Notícias
PRÊMIO RODRIGO 2022
Projeto Coco de Alagoas enaltece a memória de prática cultural ancestral
A websérie "Cocos de Alagoas" é um dos frutos do projeto. As gravações foram feitas com detentores. (Fotos: Acervo do projeto)
Desde tempos imemoriais , brincantes celebram o Coco de Alagoas , seja em dias de festa ou como trilha sonora para a labuta d iária . O C oco é uma brincadeira levada a sério : cantadores e cantadoras entoam as canções, o ritmo é marcado por batidas no próprio corpo ou i nstrumentos musicais , e , eventualmente, dançarinos acompanham em roda ou com passos de valsa. Vencedor do Prêmio Rodrigo 2022 na Categoria 1 - Pessoas Físicas, o projeto Coco de Alagoas promove a memória d est e patrimônio imaterial .
Ao longo de oito meses, uma equipe multidisciplinar mapeou e identific ou cantadores e cantadoras de Coco atuantes na região do Baixo São Francisco (AL) . Um dos frutos desse trabalho é a w ebsérie Cocos de Alagoas , composta por 10 episódios, e disponível em diversos canais de divulgação. As gravações aconteceram com detentores das cidades de Pão de Açúcar, Piaçabuçu e na comunidade Indígena Kariri-Xocó , em Porto Real do Colégio (AL).
“O registro feito pelo projeto é muito importante, pois valoriza e fomenta a arte e o conhecimento daqueles que dão continuidade à brincadeira do Coco, preserva ndo esse bem cultural como memória viva e presente que faz parte da nossa identidade cultural” , reflete um a das coordenadoras e pesquisadoras do p rojeto , Nicolle Malta Pontes Freire .
A websérie nos apresenta à Mestra Dilma dos Santos, que se define como “ alguém nascida e criada na cultura ” . E a o Mestre Aelmo dos Santos, que se emociona após cantar uma música na gravação. Filho de um dos cantadores mais conhecidos da região, o mestre conta que , após a morte do pai , a mãe passou a lhe ensinar as músicas. “Cada dia que eu ouvia aquilo tocava dentro de mim porque era tradição, era uma coisa que eu não podia deixar morrer , porque era de meu pai. A gente brincando descobriu que aquilo ali era coisa bonita e que a gente não podia deixar aquilo se acabar”, rememora.
A Mestra Gracinha de Bamba também atua para dar continuidade a esse patrimônio que conheceu com a família. Já o Mestre Laércio de Bamba , que ostenta uma voz grave e potente, de mo n str a todas a variantes do Coco marcando o ritmo com os pés : é a famosa pisad a . Esses e outros relatos compõem um banco de dados com depoimentos, histórias e cantorias recolhidas com mestres e mestras de Coco .
O projeto também realizou rodas de conversa e apresentações para valorizar e difundir os trabalhos d os detentores . Cri ado a partir de uma abordagem pedagógica, o material supre uma lacuna de conteúdos sobre a cultura popular do Coco para a formação de crianças e jovens nas escolas de Alagoas . Os jovens que descobrem o Coco de Alagoas se apaixonam. O Mestre José Salvador de Medeiros , que já levou essa prática cultural para presídios e clí nicas psiqui átric as , hoje t em um grupo de C oco formado por crianças : o Povoado do Pontal do Peba. Cobrindo a outra ponta da vida, o Mestre Alex dos Santos , sempre acompanhado pelo seu tambor , mant ém um grupo de C oco de roda com idosos.
Segundo pesquisas e relatos orais, o Coco teria surgido no Quilombo dos Palmares . Com o passar do tempo , expandiu-se para todo o Nordeste nas mais diversas formas : Coco de roda, pagode de Coco, E mbolada, Coco de tapagem, e ntre outras . Às margens do rio São Francisco, o Mestre Cícero Lino dedica uma música ao próprio Velho Chico , por onde navegaram detentores que difundiriam a prática pela região . Co m raízes nas camadas economicamente menos favorecidas , aos poucos essa expressão cultural ganhou popularidade . Quando os segmentos sociais mais abastados assimilaram seus ritmos, o Coco chegou a os salões das oligarquias alagoanas e incorpor ou características de danças de salão, como a quadrilha.
Se por um lado “ o C oco é uma celebração da vida” , como define o Mestre Jurandir Bozo, por outro , é música que embala o trabalho. Na comunidade indígena K ariri- X ocó , o Coco assume o nome de “r ojão ” e funciona como um chamado: as famílias na lida da agricultura cantam para c onvoc ar outras família s a ajudar. Quando a labuta se encerra, o r ojão continua . C antadoras da comunidade , Iara Suíra , Iracema Suíra , Islaynne Pires e Isabel Suíra se envolveram a tal ponto com a prática que criaram um a variedade própria: o marac á .
A força das mulheres na salvaguarda do bem também perpassa o discurso da Mestra Linete Matias . Dona de um agu d o bonito e poderoso , ela canta sorrindo ao som do pandeiro. “Eu me reconheço mais brincante de c oco do que como c a ntadora de C oco . Talvez seja por conta do machismo: do excesso de homens e da falta de mulheres . Apesar de eu estar aqui por conta das mulheres, essas mulheres estavam em outro lugar, elas não estavam no palco. Muito d epois eu fui conhec er as mestras de Pernambuco e percebi a força das mulheres no palco ” . A o refletir sobre a importância de manter essa rica tradição cultural , Linete sintetiza: “Rápido ou devagar, que continuemos!”.
Realizado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o Prêmio Rodrigo tem como objetivo valorizar e promover ações que atuam na preservação dos bens culturais do Brasil. Em 2022, teve como tema a Sustentabilidade Socioeconômica do Patrimônio Cultural e foram escolhidos 10 projetos vencedores.
Assessoria de Comunicação Iphan
comunicacao@iphan.gov.br
Daniela Reis -
daniela.reis@iphan.gov.br
www.gov.br/iphan
www.instagram.com/iphangovbr/
www.facebook.com/IphanGovBr
|
www.twitter.com/IphanGovBr
www.youtube.com/IphanGovBr