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OBRAS IPHAN
Restauro do Edifício Docas de Santos, no centro do Rio (RJ), revela pinturas artísticas
Restauro da fachada e das pinturas decorativas internas destacam-se entre as intervenções. Créditos: Daniela Reis
Nesta terça-feira (25), alunos de Arquitetura e Urbanismo da U niversidade F ederal F luminense (UFF) visitaram as obras do Edifício Docas de Santos, que abriga a superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no Rio de Janeiro (RJ) . Desde dezembro de 2019, o edifício conhecido como RB46 está passando pela maior restauração de seus 11 5 anos de história.
A visita permitiu a apreciação das pinturas artísticas e decorativas, atribuídas aos artistas Del Bosco e Benno Traidler . Encobertas por camadas de tinta branca desde a década de 1960, as obras de arte foram reveladas após decapagem e reintegração cromática. O restauro das pinturas e de outros elementos artísticos valoriza ainda mais a exuberante ornamentação do imóvel .
“A visita ajuda a pensar nos critério s de uma restauração , que não é propor uma intervenção de qualquer forma. Sou muito apaixonada por prédios históricos e sempre gostei de patrimônio, então foi uma ótima oportunidade”, celebra a graduanda Thayse Pires da UFF.
Outr a melhoria que se destaca é a conservação da fachada, já concluída. Foi resgatad o o tom ocre da edificação , que h á décadas estava escurecida pela fuligem .
A lém disso, a s intervenções incluem a restauração dos bens móveis integrados, da cobertura e de todas as esquadrias, pisos e paredes. Contemplam ainda as adaptações para tornar os ambientes acessíveis , para renovar a rede elétric a e para implementar um sistema de segurança com circuito fechado de TV.
“É muito surpreendente para mim voltar a esse prédio e ver o restauro. Já foram feitas outras restaurações, mas essa deu um salto qualitativo na recuperação das feições originais do prédio. É um importante resgate da arquitetura eclética do Rio de Janeiro”, avalia José Pessoa, professor da UFF e antigo superintendente do Iphan-RJ.
O Fundo de Defesa de Direitos Difusos (FDD), do Ministério da Justiça e Segurança Pública, investe cerca de R$ 13 milhões nas intervenções.
O último dos comerciais de porte leve
Quando o edifício começou a ser construído, os carros eram raros na avenida e os pedestres caminhavam pela via vestidos a rigor: homens portavam fraque e cartola, enquanto as mulheres trajavam chapéus e vestidos longos. Mais de um século depois, a moda se transformou e o fluxo de carros aumentou em grande medida. Atualmente, o RB46 testemunha a agitação urbana contemporânea e ecoa o apito do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) que, com regularidade, atravessa o trecho da rua em frente ao monumento.
Inaugurado em 1908 n a então Avenida Central, atual Rio Branco, o Docas mantém-se erguido por mais de um século. É um dos poucos remanescentes da abertura da avenida, no início do século XX, e o último dos imóveis comerciais de porte leve. Grande parte dos materiais que dão forma às paredes, escadarias, corrim ão s e maçanetas do imóvel partiram da Europa e atravessaram o Oceano Atlântico antes de desembarcar na costa carioca. De estilo eclético, o imóvel foi projetado pelo engenheiro paulista Ramos de Azevedo e const ruído pela empresa Antonio Januzzi , Filho & Companhia.
Foi edificad o para ser a sede da Companhia Docas de Santos, empresa que administrava o Porto de Santos. O prédio com pisos em mármore de Carrara, é decorado com temática marítima: referência à vocação naval da companhia de propriedade d os Guinle , uma das mais abastadas famílias da época .
Os salões e os adornos a todo o momento trazem o mar para dentro da edificação. Na fachada, em cantaria e argamassa pigmentada, podem ser notadas proas de navios e gárgulas decorando os andares superiores. O minucioso trabalho de entalhe de madeira nas portas também remete às navegações. As alegorias míticas evocadas por esses elementos resgatam o período em que o comércio marítimo conduzia a exportação do café brasileiro para o mundo.
O imóvel dispõe de cinco pavimentos, com duas lojas no térreo dotadas de vitrines em cristal. Internamente, a estrutura é de ferro fundido, inclusive a escada que perpassa os cinco pisos e que contorna o elevador da época da inauguração. Um dos primeiros a ser instalado no Rio de Janeiro, o elevador ainda funciona e foi restaurado .
O tombamento da edificação ocorreu em 1978, quando foi inscrita nos Livros do Tombo Histórico e das Belas Artes do Iphan . Oito anos depois, em 1986, tornou-se sede da Fundação Pró-Memória, que em conjunto com o então Sphan (Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) , deu origem ao Iphan. Atualmente, o Instituto é uma a utarquia f ederal vinculada ao Ministério d a Cultura .
Durante as obras, o Iphan-RJ foi transferido para o Centro Cultural Paço Imperial , localizad o na Praça XV , no Centro do Rio de Janeiro . Documentos direcionados à s uperintendência devem ser encaminhados ao endereço eletrônico protocolo.rj@iphan.gov.br ou ao novo Protocolo Digital do I phan .
Recursos do FDD
Coordenado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, o FDD reúne recursos provenientes de condenações judiciais, multas e indenizações para a reparação de danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.
Entendidos como reparação à ordem econômica e outros interesses difusos e coletivos, esses valores são destinados a projetos de órgãos públicos e entidades civis, selecionados a partir de decisão do Conselho Federal Gestor do Fundo de Defesa de Direitos Difusos.
A lém do Docas de Santos, no Rio o s recursos foram destinados a alguns monumentos tombados pelo Iphan, como o Museu Histórico Nacional, o Museu Nacional de Belas Artes e a Casa de Rui Barbosa .
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Daniela Reis -
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