tkai wamsrē, wanõr tê dasiwawē: barro, nosso parente ancestral na Sala do Artista Popular(SAP). A arte do povo Xakriabá do município de São João das Missões, na região norte do Estado de Minas Gerais, no Vale do Rio São Francisco, é o tema desta mostra que é a culminância do trabalho de pesquisa realizado no território indígena. A abertura da exposição contou com as presenças de Nei Xakriabá, artista e pesquisador, Ivanir Xakriabá, artista e ceramista, Célia Xakriabá, deputada federal PSOL/MG, Ana Maria Rabelo Gomes, professora titular da Faculdade de Educação da UFMG e fundadora da Formação Intercultural para Educadores Indígenas. Todos participaram também de Um Dedo de Prosa, sobre a cultura Xakriabá, no dia 24 de maio, como parte das atividades do Programa SAP.
No mesmo dia, representantes do CNFCP/Iphan e do Iphan, os artistas Nei e Ivanir e a professora Ana Maria fizeram uma visita técnica ao Museu Nacional dos Povos Indígenas, parceiro na realização da mostra, para conhecer a reserva técnica e articular outras ações. Uma delas será a formação de um acervo Xakriabá, que integrará a coleção do museu. Participaram da visita, pelo CNFCP/Iphan, o diretor Rafael Barros e a historiadora e museóloga Flávia Flausing Gervásio; pelo Iphan, o diretor do Departamento de Patrimônio Imaterial do Iphan Deyvesson Israel Alves Gusmão; e pelo Museu Nacional dos Povos Indígenas, o coordenador de Patrimônio Cultural Rodrigo Piquet, coordenador de Patrimônio Cultural, o diretor substituto Eduardo Barcellos e a colaboradora do Seger Sara Rebeca Kokama.Sobre os Xakriabá
O povo Xakriabá tem lutado não só pela reconquista e reocupação das terras anteriormente invadidas por fazendeiros e posseiros, como também pela retomada cultural. Em diferentes períodos dos 400 anos de contato com os não indígenas, foi proibido de praticar seus costumes e de falar sua língua Akwë. Desde 1997, com o desenvolvimento das escolas indígenas, a educação está direcionada ao fortalecimento das práticas tradicionais. Hoje, as escolas têm seu próprio calendário, onde a arte e a cultura foram inseridas. A cerâmica ganhou força a partir das conquistas.
O barro é a matéria-prima com que se fazem peças artísticas no Território Xakriabá. Os cuidados começam desde o planejamento para sua retirada, com a escolha da quadra certa da lua para essa tarefa. A lua ideal é da quarta crescente para a cheia. Antes de retirar o barro, canta-se e reza-se, pedindo licença e agradecendo à natureza. "Como a terra é mãe, o barro também tem um parentesco com o nosso povo. Segundo dizem os mais velhos, o barro é um parente ancestral, pois traz em seus elementos as forças dos antepassados", explica Nei Xakriabá, artista e pesquisador. "O barro sente vibrações, escuta, conecta e se desconecta do próprio corpo do artista. Na verdade, é o barro quem conduz o trabalho do artista durante a modelagem", afirma Nei, destacando que para um bom trabalho na modelagem das peças, são necessários bons pensamentos.
Há barro com mais umidade e arenoso e o barro mais oleoso e puro. O seu uso vai depender da peça que se imagina fazer, se decorativa ou utilitária. Entre as peças decorativas estão as moringas zoomórficas produzidas por Nei, os bichinhos e bustos feitos por Dona Dalzira, e as máscaras e bustos criados por Dona Zelina. Dona Laura, Ivanir e Arlinda dedicam-se, sobretudo, à produção de peças utilitárias, como panelas, travessas, pratos, copos, xícaras e moringas. Após a retirada do barro, é necessário que se machuquem e batam os torrões para remover a sujeira, como pedaços de raízes e pedras. Cada etapa é acompanhada pelos cantos Xakriabá.
Com os toás, pedaços de rochas minerais que se dissolvem na água depois de serem quebrados, as peças recebem cores, que podem ser claras - branco, amarelo e rosa - ou escuras - preto e roxo. Para decorar, os desenhos escolhidos são os mesmos da pintura corporal Xakriabá, e outros como plantas, folhas e animais.
