Patrimônio Arqueológico
Em Roraima, atualmente, há centenas de sítios arqueológicos conhecidos pelo IPHAN, muitos deles já cadastrados no Sistema Integrado de Conhecimento e Gestão – SICG, banco de dados utilizado pelo Iphan, onde são inseridas informações relativas aos sítios arqueológicos identificados (substitui o CNSA). Entretanto, ainda há uma grande quantidade de sítios arqueológicos com suas respectivas localizações imprecisas ou desconhecidas, motivo pelo qual são desenvolvidos projetos de recadastramento/georreferenciamento e sinalização. Essas ações, além de assegurarem uma maior precisão às informações dos sítios já conhecidos, contribuem para que novos sítios sejam identificados e, assim, cadastrados.
Os sítios arqueológicos chegam ao conhecimento do IPHAN através da própria comunidade, especialmente das comunidades indígenas, e também através dos projetos ligados ao Licenciamento Ambiental.
As datações arqueológicas obtidas para o estado remontam ao período pré-colonial e também histórico, como é o caso dos seguintes sítios: Sítio Arara Vermelha/Pedra do Sol 9.400 anos A.P.1 (São Luiz do Anauá-RR), Sítio Pedra Pintada 4.000 anos A.P. (Pacaraima-RR), Ruínas do Forte São Joaquim do Rio Branco de 1775 (Bonfim-RR).
Dentre os diversos sítios do estado, apresentamos alguns:
O Sítio Arara Vermelha, também conhecido como Pedra do Sol, é um abrigo sob rocha com um conjunto diversificado de gravuras rupestres (marcas realizadas por pessoas nas superfícies das rochas através da retirada de matéria rochosa, usando ferramentas de “pedra”) com predominância de temáticas abstrato-geométricas, e em menores quantidades zoomorfos (formas de animais) e antropomorfos (formas humanas). O sítio é um importante caso de estudo para a arqueologia amazônica por ser um dos poucos contextos conhecidos na região onde há gravuras em abrigo, associadas a um depósito sedimentar com alto potencial arqueológico e bem preservado.
O Sítio Pedra Pintada, talvez o mais conhecido e simbólico do estado, localiza-se na Terra Indígena de São Marcos (Médio São Marcos), e trata-se de um grande bloco de granito com uma caverna na base, tendo três grandes áreas com pinturas: área da caverna, painel principal e “Mesa de Pedra”. Este último está em lugar de difícil acesso, numa região considerada emblemática pelo eco que produz em outras áreas do sítio, e tem o nome local de “Pedra do Sacrifício”. As inscrições rupestres têm formas geométricas (círculos, retângulos, linhas retas contínuas, pontilhadas, ziguezagueadas, etc.) e supõe-se que algumas pinturas teriam sido realizadas com ajuda de escadas ou andaimes improvisados, pois estão a mais de 10 m do solo. Escavações realizadas na década de 1980 identificaram fragmentos cerâmicos, líticos (de “pedra”), restos de alimentação (peixes, animais silvestres, aves, conchas), objetos de adorno (contas e pendentes), sementes, restos de trançado e cestaria, vestígios de hematita (óxido de ferro utilizado para pintura) e sepultamento. O local ainda hoje é considerado sagrado para os indígenas da região.
O conjunto das Ruínas do Forte São Joaquim do Rio Branco é o único bem tombado em nível federal no Estado de Roraima, e é também um bem arqueológico do
período histórico. Instalado em uma posição estratégica, bem na confluência dos rios Uraricoera e Tacutu, formadores do rio Branco, representa a conquista do extremo norte brasileiro pelos portugueses no século XVIII, o domínio do principal curso fluvial da região, e também era por esse caminho que faziam o fornecimento dos indígenas escravizados. O Forte foi construído pelo alemão Phelippe Frederico Stürm, com mão de obra indígena. Ao redor do Forte surgiram os primeiros aldeamentos - dentre eles o de Nossa Senhora do Carmo (futura cidade de Boa Vista) -, nos quais havia cerca de 1019 indígenas das etnias Paraviana, Wapixana, Sapará, Atruarí, Tapicarí, Uaiumará, Amaripa, Pauxianá.
Há diversos sítios cadastrados na capital Boa Vista, inclusive no contexto urbano, dentre eles, destacamos:
O Sítio Iate Clube Boa Vista localiza-se nas instalações do Clube Náutico de mesmo nome, e foi evidenciado durante a construção da piscina na década de 1980, quando foram encontrados vários recipientes, alguns com ossos humanos e contas de colar de vidro, sendo então realizadas escavações arqueológicas. Os materiais provenientes das coletas superficiais e das intervenções pertencem à fase Rupununi, sendo fragmentos de cerâmica, lâminas de machado lítico polidas, contas de colar de vidro e faianças, que hoje se encontram no Museu Integrado de Roraima-MIRR/SECULT.
1 Antes do Presente (A.P.), sendo presente considerado o ano de 1950.
Produzido por Rafaela Regina Pascuti Leal – Arqueóloga IPHAN-RR