Notícias
PATRIMÔNIO MATERIAL
Publicado aviso de tombamento definitivo do acervo de Bispo do Rosário
Manto da Apresentação é considerado a mais bem elaborada síntese mental e visual da obra do artista. Créditos: Acervo Iphan.
Foi publicado o Edital de Comunicação do Tombamento Definitivo do acervo de Arthur Bispo do Rosário, em abril deste ano. O documento visa dar publicidade ao tombamento definitivo do bem . Por unanimidade, o Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural reconheceu o acervo de Arthur Bispo do Rosário como Patrimônio Cultural Brasileiro, em 2018 . Essa decisão garantiu a proteção, então provisória, ao bem em razão de seu elevado valor artístico. Já a proteção definitiva passou a valer em 2022, com a inscrição no Livro do Tombo das Belas Artes do Iphan, que agora foi p ublicamente anunciada.
O a cervo de Arthur Bispo do Rosário é formado por 805 peças, como estandartes, indumentárias, vitrines, fichários, móveis e objetos diverso s . As peças foram elaboradas em materiais variados : vidro, madeira, plástico, tecidos, linhas, botões, gesso, e outros itens recolhidos do lixo e da sucata .
Com uma vida repleta de mistérios, o sergipano Arthur Bispo do Rosário ganhou destaque sem intenção no universo da arte contemporânea. As obras, de autoria do artista d iagnosticado como portador de esquizofrenia-paranoide , não foram produzidas para fins culturais. Uma vez acolhidas pela crítica especializada, as peças geraram debates sobre os limites entre arte e transtornos mentais.
As obras mais famosas são as confeccionadas em tecido, como o Manto da Apresentação , considerado pela crítica como a mais bem elaborada síntese mental e visual da obra do artista . Destacam-se també m as faixas de misses e os fardões. As peças c hamam atenção pela maestria no uso d e agulha e linha. Os bordados trazem temáticas variadas, entre eles os navios, recorrentes devido à relação de Bispo do Rosário com a Marinha na juventude.
A coleção Museu Bispo do Rosário de Arte Contemporânea fica no Complexo Instituto Municipal de Assistência à Saúde Juliano Moreira, situado à Estrada Rodrigues Caldas nº 3.400, Edifício Sede, no bairro de Jacarepaguá, na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro (RJ) . O pedido de tombamento partiu d esse Instituto , qu e enviou ao Iphan correspondência do Museu dedicado ao artista .
O chamado
Dias antes do Natal de 1938, Bispo do Rosário ouviu vozes que o guiaram à Igreja da Candelária e ao Morro de São Bento
, n
a capital fluminense
. Segundo as vozes ele era um enviado do Todo-Poderoso, responsável por julgar os vivos e os mortos
,
e chamado a cumprir uma missão: “Vozes me dizem para me trancar em um quarto e começar a reconstruir o mundo”, dizia
o artista
. Ele foi internado primeiro no Hospital Nacional dos Alienados, e dali foi transferido para a Colônia Juliano Moreira, onde viveu a maior parte dos 50 anos seguintes até falecer, em 5 de julho de 1989.
Todas as obras da coleção fazem parte de sua recriação de mundo, o inventário que vozes celestiais que somente sua mente ouvia o mandaram executar. O artista t ransform ou o lugar de confinamento em oficina de trabalho e fez a matéria-prima de sua prática criativa com e lementos banais do cotidiano. Quando não dispunha do novelo, extraía as linhas azuis dos uniformes do manic ô mio, desfiando para depois bordar sobre os lençóis dele e de outros pacientes . Madeiras de caixas de feiras, cabos de vassouras e rodos de limpeza eram usados nos suportes e estruturas de suas vitrines.
E m 1980 , uma reportagem televisiva revelou Bispo do Rosário. O jornalista Samuel Wainer denunciou as condições de precariedade a que eram submetidos os pacientes confinados no contexto asilar e psiquiátrico da época. Desde então , o interesse pelo artista mobilizou estudiosos de diferentes domínios do conhecimento. Críticos classificaram suas peças como arte vanguardista, comparando seus objetos à obra de Marcel Duchamp, artista ligado ao movimento Dadá.
Hoje, as quase mil criações de Bispo do Rosário têm lugar na história da arte contemporânea brasileira. P raticamente todos os anos, suas obras participam de alguma exposição em algum lugar do Brasil ou do mundo . V ida e obra do artista deram origem a filmes, livros e teses.
Tombamento
Desde 1994, a
coleção
também é tombada
pelo estado do Rio de Janeiro
,
via
Instituto Estadual do Patrimônio Cultural
(Inepac)
.
O tombamento é um dos dispositivos legais que o poder público federal, estadual e municipal dispõe para preservar a memória nacional. Com esse i
nstrumento
,
reconhece e protege
o Patrimônio Cultural, de modo a preservá-lo para as próximas gerações.
São contemplados pelo tombamento os bens móveis e imóveis existentes no país e que tenham valor histórico, arqueológico
,
etnográfico,
paisagístico,
bibliográfico ou artístico.
Os bens contemplados pelo tombamento federal
passam a ser submetidos à fiscalização do Iphan, que verifica as condições de conservação. As intervenções nesses bens
precisam ser previamente autorizadas pel
o Instituto, autarquia federal vinculada ao Ministério da Cultura
. A responsabilidade pela conservação, uso e gestão do bem continua a ser do proprietário.
Mais informações para a imprensa
Assessoria de Comunicação Iphan
comunicacao@iphan.gov.br
www.iphan.gov.br
www.facebook.com/IphanGovBr
|
www.twitter.com/IphanGovBr
www.youtube.com/IphanGovBr