Patrimônio Imaterial
Modo de Fazer a Viola de Cocho: O Modo de Fazer a Viola de Cocho é um saber que pode ser encontrado tanto em Mato Grosso como em Mato Grosso do Sul e foi registrado, pelo Iphan, no Livro dos Saberes, em 2005. O encaminhamento do registro sugeriu que as fronteiras fossem redefinidas em termos ecológicos: “baixada cuiabana e adjacências”. Os principais produtores do bem cultural são os mestres artesãos de viola de cocho, cururueiros e siririeiros, responsáveis pelo complexo musical-poético-coreográfico de rezas cantadas, toadas e danças durante as festas de santos. O cururu é uma dança de caráter religioso com a participação de homens, que tem a viola de cocho e o ganzá como elementos centrais da roda de cururu e rezas cantadas. Os instrumentos, na maioria das vezes, são tocados por homens que improvisam toadas em tons de desafio, rememorando a vida dos santos e santas católicos. O siriri é dançado aos pares, em roda e fileiras, ao som de reco-reco, viola de cocho e tambor. Nele é comum a participação de homens, mulheres e criança.
O nome viola de cocho deve-se à técnica de escavação da caixa de ressonância do instrumento musical em uma tora de madeira inteiriça, mesma técnica utilizada na fabricação de cochos (recipientes em que é depositado o alimento para o gado). Nesse cocho, talhado no formato de viola, são afixados um tampo e, em seguida, as partes que caracterizam o instrumento, como cavalete, espelho, rastilho e cravelhas. Tradicionalmente as espécies vegetais usadas na confecção da viola são a ximbuva, o sarã-de-leite e a figueira. Atualmente outras madeiras são utilizadas pelos artesãos como mangueira, seriguela, cajá manga e cajazinho. Além da viola, outros instrumentos musicais com o mocho (tambor) e o ganzá (reco-reco de taboca) integram as manifestações festivo-religiosas que acontecem na região da Baixada Cuiabana.
Em 2020, a Superintendência do Iphan do Mato Grosso criou uma página no Instagran, alocada no sítio do Instituto, destinada à divulgação dos produtos confeccionados pelos mestres artesãos de Viola de Cocho (@violadecochopatrimoniomt). A ação de salvaguarda que faz parte da Campanha “Conectando patrimônios: redes de sabores e artes”. Em 2021, o Modo de Fazer Viola de Cocho do Mato Grosso teve seu título de Patrimônio Cultural do Brasil revalidado conforme a Resolução nº 5, de 12 de julho de 2019.
Ritual Yaokwa do Povo Enawene Nawe: Outro bem cultural imaterial registrado pelo Iphan no Mato Grosso em 2010, é o Ritual Yaokwa do Povo Enawene Nawe, que possui duração de aproximadamente sete meses de intensa atividade ritualística de trabalho, dedicação e disciplina. Inscrito no Livro das Celebrações, as etapas do ritual incluem a preparação das roças de milho e mandioca, confecção das armadilhas de pescas (barragens), pesca e preparo dos peixes, cantos e danças. O Ritual Yaokwa é considerado a principal cerimônia do complexo calendário ritual dos Enawene Nawe, povo indígena de língua Aruak, cujo território tradicional e Terra Indígena (TI) compreendem os municípios de Juína, Sapezal, Comodo e Brasnorte, localizados na região noroeste do estado de Mato Grosso. Na época do registro os enawene nawe habitavam uma única aldeia denominada Halataikwa, localizada no município de Juína. Em 2020, o grupo se desmembrou formando uma segunda aldeia no município de Sapezal, denominada Kolinakwa. O ritual que antes era celebrado em uma única aldeia, hoje acontece nas duas localidades. Em 2021, o grupo que permaneceu na aldeia Halataikwa, em uso há 20 anos, mudou-se para uma nova aldeia, nas proximidades, denominada Kotakowiñakwa/Doloikwa. Atualmente a população enawnene nawe é formada aproximadamente por mil pessoas, que vivem nas duas aldeias.
Bonecas karajá: As práticas tradicionais referentes às bonecas Karajá – Ritxòkò (na fala feminina) e ritxoo (na fala masculina) – foram reconhecidas como Patrimônio Cultural do Brasil em um duplo registro: no Livro dos Saberes, como culturais “Saberes e Práticas Associados aos Modos de Fazer Bonecas Karajá” e no Livro das Formas de Expressão, como “Rtixòkò: Expressão Artística e Cosmológica do Povo Karajá”. A incidência do bem cultural ocorre no território da Ilha do Bananal, região que abrange os estados de Goiás, Mato Grosso, Pará e Tocantins. No Mato Grosso, a maior concentração de aldeias está nos municípios de Santa Terezinha, Luciara e São Félix do Araguaia. Desde o registro, no ano de 2012, a salvaguarda deste bem cultural desenvolveu-se precipuamente a partir de ações realizadas pelas Superintendências do Iphan nos quatro estados, e da mobilização social dos detentores indígenas diante da relevância patrimonial de suas práticas tradicionais.
Capoeira: Os bens culturais – roda de capoeira e ofício dos mestres – expressam a história de resistência negra no Brasil, durante e após a escravidão. Seus reconhecimentos como patrimônio cultural demarcam a conscientização sobre o valor da herança cultural africana. Herança esta que, no passado, foi reprimida e discriminada. Inclusive, com práticas – como a roda de capoeira – oficialmente criminalizadas durante um período da história do Brasil.A partir do reconhecimento oficial das práticas e saberes relacionados à Capoeira, em 2008, foram elaboradas estratégias para promover, inicialmente em nível federal e, posteriormente de forma descentralizada, sua salvaguarda. Em 2012, a Superintendência do Iphan no Mato Grosso promoveu uma série de ações com foco à mobilização e difusão da prática no estado, entre elas, a do Fórum da Capoeira.