Lucio Costa e a unidade especial que leva seu nome
Você sabe por que o Centro Lucio Costa, unidade especial do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) recebeu esse nome? Conheça um pouco da trajetória desse brilhante profissional da arquitetura e do Patrimônio Cultural brasileiro:
O arquiteto Lucio Costa ficou nacionalmente conhecido por ter concebido o desenho da capital federal do Brasil, Brasília, e ter sido escolhido em 1935 para projetar o prédio do então Ministério da Educação e Saúde Pública, atual Palácio Gustavo Capanema, reconhecido internacionalmente como um marco da arquitetura modernista. Ele também contribuiu de forma significativa para a formação de profissionais ligados ao Patrimônio Cultural brasileiro.
Um dos marcos da trajetória do arquiteto na educação brasileira ocorreu logo após o final da Revolução de 1930. Naquele período, Rodrigo Melo Franco de Andrade, que à época presidia o então Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan), órgão precursor do Iphan, indicou Lucio Costa para assumir a direção da Escola Nacional de Belas Artes (ENBA). Com carta branca, o arquiteto foi o responsável pela reforma do ensino da ENBA, o que alterou profundamente o percurso das artes plásticas e da Arquitetura no Brasil.
Ao romper com o movimento neocolonial, com o qual estava comprometido até então, o mestre renova o ensino e traz para a ENBA novos colaboradores. Entre eles estavam arquitetos e artistas do recente movimento moderno, como Affonso Eduardo Reidy, Alexander Buddeus, Warchavchik e Leo Putz.
Ainda como diretor da ENBA, Lucio Costa promoveu, em 1931, a 38ª Exposição de Belas-Artes, da qual participaram arquitetos e artistas como Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral, Cícero Dias, Guignard, Portinari, Flávio de Carvalho, Warchavchik, Reidy e o próprio Lucio Costa. O evento, conhecido também como o "Salão Revolucionário", fez projetar e legitimar os participantes e o movimento artístico que eles iniciaram nove anos antes, em São Paulo, na Semana de Arte Moderna de 1922.
Em matéria no Jornal O Globo de 1931, cujo título é “Que se salve, ao menos, a arte no Brasil!”, é possível saber sobre a importância de Lucio Costa para a Escola Nacional de Belas Artes: “Indiscutivelmente, a rápida passagem do sr. Lucio Costa encheu a Escola de uma mentalidade moderna, digna dos maiores louvores. Em torno dele se agruparam figuras de grande relevo nas artes. Enquanto a congregação procurou, por todos os meios, afastá-lo.”
No mesmo texto há o seguinte depoimento do pintor Cândido Portinari:
“Nós vivíamos, em matéria de arte, no mais deprimente atraso. Quem cotejasse a situação do Brasil com as das outras nações, mesmo as sul-americanas, teria que reconhecer que o nosso país arrastava uma mentalidade de cem anos atrás. Lucio Costa, espírito brilhante, compreendeu a necessidade de atualizar a nossa cultura artística.”
Lucio Costa é até hoje referência para o ensino de Arquitetura e Urbanismo no Brasil. Segundo o pesquisador Caio Nogueira Cordeiro, em sua tese A Reforma Lucio Costa e o ensino da Arquitetura e do Urbanismo: da Escola Nacional de Belas Artes à Faculdade Nacional de Arquitetura (1931- 1945), a proposta apresentada para a ENBA introduzia o Urbanismo como disciplina, dando início ao processo de criação do curso de Arquitetura independente do ensino de Belas Artes. A separação ocorre finalmente em 1945, com a fundação da Faculdade Nacional de Arquitetura (FNA) da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro.
É devido a essa trajetória marcante que o arquiteto nomeia o Centro Lucio Costa, unidade especial do Iphan, que tem como missão a formação, pesquisa e difusão do conhecimento na área do Patrimônio Cultural.