Depois de pintadas, as peças são colocadas para secar na sombra, onde não recebem muito vento. Quanto mais tempo a peça permanecer secando, menor será o risco de rachar durante a queima. A fase seguinte é enfornar e queimar. Para enfornar, é preciso muito cuidado. As maiores peças e mais pesadas ficam por baixo e as mais leves por cima. A queima dura um dia. E antes de serem retiradas do forno, elas precisam esfriar.+
Neste ciclo do fazer cerâmico, onde o respeito e o cuidado se destacam, "pode-se dizer que o barro se inscreve no próprio corpo do artista, além de ocupar diferentes lugares no corpo das aldeias, como no interior das casas, dos ateliês, da escola e dos fornos coletivos...Compreendo os artistas e o barro a partir de uma relação de parentesco (descendência). Pode-se dizer que vidas transformam o barro, mas também são transformadas por ele", conclui Nei Xakriabá.
As ceramistas e o ceramista Xakriabá
Da Aldeia Barreiro Preto, terra indígena Xakriabá, localizada em São João das Missões (MG):
Dona Zelina Xakriabá, 74 anos, é artista ceramista; trabalha com arte desde seus 14 anos de idade.
Dona Dalzira Xakriabá, Dalzira Pereira Leite, é artista e trabalha com cerâmica desde os 13 anos .
Dona Laura Xakriabá, Laura Gonçalves Alquimim Silva, conhecida como Laurinha, é artista ceramista e trabalha com cerâmica desde os seus 10 anos.
Ivanir Xakriabá, Ivanir Bezerra de Oliveira, é artista e ceramista. Possui formação como Empreendedora em Artesanato e em Turismo e Agente de Turismo pelo SENAR/MG, além de formação nos atrativos e normas do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, localizado no território Xakriabá, pelo ICMBio.
Nei Leite Xakriabá, Vanginei Leite da Silva, é artista, ceramista e professor da Escola Xukurank. Desenvolveu uma pesquisa junto aos mais velhos, grandes sábios de seu povo, em torno da cerâmica tradicional, ativando a retomada de uma prática ancestral que estava adormecida. Como resultado, escreveu o livro Manual de Cerâmica Xakriabá, publicado em 2017 pela editora Fino Traço.
Da Aldeia Sumaré I, terra indígena Xakriabá, localizada no município de São João das Missões (MG):
Arlinda Cavalcante da Gama é ceramista desde sua infância, quando aprendeu observando sua mãe Santilia, reconhecida ceramista. É professora na disciplina de Cultura na Escola Estadual Bukinuk Kuiopte da aldeia Sumaré III, compartilhando suas técnicas de modelagem com os jovens do povo Xakriabá.
Sobre o Programa Sala do Artista Popular
Tkai wamsrē, wanõr tê dasiwawē: barro, nosso parente ancestral é a 207ª exposição do Programa SAP, criado em 1983 com o intuito de oferecer um espaço de exposições de curta duração, voltado para difundir e comercializar as obras de artistas e comunidades da cultura popular. Cada mostra conta com catálogo desenvolvido a partir de pesquisa etnográfica e documentação fotográfica realizada pela equipe do CNFCP. Mesmo depois de encerrada a exposição, os artistas podem continuar enviando suas obras para o espaço de comercialização do Centro. A partir da divulgação e do contato direto com o público, abrem-se oportunidades de expansão de mercado e de produção.
Realização
Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP/Iphan)
Associação dos Amigos do Museu de Folclore Edison Carneiro (Acamufec)
Parceria:
Ministério dos Povos Indígenas
Fundação Nacional dos Povos Indígenas
Museu Nacional dos Povos Indígenas
e
Governo do Estado de Minas Gerais/ Sebrae
Secretaria de Desenvolvimento Econômico
Serviço:
Exposição Tkai wamsrē, wanõr tê dasiwawē: barro, nosso parente ancestral
Onde: Sala do Artista Popular
Período: 23/05 a 18/08/2024
Dias e horários: Terça a sexta-feira, das 10h às 18h
Sábados, domingos e feriados, das 11h às 17h
Informações: atendimento.cnfcp@iphan.gov.br