A educação, os contextos culturais e a participação social
Projeto de Pesquisa: A EDUCAÇÃO, OS CONTEXTOS CULTURAIS E A PARTICIPAÇÃO SOCIAL
Linha de Pesquisa: Patrimônio cultural: instrumentos, informação e desenvolvimento
Natureza do Projeto: Pesquisa
Professoras: Ana Carmen Amorim Jara Casco (responsável pelo Projeto), Juliana Ferreira Sorgine e Sônia Regina Rampim Florêncio
Descrição: Esse projeto consiste na continuidade da reflexões do projeto de pesquisa encerrado em 2018: "Educação e Patrimônio Cultural". Objetivos Gerais: 1. Pesquisar, descrever e analisar a história da presença de uma visão educacional na formação do campo político e institucional voltado para a preservação do patrimônio cultural no Brasil, desde a criação do Iphan em 1937, com especial ênfase nos anos 1980 quando os contextos culturais aparecem na política cultural dentro do Programa Interação e no documento “Diretrizes para operacionalização da política cultural do MEC” (1981); 2. Aprofundar uma reflexão crítica sobre os diferentes projetos de educação patrimonial desenvolvidos pela instituição ao longo do território brasileiro e a partir das demandas e iniciativas das diferentes instâncias existentes no Iphan e em particular os Inventários participativos (experiência paulista), a política de criação das Casas do patrimônio – “esquina do patrimônio no Rio de Janeiro” e as ações educativas desenvolvidas pelo Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular que integra o Departamento de Patrimônio Imaterial; 3. Identificar e analisar ações que envolvam oficinas para professores , alunos e grupos sociais, edição e publicação de material informativo, ações voltadas para a interação e/ou escuta dos grupos sociais locais envolvidos com bens culturais e sua preservação, etc.; 4. Pesquisar diferentes abordagens teórico conceituais que criadas nos campos da educação, pedagogia, filosofia, ciências sociais, possam se incorporar às reflexões e práticas voltadas para a consolidação de uma visão na qual o viés educativo informado pela cultura compareça como uma ação transversal, dialógica e de participação social em todo o processo de preservação de memórias, patrimônios, resgate, valorização e respeito às diferentes identidades que constituem a nação brasileira. 5. Identificar e discutir as diversas formas pelas quais a educação, nutrida pela cultura, se relaciona com temas e ações da área do patrimônio cultural, como cursos e obras de teor instrucional, materiais de cunho didático e eventos diversos. 6. Problematizar o campo da educação, como forma de lidar com o conhecimento à partir das perspectivas de autonomia, saberes locais, construção participativa de projetos de investigação e pesquisas, formulação e execução de investigações que contem com a participação dos grupos sociais diretamente envolvidos com as questões patrimoniais nos territórios estudados – o pensamento decolonial, a ecologia dos saberes.
Objetivos específicos: 1. Analisar o Inventário Participativo de Iguape; 2. Investigar a criação e funcionamento do projeto “Esquina do Patrimônio” realizado no âmbito da Superintendência do Iphan Rio de Janeiro nos anos 1990, como forma de aproximação do Iphan com a sociedade; 3. Analisar as ações educativas realizadas no âmbito do CNFCP como precursoras de um modo de atuar que leve em consideração a cultura como mote, e a integração e participação social como princípio ético da ação. Justificativa: As ações educativas no âmbito do Iphan assumiram ao longo do tempo um papel que foi aos poucos se modificando. Desde uma premissa de criar uma consciência e cultivar a civilidade de uma Nação à partir da construção de uma identidade nacional, passando pela identificação de valores nacionais fortemente ancorados em uma estética e história monumentais, nos anos iniciais de criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, até os anos mais recentes quando a cidadania, os direitos culturais e o protagonismo dos grupos sociais na identificação e salvaguarda dos valores culturais é referendado pela Constituição Federal. Assim, o que esta pesquisa procura investigar, é a relação de algumas ações educativas realizadas no âmbito do Iphan com uma prática e uma política de aproximação do Estado com a sociedade civil e os diferentes modos de compreender e construir esta relação. Do ponto de vista teórico vamos procurar inserir, como contraponto e problematização do campo das ações educativas, visões contemporâneas como a de microfísica do poder e arqueologia da saber, criadas pelo filósofo Michel Foucault; as visões pedagógicas e de educação do educador Paulo Freire; as visões de ecologia dos saberes, epistemicídio, sociologia das ausências e das emergências, formuladas pelo cientista social Boaventura Sousa Santos; assim como os trabalhos desenvolvidos por inúmeros pesquisadores a respeito de um pensamento decolonial, a incorporação do outro como ator e autor dos processos participativos inclusive (e principalmente) no que diz respeito à produção dos conhecimentos envolvidos em ações de caráter educativo e cujo conteúdo se baseie essencialmente na cultura.
Metodologia: 1. Pesquisa em fontes documentais existentes em acervos que guardem a história política brasileira; 2. Pesquisa em fontes documentais existentes nas unidades do Iphan localizadas nos diferentes estados assim como nos acervos de eventuais parceiros locais, especialmente em São Paulo (inventários participativos, o caso de Iguape); Brasília, Arquivo Central, Rio de Janeiro – esquina do Patrimônio e pesquisas que já abordaram o tema (casas do patrimônio); CNFCP – projetos “De mala e cuia”, “Fazendo fita” e “Olhando em volta”; 3. Pesquisa bibliográfica de caráter teórico em cada área de conhecimento específica se faz necessária, assim como sua relação e aplicação a uma prática concreta cujos resultados servirão para alimentar o constante debate a respeito do uso da educação como mediadora das relações entre a instituição e os grupos locais com os quais negocia e partilha a preservação do patrimônio cultural brasileiro. Assim serão pesquisados autores e trabalhos que lidam com o tema dos Inventários, Participação social à partir das noções de direitos culturais e cidadania, cultura popular e museus etnográficos como campos de experiência de ações educativas; 4. Entrevistas com servidores diretamente envolvidos com algumas destas ações com o objetivo de compreender as motivações do projeto e obter dados sobre a realização das ações; 5. Entrevistas com representantes do público alvo de algumas das ações pesquisadas com o objetivo de avaliar o impacto da ação sobre a realidade local e debater a importância do acompanhamento das ações; 6. Estudar e aprofundar perspectivas apontadas por filósofos como Michel Foucault, educadores como Paulo Freire, e de cientistas sociais como Boaventura Sousa Santos no que diz respeito ao entendimento das relações de autonomia e poder de uma arqueologia e uma ecologia de saberes.